Sabe de nada...

VIII

Alex estava falando com os operadores da empresa, para verificar o que tinha acontecido na produção e como poderíamos resolver, eu estava comprando cafés na máquina de café próxima ao refeitório.

Ambos estávamos exaustos, não havíamos feito muitas paradas além daquela, e acabamos viajando a noite inteira, que foi regada a muito energético. Claro que poderíamos ter parado em algum hotel para passar a noite e descansar antes de voltar para a estrada, mas Alex não pareceu querer fazer isso, na verdade ele parecia cada vez mais ansioso pra terminar logo aquela viagem.

O que não fazia o menor sentido ainda mais com aquele negócio de "vamos jogar", fato é que depois disso ele se fechou em copas, e passou o resto da viagem resmungando para si mesmo, e me jogando uns olhares sofridos de vez em quando.

Meu alter ego olhava pra mim e erguia os ombros na melhor imitação do meme do john travolta, já que nem eu nem ela estávamos entendo lhufas.

O resultado era claro, Alex estava muito irritado e eu também, e já fazia umas boas 18 horas sem dormir.

A maquiagem que eu tinha passado já tinha derretido e eu precisava urgentemente de um banho, como percebi que Alex não tinha o menor interesse em sair dali tão cedo, entreguei o café dele, engoli o meu e me dirigi ao banheiro para me refrescar, e fazer o melhor que podia.

Lavei o rosto, e percebi que no vestiário feminino tinha chuveiro (Jesas! Tô salva!) Conversei com a supervisora feminina que entendeu minha situação e liberou meu uso do vestiário por meio de um cartão de visitante, então rapidamente me dirigi até a Van peguei minhas coisas e fui tomar um banho. O chuveiro não era aqueeeeelas coisas, muitos furos entupidos resultavam em uma mixaria de água, mas me atendeu muito bem.

Enfiei uma das mudas de roupa que levei, escovei os dentes, renovei a maquiagem e prendi o cabelo num rabo de cavalo alto. Coloquei uns brincos de argola, e um colar pequeno com ponto de luz. Guardei as coisas na Van e fui ao encontro de Alex, que parecia ligado no 220. Sério? Como?

Eu toda destruída e ele mais ligado que o coelhinho da Rayovac.

Quando me aproximei pude ouvi-lo:
- Então, precisamos terminar isso logo e etiquetar esses itens por que essa viagem vai acabar comigo, me ajuda aí cara, por favor!

- Que eu tenho que ver com isso rapaz? Vai acabar como? Se eu tô vendo você de pé vivo aqui?

- Não, veja só, você não está entendendo, eu tô viajando com minha chef-

- E o que tem? Ela tá de Chico? Ou você é frouxo e não dá conta daquela potranca? Egua braba nois amansa na marra...

Me esgueirei pela parede pra ver quem era o tipo que estava conversando com Alex, já imaginando aquele colonão velho, barrigudo, faltando dente, pé rachado e bigode grosso. Mas, me deparei com um pseudomacho rato de academia, usando uma calça jeans mais justa que a minha cheia de rasgo na coxa, uma camisa de flanela com os botões todos esgarçados, as veias saltando nos braços cruzados, botina no pé, um cabelo louro que refletia o sol, olhos azuis, dentes perfeitos, e duas covinhas.

O cara era um gato!

Do nada, maior cuspidão no chão perto das botinas Caterpillar pretas de Alex. Senti a bile subir na minha garganta, e com Alex não foi muito diferente, porém no caso dele, ele tomou outra diretiva: sorriu gelidamente, e se aproximou ainda mais, até ficar bem próximo do cara.

Vi ele sussurrar uma meia dúzia de palavras, mas o efeito foi instantâneo, o cara ficou muito pálido por uns 3 segundos e depois um tom de vermelho começou a se espalhar das orelhas para o pescoço e por fim para o rosto do cara.