Eu tinha bloqueado o número do Will, assim mesmo, sem mais nem menos...
Fiz isso sábado pela manhã, quando meus olhos ainda podiam enxergar meu celular sem doer.
Não sou daquelas que fica semanas, meses chorando pelo cara, gosto de pensar que sou prática nessas horas, mas também não vou bancar a fodona e dizer que não doeu, ou que chorei 1 dia e passou.
A gente namorou por um tempo considerável, fizemos planos juntos, viajamos juntos, estivemos lá um do lado do outro nos piores momentos, nos cuidamos quando ficamos doentes...
Ele dormiu no hospital todos os dias quando minha mãe ficou internada para cirurgia de remoção de nódulos no seio, fez questão de comprar as comidas favoritas dela quando ela voltou pra casa, e sempre fez questão de encher de mimos minha irmã de 14 anos, dizendo que ela era sua cúmplice.
Ele deu o Loki de presente pra gente, um enorme husky que passava dias e noites uivando e reclamando, e que mesmo com suas esquisitices era a alegria da casa da minha mãe.
Will me levou pra ver a neve.
Will gostava de ficar por dentro da conchinha, e eu amava dormir sentindo seu cheiro com o nariz colado nas suas costas.
Quando ele saia da cama sempre me envol-
via num casulo de cobertas, e eu acordava descabelada, mas quentinha e feliz.Não curtia cozinhar, mas também sabia se virar, e nos dias mais felizes sempre tinha uma panqueca me esperando.
Will era o cara com quem você sentava na sala, e embora ambos tivessem entretidos com coisas diferentes estávamos juntos, de braços dados, ou encostados um no outro.
Eu amava olhar para ele, ele tinha uma energia magnética que prende seu olhar, no começo do nosso namoro, ele ficava encabulado, e não gostava muito, mas depois acabou acostumando com meu jeito.
Will segurou minha onda muitas vezes...
Foi gentil quando eu não sabia ser.
E me mostrou tantas coisas novas, me deixou com as pernas tremendo milhares de vezes, e sabia tocar meu corpo como se fosse seu instrumento preferido, tirando de mim todo um repertório musical que eu nem sabia que tinha.
Então, por quê?
Qual era o motivo pra tudo aquilo?
Seria uma coisa de momento? Seria algo recorrente?
Onde eu estava falhando nesse relacionamento? A culpa era minha?
Eu simplesmente não conseguia entender.
Conforme as horas passavam muitas coisas passaram na minha cabeça, e o turbilhão de emoções me castigava sem dó.
Não consegui dormir nem comer.
Continuei remoendo tudo, e passando por ondas de raiva, fúria, magoa e tristeza.
Não vi o sábado passar, e acabei acordando as 5 da manhã de domingo, com gritos na minha porta. Provavelmente o cansaço tinha me derrubado em algum momento.
- LIZ? LIZ ABRE A PORTA, ACONTECEU ALGUMA COISA? LIZ? FALA COMIGO!!! POR QUE ME BLOQUEOU? LIIIIIZZZZ, EU VOU ARROMBAR A PORTA. - Escuto empurrões e batidas secas na porta, me levanto do chão e sinto tudo rodar, me apoio na parede e deslizo ao lado da maçaneta.
- Vai embora Will. - Minha voz parece um disco arranhado e parece cortar minha garganta.
-LIZ! Você tá viva! Nossa já tava pensando
mil coisas. Por que me bloqueou, aconteceu alguma coisa?-...
- Liz, por favor fala comigo, por favor, o que houve?
- Vai embora Will.
- Não vou, não vou sair daqui enquanto não falar comigo, me diz o que houve.
- Só vai embora... por favor.... - minha voz falha e as lágrimas começam a cair de novo.
- Você está chorando! O que ta acontecendo, Liz abre a porta, deixa eu te ver, por favor. Se você não abrir eu juro por Deus que vou arrombar.
Me levantei em um pulo e abri a porta, e o choque de me ver ali na porta foi suficiente
pra me dizer que eu estava em um estado deplorável.Assim que me viu Will emudeceu, e juro que foi encolhendo de seu 1,90, diminuindo e diminuindo na minha frente.
Uaaaau! Devo estar bem ruim mesmo.
- Por favor vai embora, ok? - disse passando a mão nos cabelos.
- Mas... eu não sei o q... - Ele se corta ao meio da frase quando percebe meu olhar.
- Eu sei. Eu vi. Então só vai embora, e nunca mais me procura, esquece meu endereço, meu telefone, meu nome, só vai embora.
- Eu não sei o que você viu, mas eu sei que posso... - Diz dando um passo pra perto de mim. Endireito a postura e separo os pés, com um mais a frente do outro.
- Vai embora não gosto de me repetir, se continuar avançando vou acabar perdendo a cabeça.
Nos encaramos por 2 minutos, ele olha pro apartamento, vê os resquícios do choro desenfreado que tive, nota o celular descarregado no chão, o aromatizador de ambientes no canto ligado pra nada...
Percebe as duas garrafas de litrão que eu tinha reservado pra comprar na adega.
- Você bebeu muito? E por isso que está agindo assim?
- Não ingeri uma gota de álcool, até fui comprar bebida na sexta a noite, por volta de umas 21h30 na adega do seu Severino, mas quando virei a esquina...
Conforme fui falando Will foi empalidecen-
do e se recostou na parede do corredor.- Vou repetir pela última vez: vai embora e nunca mais me procure, me esqueça e no trabalho finja que eu nunca existi, você entendeu agora? - minha voz a essa altura se tornou cortante, meu tom quase uma ameaça.
Bati a porta do apartamento e me deixei levar por tudo que estava sentindo.
Como pode alguém ser tão cínico?
Tão patético? Tão ridículo e estúpido?Então escuto aquela voz horrorosa na minha cabeça:
- Honestamente, a única patética aqui é você.
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Sabe de nada...
RomanceComo seria se um dorama tivesse uma pegada BR? Sabe de nada é uma fic sobre o dorama "She should never know". É uma história com pegada BR sobre pegação - leia-se HOT! SINOPSE: Ele foi recrutado por ela quando cursava o último ano da faculdade, e ao...