III

20 2 8
                                    

É sábado, e o dia está numa vibe bem preguiçosa, um sol tímido, mas que esquenta bem, uma brisa suave movimenta os galhos das árvores frondosas do outro lado da rua em que fica o prédio da empresa.

Elas cercam o parque que rodeia a cidade, e que é muito usado para piqueniques, para festivais de comida e afins.

Sério, já vi até casamentos lá.

As pessoas passam correndo sozinhas, acompanhadas de seus parceiros, parceiras e pets.

Enquanto isso, eu estou me munindo de mais um café a moda mineira, pra completar o combo só faltava um doce de leite pra ir bem com o pão de queijo.

Por ser fim de semana, estou em trajes casuais, um shorts jeans, camiseta da Disney e uma sandália de tiras nos pés.

Obrigada Dalila pelas unhas bem feitas.
Se não fosse ela eu não teria a audácia de usar sandálias.

Meu cabelo estava preso num coque frouxo, e não tinha me preocupado muito em passar muita maquiagem, só um protetor solar com base, rimel (que não sabia ficar sem) uma sombra leve nos cantos pra alongar o olhar, blush, e um lip tint pra dar cor aos lábios.

Quem tivesse muuuuuuito sem ter o que fazer com certeza veria as olheiras marcadas sob meus olhos.

Eu não gostava de admitir, mas aquilo estava me afetando mais do que eu gostaria, e olha que já havia se passado 1 mês.

Will tinha tentado umas graças de mandar mensagens exigindo que eu fosse fazer "entregas" no departamento dele, das mais variadas coisas, sob pretexto de tentar puxar assunto, porém na terceira tentativa, já mandei um: "Eu não sou do almoxarifado, nem sua secretária, se quiser algo faça o favor de ir buscar ou pedir pra outra pessoa".

Acabei me exasperando e me exaltando?

Siiiiiimm.

Falei na frente de todo mundo?

Siiiiimmm.

Corri o risco de ser demitida?
Talvez, mas a essa altura isso já tava me irritando demais.

Pelo menos agora aquele imbecil tinha parado com aquela porra.

Enquanto isso eu fazia meu melhor pra continuar trabalhando nos produtos que tínhamos, e em novas estratégias para divulgação do nosso novo produto: um perfume para cabelo com partículas de glitter, estilo iluminador mesmo.

Estávamos no processo de gravar os comerciais e as campanhas, e eu estava finalizando o conceito, por isso acabei precisando ir trabalhar no sábado.

Já estava nessa há um tempinho, completamente absorta no padrão de cores que eu estava tentando harmonizar por querer evidenciar cada cor de cabelo e pele das modelos fabulosas da campanha, e nem notei a noite começar a chegar.

- Será que você... Poderia parar... de fazer... isso? - A voz rouca e profunda quase me derruba da cadeira.

Não só pela profundidade, mas por:

1 - Eu não sabia que tinha mais alguém aqui;

2 - Não ouvi ninguém andando no departamento (tudo bem que eu estava de fone, mas a música estava bem baixinha, e era um fone só);

3 - A voz, estava MUITO, mas MUITO PERTO!
Virei a cadeira no susto, me levantando ao mesmo tempo, certa de que era algum doido, ou pior, Will, embora não me lembrava da voz dele ser assim, e acabei enroscando o pé na cadeira e dando uma cabeçada em quem quer que falou comigo.

A pancada foi seca e eu escutei só um gemido e um: PUTA QUE P@RIU!!!!

Minha cabeça estava latejando e quando eu tirei a mão do galo que estava se formando vi sangue nos dedos.

Sabe de nada...Onde histórias criam vida. Descubra agora