Família feliz

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Chou Tzuyu 

Me olhei no espelho mais uma vez, pigarrei, arrumei os meus fios, verifiquei a forma na qual a sala estava organizada e me dei como satisfeita, olhando para o relógio, o qual marcava sete e cinquenta e oito. Ela já deveria ter chegado, provavelmente estava sobre o hall do prédio, provavelmente pegando o elevador, eu poderia mentir e dizer que estava tudo bem, mas não estava, eu estava nervosa, bom, não é todos os dias que abandonaríamos a nossa privacidade para ser compartilhada com uma mera estranha e sua filha. O pensamento da sua filha, isso me apavorava, eu esperava uma criança birrenta, mimada, chata e insuportável, quebrando as minhas coisas e mexendo no que não deveria, talvez eu devesse impor algumas regras a Sana e sua filha, eu de fato, não estava preparada para isso. 

Pisquei e respirei fundo assim que a campainha tocou, mordi meu lábio inferior, passei a língua pela a mordida e abri a porta, me deparando com ela, e uma pequena menina, claramente sonolenta sobre os seus braços, assenti ao meu porteiro o qual havia a ajudado com as suas malas, me deixando surpresa em ter apenas duas, e uma pequena mochila, mas deixei os questionamentos para mais tarde, apenas dando um passo para o lado, para que ela entrasse. 

- Bom, bem-vinda a sua nova casa - anunciei, de uma forma formal, querendo não deixar um clima sobre nós duas. 

- O seu motorista realmente é pontual.

- Ele foi treinado para ser assim.

- Ele é um cachorro agora?

- Você entendeu, Sana - murmurei, sem paciência para tais piadas irônicas, me virando pra ela e observando a criança, sobre os seus braços - Ela se parece com você.

- É, todos dizem isso e... ainda bem. Eu acho. 

- Quantos anos?

- Onze meses. 

- Ela sabe andar?

- Está aprendendo - me olhou - Posso saber o por que desse interesse na minha filha?

- Pontas na mesa - indiquei, a mesa de centro da sala e a de jantar - Tomadas - apontei, para algumas que ali tinham - Crianças... tem a mania de mexer aonde não devem, estou apenas informando que, caso ela arrebente a cabeça ou tome um choque, a culpa não será minha. 

- Olha, eu já entendi está bem? Fica tranquila, Agnes não vai mexer em nada que é seu ou quebrar alguma coisa sua, ela é uma menina comportada.

- Bebês não são comportados, bebês são... - ela arqueou uma sobrancelha, em desafio para que eu continuasse a minha fala, mas eu não o fiz, pois sabia que a magoaria talvez - Bebês são bebês. Venha, me siga. 

Peguei as suas malas, entrando em um corredor com algumas portas, mau acreditando que de fato estava fazendo aquilo e muito menos, não tendo a certeza de que aquilo, daria certo ou não.

- Esse será o quarto dela - informei, abrindo uma das portas - Iremos comprar a cama, decorações, brinquedos, banalidades, tudo o que indique que vocês moram aqui a um tempo. Esse - abri outra porta  - Será o seu quarto. Como eu disse, você terá a sua privacidade, mas peço que deixe poucas coisas por aqui, mas sim, no meu quarto, como, suas roupas, escova de cabelo, maquiagem, banalidades assim, como se fossemos um casal.

- E tem um motivo pra isso?

- Bom, para as visitas que os meus pais irão fazer, eles precisam ter a certeza que somos um casal feliz e principalmente, um casal normal, não precisa ser muito, está bem? Vou separar uma parte do meu closet pra e iremos comprar uma penteadeira pra você.

- Você sabe quanto custa uma penteadeira? Eu acho que não é necessário-

- Acredite em mim, pra minha mãe, se uma esposa não tiver uma penteadeira, ela não é uma boa esposa.

- Ótimo - ela murmurou, um pouco contragosto, mas eu não me importei.

