Batata e Pimenta

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- Você não acha que está muito tarde para querer brincar agora, mini brócolis? - eu questionei, sentada no meio do seu quarto, a vendo engatinhar até uma pequena prateleira de livros infantis, os quais ficavam perfeitamente sobre a sua altura. 

Ela pegou um, trazendo com um pouco de dificuldade até aonde eu estava, me fazendo rir quando ela jogou tal objeto em minha direção, se sentando e balançando o seu corpo de um lado para o outro, em uma demonstração que queria aquilo, batendo palminhas quase sem som, eufórica por uma história antes de dormir. Eu poderia facilmente esperar Sana sair do banho e fazer tal trabalho, mas eu não me importava, já que eu estava ali, não seria uma tarefa tão difícil, e com esse pensamento, dei um pequeno sorriso, a pegando em meus braços e a deitando em sua cama, me sentando ao seu lado, observando o que ela havia escolhido.

- A pequena seria? É um clássico - admiti, entregando a sua chupeta e verificando o seu cobertor, começando apenas quando a vi confortável e aconchegada o suficiente para que toda a sua atenção fosse para tal história - Era uma vez, uma pequena seria chama Ariel - comecei, mau lendo as primeiras três palavras e achando aquilo entedioso o suficiente para encarar Agnes - É sério que você quer saber sobre essa história tão boba? Olha só... eu posso... - murmurei pensando um pouco, olhando para os meus próprios pés, tirando as minhas meias e as colocando em minhas mãos, como fantoches, sem graças, mas melhores do que uma seria idiota - O que acha disso? - perguntei, movendo a minha mão como se a meia falasse, rindo quando os olhos de Agnes brilharam mais do que um dia eu já havia visto, mostrando que havia gostado. 

Não foi tão difícil criar um história com duas meias, qualquer coisa que eu dizia era motivo para a menina cair na gargalhada, abandonando até mesmo a sua chupeta, provavelmente mandando o sono ir embora assim que se sentou, querendo tocar nos fantoches, surpresa quando eles "falavam" o seu nome, e mais surpresa ainda quando eles iam "embora", até mesmo os procurando, sendo que eu havia apenas retirado as meias das minhas mãos, me provando o quão lindo e puro era a inocência de uma criança. 

Demos aos fantoches os nomes de "batata" e "pimenta", eu posso jurar que foi Agnes que escolheu tais nomes, mas eu me lembrava que ela mau sabia andar, quem dirá escolher nomes para fantoches feitos de meias, bom, quando ela crescesse, poderia me livrar de tal acusação. Mas eu apenas quis aproveitar o momento no qual, um dia minha mãe poderia ter feito comigo, não era tão difícil, não era tão difícil fazer uma criança sorrir caso você realmente quisesse fazê-la sorrir. E Agnes sorria, eu queria fazê-la sorrir, e mesmo que necessário dar o nome de batata e pimenta para as minhas meias, eu o faria, apenas para vê-la sorrir. 

- Ok, que tal se despedir deles hoje? Está na hora de você dormir - falei, e me assustava a forma que ela realmente entendia o que eu estava falando, pois pude ver o seu semblante ficando triste aos poucos - Ei, nós voltaremos amanhã - fiz uma voz engraçada, movendo a minha mão sobre a minha meia, fazendo cócegas em seu pescoço, até ela rir - Tchau, mini brócolis, até amanhã!

Os seus olhos se encheram de lágrimas quando retirei minhas meias de cena, me olhando, com um bico em seus lábios, querendo mais da brincadeira, eu sabia que Sana me mataria caso saísse do banho e visse Agnes ainda acordada, já se passava das oito e meia, e o mais tarde que a menina poderia ficar acordada era até as oito, estávamos meia hora atrasadas sobre aquela tarefa e a última coisa que eu queria era ver Sana brava. 

- Está tudo bem, está tudo bem, amanhã eles irão voltar, eu prometo - eu tratei em acalmá-la, deixando que ela deitasse a cabeça sobre o meu ombro enquanto eu andava de um lado para o outro, acariciando as suas costas, obviamente ela choramingou, esfregando uma de suas mãos em seu rosto, e aos poucos, por mais que não parecesse, eu descobria os seus sinais, e aquele claramente era um sinal de cansaço e de sono. Caminhei de um lado para o outro, sentindo o seu tapete fofo por entre meus pés agora descalços, descansando a minha bochecha sobre a sua cabeça, podendo relaxar aos poucos sobre o seu cheirinho de bebê tão suave quanto sua pele.

My dear wife - SatzuOnde histórias criam vida. Descubra agora