IX

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Alex

Eu já estava de saco cheio: literalmente!

Em um intervalo de menos de 48 horas perdi as contas de quantas vezes fiquei a ponto de estourar, e nada....

Liz conseguia me deixar maluco sem nem me tocar, sem me olhar, só aquele sorriso, aqueles lábios, aquele perfume e a sua respiração já eram suficientes pra mim.

Achei que a viagem seria uma benção e que finalmente poderiamos resolver aquele impasse, mas que grande trouxa era eu, Liz parecia completamente feliz em olhar horas e horas de mato pela janela, no mais perfeito silêncio, no máximo cantarolando as músicas que estavam tocando no rádio do carro.

Quero dizer, eu também curto folk music, mas ela parecia saber todas as letras, e não só isso, balançava a cabeça ao ritmo das músicas e por alguns momentos pareceu sorrir sozinha.

🎶 Aí que mora o perigo, aí que eu caio lindo..🎶
Do nada Henrique e Juliano explodindo na minha cabeça igual saveiro com aquelas caixas de som gigantes.

Meu coração ouvindo a música já lançava uma versão de pagode em dancinha do Tico e Teco, e de vez em quando errava uma batida ou outra.

Como era possível, um simples sorriso fazer tudo isso comigo? Eu não sabia explicar. Não sei se era por ser um dos mais genuínos que eu já tinha visto, ou se era por ver uma faceta nova da Liz que eu achava que conhecia, uma versão mais leve e até delicada dela, que ficava escondida na maior parte do tempo.

De repente, vejo ela desenhando os padrões da chuva na janela, e sem perceber acabo soltando a pergunta que eu venho remoendo a dias. Percebo que o momento estava errado quando ela engasga e começa a ganhar um leve tom de roxo no rosto.

Paro a carro.

Ela respira novamente.

Continuo questionando.

Ela desconversa.

Chego perto o suficiente para ver os padrões nas íris dos olhos dela.

Ela parece aturdida e ansiosa, quase que desejosa.

Vejo os dedos das mãos dela ficando brancos de tanto que ela aperta as laterais do banco, ao mesmo tempo ela está cruzando as pernas com força, num ritmo que eu conheço bem.

Eu sei o que isso significa e preciso fazer um esforço hediondo pra não gargalhar alto, mas por dentro eu estou dançando de novo.

Resolvo provocar ainda mais e solto um "então vamos jogar" e a resposta não podia ser melhor: estupefação, dúvida, compreensão, raiva e tesão represado. Surge uma Liz frustrada, que passa o resto da viagem bufando sem perceber.

Também não estou melhor, e tenho vontade de esganar a mim mesmo, já que consegui elevar os ânimos de tal jeito que parece que vou ter uma síncope a qualquer momento.

Idiota. Tá feliz? Só por que você conseguiu irritar ela? Qual é a graça? Isso te excita?

Meu pau grita: Siiiiiim.

Filha da puta.

Continuo resmungando comigo mesmo e quando vejo já chegamos no destino. Liz me disse que ia pegar um café enquanto eu tento resolver com o pessoal da empresa.

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