- Banheiro social, vamos adaptá-lo pra a sua filha, patinhos de borracha, adesivos e coisas fúteis, você irá usar esse banheiro também, mas tenha algumas coisas de higiene pessoal no meu banheiro, você já entendeu. Varanda, sala, cozinha, o básico, acho que não precisamos nos preocupar tanto, apenas... deixe a sua filha... fazer coisas de criança por aqui, já teremos um bom resultado.

- Me explique o seu conceito de "coisa de criança", Tzuyu.

- Você sabe, espalhar os brinquedos, procurar por coisas infantis na TV para termos um histórico salvo, e até mesmo, sei lá, deixe-a riscar a parede se preciso. 

- Minha filha não faz esse tipo de coisa, e eu de fato estou odiando o fato de você vê-la como um grande estereótipo de crianças mimadas. A Agnes não é assim.

- Que seja - dei de ombros.

- Não, não é só "que seja", ela pode ser um bebê de onze meses, mas merece respeito assim como qualquer outro ser humano capacitado do pensamento. Ela não é um animal na jaula na qual você queira "libertar" para proporcionar o seu papel de fingimento perfeito, ela é a minha filha, então se você quer a minha ajuda com isso, comece tratá-la de uma forma coerente. 

Aquilo seria difícil. E eu  já me arrependia antes mesmo de tudo começar.

- Tudo bem, Sana, tudo bem. Me desculpe, certo? Pode... apenas colocá-la na cama? Temos algumas outras questões para discutir.

Os seus olhos redondos me encararam, não satisfeita com o meu pedido de desculpas perante o tratamento em questão da sua filha, mas eu não estava ali para ser a mamãe boazinha de ninguém e muito menos, a esposa exemplar, protetora da família, e ela sabia, ela deveria saber que tudo aquilo, assim como ela mesma havia falado, não se passava de um faz de conta fodido, com bens em dinheiro e saúde, no caso dela. 

- Temos uma sessão de fotos marcada as duas - comecei, assim que ela se sentou na outra extremidade do sofá, me encarando, sem emoção - Precisamos de boas fotos, para ilustrarmos que já estivemos juntas antes desse período de mudança, saindo do estúdio, iremos a uma loja, comprar coisas a sua filha-

- Ela tem nome, a chame de Agnes, Tzuyu - eu suspirei, fechando os olhos em paciência.

- Iremos comprar coisas para a Agnes, brinquedos, roupas, o suficiente para que o closet dela fique tão lotado quanto o nosso, uma cama, papéis de parede, coisas decorativas, temos que arrumar o quarto dela antes da visita dos meus pais. Ela dorme sozinha, certo? - vi quando Sana mordeu seus lábios, olhando para os lados e negando em seguida.

- Ela nunca teve um quarto para ela, então... sempre dormimos juntas.

- Ok, você terá que dar um jeito nisso. Com isso, iremos passar no banco, e é aqui, que você entra - concluí, pegando uma pasta bege, com algumas folhas dentro, dei uma rápida revisada, alcançando uma caneta e assinando algumas coisas, em meu nome - Seu nome inteiro.

- Minatozaki Sana.

- Data de aniversário.

- Vinte e nove de dezembro.

- Data de aniversário da Agnes.

- Quatorze de junho.

- Iremos ao banco retirar o seu novo cartão, ele está no meu nome, mas será sobre o seu uso pessoal, a senha é a data do aniversário de Agnes. Logo depois, vou deixá-las em casa, e resolver o assunto sobre o plano de saúde pediátrico, e em seguida... iniciamos o nosso plano. De acordo?

Sana pensou um pouco, e eu pude ver o momento que ela vacilou sobre os seus pensamentos, mas assentiu, a sua assentida me deu a esperança que eu precisava para assinar a última linha, dando o decreto que agora... erámos uma família feliz. 

Uma linda família feliz. 

My dear wife - SatzuOnde histórias criam vida. Descubra agora