Sabe de nada...

XVII

Alex

Ela tinha ido embora...

Eu ainda não conseguia acreditar...

Tá! Eu sei que as coisas estavam estranhas entre a gente, e que eu talvez eu estava perguntando cedo demais sobre coisas que ela ainda não tinha resposta...

Também sei que enquanto eu gostava dela há mais de dois anos, ela tinha me visto como mais que um colega há meses atrás. Não dava para comparar.

Mesmo assim, eu esperava que ela fosse me dizer alguma coisa... Qualquer coisa... Mas, eu já deveria saber que Liz não faria isso, na verdade, seu histórico era sempre de fugir, faltando no serviço, deixando de me responder, saindo de fininho da cama para ficar pelada na beira da piscina sozinha pensando em DST.

Ela parecia um sabonete de tão lisa que era.

Seu silêncio tinha um peso esmagador sobre mim e honestamente eu já estava cansado.

Sei que grande parte da bagunça era minha culpa por cultivar expectativas irreais naquele momento, por acreditar que ela seria capaz de acompanhar meu ritmo. Agora havia mais que uma rua entre a gente, havia um oceano inteiro.

Sendo bem honesto já parecia haver um universo de distância entre a gente a partir da nossa última conversa, ambos resolvemos nos jogar no trabalho e ignorar as reticências que ficaram naquele dia. Quero dizer, embora eu tenha saído apressado, esperava que ela fosse me procurar para falar alguma coisa.

Acreditar que sempre era meu papel, como homem, de corrigir as coisas era no mínimo algo misógino e machista, e além disso, quem estava com a impressão "errada" era eu, então quem deveria corrigir essa situação era ela, certo?

Encaro o teto do meu quarto esperando que as respostas para as perguntas que estou fazendo apareçam magicamente sobre ele. Nah! Nada acontece e chuto o travesseiro da cama.

Eu sei, pareço uma criança fazendo birra! Eu já disse que ela era enfurecedora. Busco um copo de água pra tentar amainar meu estômago que já começa a doer, e percebo que são 3hs da manhã, antes que eu possa me impedir minha cabeça já fez as contas, e sabe que onde ela está são 7 da manhã, e que provavelmente a esse horário ela já estaria acordada ou prestes a levantar. Meus dedos coçam para ligar para ela, mas meu orgulho não me permite e me contento a encarar as portas de vidro do apartamento dela.

Os dias passam e descubro que acordar nesse horário se tornou uma rotina, parece que minha cama criava tachinhas as 3 da manhã e eu tinha que levantar.

Os dias viram meses.

Minhas irmãs tentam de todas as formas me tirar da "fossa" e arrumam todo tipo de encontros "às cegas" para mim. Na verdade, Roberta tinha feito isso antes mesmo de Liz ir embora, enviando uma amiga nossa de infância "ver como eu estava" no dia da confraternização da empresa. Mal sabia ela, que Júlia "da fruta que eu curtia...", por isso quando a vi caímos na risada, e combinamos tirar várias fotos no melhor estilo "casalzinho" só para tirar uma com a cara de Roberta, que era quem Júlia realmente queria "agradar".

Embora soubesse que Roberta era bissexual assumida, ela tinha namorado apenas com homens até ali, inclusive se casou com um. O que causava estranheza para nossa mãe que tinha levado um bom tempo para assimilar que a filha que adorava tratar como se fosse a própria essência da Disney a espera de um príncipe encantado, de repente pudesse fugir com outra princesa.

Hoje o relacionamento das duas era muito bom, Roberta era chef de cozinha, era mãe de Anna e na maior parte do tempo parecia feliz, porém no último ano o relacionamento dela com John não estava indo bem, discutiam o tempo todo e o motivo parecia ser ele, que estava trabalhando em excesso, ou pelo menos era o que dizia que estava fazendo, até minha irmã descobrir que ele a estava traindo com pelo menos mais 2 mulheres do seu trabalho. Ele era piloto de avião.