XXIII

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Alex

As primeiras noites após aquela maldita ligação foram absolutamente infernais.

Liz me provocava em sonhos, com os mais diferentes tipos de roupas, acessórios e minha imaginação não me ajudava em nada. Todas as vezes que eu abria minhas redes sociais, alguma coisa por mais mínima que fosse me trazia lembranças dela.

Por esse motivo, além de bloquear ela em todas as redes, acabei desativando minhas contas por alguns dias, o que fez a Júlia me acordar num sábado cedo na base do chute na porta, ela literalmente danificou a porta, não chegou a quebrar, mas as marcas do coturno dela não sairiam tão facilmente, ela entrou me chamando de arrombado pra baixo, gritando comigo numa voz estridente, que eu já sabia que era a voz que ela usava quando estava extremamente preocupada com alguém.

Depois de gritar comigo por mais alguns minutos, dando mais uns chutes no sofá, ela conseguiu elaborar as coisas:

- Puta que pariu Alex, quer me foder? Me compra flores! Faz dois dias que eu estou tentando falar com você, e você não responde, entro nas suas redes tudo desativado, suas irmãs também não conseguem falar com você, o que ta acontecendo?

Olho para meu celular e percebo que estou também sem rede de celular.

- Não sei não, achei que tava tudo certo, mas acho que deu ruim no meu número.

Ela arranca o celular da minha mão e depois de fuçar por alguns minutos, descobre que meu chip estava com problemas. Depois de receber um tabefe na cabeça, ela me faz trocar de roupas e saímos em busca de uma loja da minha operadora de celular para resolver a situação.

Resumo da ópera: aproveitei a ocasião para mudar meu número.

Avisei toda a equipe, pedi para fazer uma nova remessa de cartões de visita, coisa padrão. Depois de resolver esses pormenores, eu e Júlia fomos até a praça de alimentação para tomar sorvete.

- Alex, você está bem? - Pergunta ela entre colheradas de chocolate e côco.

- Defina o que é estar bem?

Júlia revira os olhos pra mim e suspira fundo, mas ao fazer isso acaba engasgando com os pedaços de côco e sou agraciado com a visão dela tossindo igual à uma velha fumante de 80 anos. O rosto vermelho, e as risadas vieram em seguida, e por fim eu acabei rindo junto com ela.

- Sério... V-você tá bem a-arromb - Tosse - ado?

- Júlia toma uma água primeiro vai. - Ela mostra o dedo do meio pra mim. - Bem é algo relativo, não sinto que vou morrer, não sinto que meu mundo simplesmente foi destruído, nem nada disso. É mais um vazio inexplicável, uma saudade que não vai embora, e as lembranças constantes que judiam de mim.

Ela me olha com uma cara de incerteza.

- Mas, não se preocupa, eu vou ficar bem. Essas coisas passam, e apesar de ser uma merda, o fato de ela não estar aqui vai ajudar muito. Seria muito pior se fosse um término com ela aqui, trabalhando comigo, e a gente se vendo diariamente.

- Isso é verdade. Ao mesmo tempo eu acho meio bosta, afinal se ela tivesse aqui eu acho que esse término não seria algo tão simples de acontecer.

- Não sei Júlia. Tive uma conversa com a Van e percebi que realmente sou apenas eu o tempo todo, eu me esforçando, eu correndo atrás... Talvez se ela tivesse aqui as coisas fossem diferentes, ou talvez fossem exatamente iguais e até piores. Não acho que vai ser saudável pra mim, ficar imaginando cenários alternativos. Ela não está aqui.

- Nossa... Escutei um KLB tocando agora...

Olho de soslaio pra ela.

- Tá difícil esqueceeerr... tirar você de miiiimmm, nos meus olhos dá pra veeeerrr, seu adeus doendo assiiiimmmm.... Não pensei que esse amor me pudesse machucaaaarrr, e uma lágrima de dor hoje cai do meu olhaarr. Baby.... te vejo tão longe.... de mim tão distante.... além do horizonte... ÉÉÉÉÉhhhhh, baby, eu grito seu nomeeee... saudade responde... ela não está aqui!! - Júlia entoa segurando a colher do sorvete como microfone.

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