Capítulo Dezoito

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Quinta-feira, 19 de Dezembro de 1985.

Consigo evitar Jay por dois dias inteiros antes que ele me encontre.

A essa altura, já se espalhou a notícia, a partir da nona série, de que não sou bom no basquete. Os alunos do segundo ano da equipe JV contaram para aqueles na lista de substitutos do time do colégio, que então compartilharam essa informação com seus amigos em substitutos. Tenho certeza de que os veteranos iniciantes estão cientes agora, e possivelmente o treinador também. Tenho certeza de que Jay sabe, e é por isso que eu estava me escondendo dele. Eu esperava aguentar o resto da semana e entrar na temporada de férias sem ter que explicar o que aconteceu no jogo-treino da JV.

Mas não tive essa sorte, no entanto.

Na quinta-feira de manhã, estou prestes a enfiar meus livros no meu armário e ir para o meu primeiro período quando vejo Jay, andando em minha direção de seu armário na seção do segundo ano no corredor. Não, vindo em minha direção. Ele está com uma carranca profunda e parece muito chateado, uma expressão que eu ainda não o vi ter, e isso me assusta.

Levo um momento para processar que ele está coberto de glitter.

A coisa está em toda parte — grudada em seu rosto com suor; espalhado por todo o seu cabelo impressionante; respingou na frente de sua camisa. Não há nenhuma parte de seu corpo que não tenha tocado – pálpebras, queixo, cotovelo, jeans, tênis. As pessoas riem quando ele passa por elas, mas ele não presta atenção.

— O que... — Eu começo a dizer quando ele se aproxima de mim.

— Não toque nesse armário. — Diz ele.

— O que?

— Não abra isso. — Sua voz é severa de um jeito que eu nunca ouvi. Seu tom me lembra a maneira como Mike às vezes diz a Holly para não sair da cadeira. Como um irmão mais velho.

— Sua combinação? — Diz Jay, seu dedo posicionado sobre a fechadura. Dou a ele com relutância, ainda confuso. Ele gira lentamente, a carranca nunca deixando seu rosto. Uma vez que a combinação está dentro, ele dá um passo para trás, então gesticula para que eu faça o mesmo.

Lentamente, ele se afasta, abrindo o armário.

E então pop! que assusta algumas pessoas próximas. Glitter voa para fora do armário e para o corredor, apenas não acertando Jay.

Meus olhos se arregalam.

— Ahhh...

— Sim. — Diz Jay. — De nada.

Partículas de purpurina flutuam em direção aos armários ao lado do meu. Aqueles que tiveram o azar de estar na frente de seus armários naquele exato momento pegam algumas roupas. Eles ignoram isso com alarme, evitando meu armário como uma praga.

Passo na ponta dos pés pelo monte fresco de purpurina no chão em frente ao meu armário e espio dentro. Tudo o que tenho lá está coberto de purpurina — jaqueta, livros, adesivos, cartões, tênis de basquete. Os restos do mecanismo de explosão estão ali como um culpado – um balão vazio, um fio conectado à minha porta e uma agulha na ponta. Uma bomba, em todos os sentidos da palavra.

Stranger Things: Lucas on the LineOnde histórias criam vida. Descubra agora