Capítulo Cinco

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Segunda-feira, 26 de Agosto de 1985.

O horário de almoço é barulhento. Há uma longa fila de calouros saindo do refeitório e entrando no corredor. Aparentemente, todos nós passamos muito tempo com nossos mentores. Estávamos todos fascinados por eles, ou era só eu?

Eu me junto à fila de estudantes agitados, esticando meu pescoço sobre várias cabeças para ver se consigo identificar Mike, Dustin ou Max. Vejo o cabelo e a camiseta de Dustin antes de registrar que ele e Mike já estão no refeitório. Eles estão sentados em uma mesa, sozinhos. Eles estão olhando em volta – provavelmente para mim, talvez também para Max. Eu aceno, me esticando para que eles possam me ver, mas eles não percebem. Dustin está muito ocupado escrevendo algo em sua pasta, e Mike está girando um dado de dodecaedro desbotado de um antigo conjunto de D&D. Saio da fila e vou até eles. Talvez eu possa deixar minhas coisas na mesa e voltar para a fila e pegar a minha comida.

Quando me aproximo, um grupo de meninos — veteranos, pelo jeito deles — passa pela mesa deles. Parecem garotos-problemas. Um deles sussurra algo para o outro, observando Dustin. O cara receptor passa a mensagem para outro e logo todos começam a rir. Então, alguém se aproxima de Dustin, que está muito ocupado escrevendo para perceber, e Mike está muito focado em girar seu dado para ver o que está acontecendo.

— Belo permanente. — O garoto diz no ouvido de Dustin, então puxa seu cabelo. Dustin salta, assustado. O menino começa a bagunçar o cabelo, e Dustin passa o dedo, tentando tirar as mãos dele. Mike se envolve e seu dado gira, saltando da mesa e caindo no chão. Um dos meninos chuta para o canto oposto da sala. Todos nas mesas adjacentes riem.

Diminuo a velocidade, cerrando os punhos pela terceira vez hoje. Memórias do ensino fundamental surgem, interagindo com a cena diante de mim: apanhar por ganhar a feira de ciências, por estar no clube audiovisual, por ser uma aberração. É quase como se nunca tivéssemos saído, como se estivéssemos presos em um mundo sem saída. Dói ainda mais porque ninguém repreende os meninos. O riso só aumenta agora que os outros estão olhando para cima e notando. Talvez pensem que merecemos. Afinal, somos apenas um bando de nerds.

Eventualmente, o menino solta o cabelo de Dustin, rindo enquanto sai com seu grupinho. Mike os encara com adagas, mas fica parado porque eles são muito grandes, muito altos. Até mesmo Dustin, muitas vezes o primeiro a abrir a boca grande, lança um longo olhar para os meninos e decide não falar. Aposto que está passando pela cabeça de ambos agora "El não está aqui para salvá-los desta vez". Aposto que vai atingir Mike com mais força, sabendo que ela pode ter ido embora para sempre.

Isso me faz sentir ainda mais culpado por esperar até que os veteranos saiam para se aproximar da mesa. Dustin colocou o cabelo de volta no lugar, e seus rostos compridos se estabeleceram.

— Ei. — Eu digo, tentando ser alegre. Eles não precisam saber que eu vi o que aconteceu, e eu não preciso fazê-los se sentirem envergonhados por eu ter visto. — Por que as filas estão tão longas? Como vocês conseguiram comida?

— Apareceu cedo. — Diz Dustin, de volta ao seu eu perplexo. — Ouvi dizer que essa é a única maneira de não passar todo o período de almoço na fila. Seu colega mentor não te disse isso? O meu disse. — Antes que eu possa responder, Dustin seguiu em frente. — De qualquer forma, eu estava apenas dizendo pro Mike que ouvi o chefe do Hellfire, um maconheiro chamado Eddie Munson. Ouvi dizer que ele é... intenso.

— Seu mentor também lhe disse isso?

— Claro. — Diz Dustin. — Eu fiz todas as perguntas apropriadas. De qualquer forma, ouça, com esse tal de Eddie, acho que temos que declarar nossas intenções com antecedência. Ele não soa como alguém com muita paciência. Podemos não ter o luxo de esperar até a próxima semana para se inscrever na vitrine extracurricular. — Ele se inclina para frente. — Estou pensando: e se divulgarmos nossos nomes mais cedo? Como hoje?

— Não seja bobo, Dustin. — Eu digo. — O Hellfire não vai ficar cheio tão cedo. Diga a ele, Mike.

Mike apenas dá de ombros. Há uma parte de mim que está feliz por esse Mike taciturno, uma sombra do Mike mal-humorado que conheci toda a minha vida. Mopey Mike é como uma versão dele do mundo invertido, completo com as vibrações negativas, mesmo quando ele está sentado lá, sem fazer nada. Mas uma parte de mim se lembra que meu amigo ainda está lá em algum lugar. Ele pode ser teimoso demais para admitir, mas precisa da nossa ajuda para lidar com essa situação de mudança de El e Will.

Coloquei a mão sobre os rabiscos de Dustin para detê-lo. Eu amo Dustin, mas Deus, ele pode ser tão distante às vezes.

— Por que não apenas respiramos, por um momento? — Eu faço mímica inspirando e expirando. Ambos me olham com curiosidade. — Olha, que tal uma grande noite de filmes neste fim de semana? Seu pai finalmente colocou a TV e o VHS no porão, certo, Mike? Dustin, você poderia ir ao Family Video e alugar algo bom, dois filmes, talvez. Max e eu podemos pegar um pouco de refrigerante, e, Mike, você pode comprar pipoca. Só nós e filmes, a noite toda. — Eu bato palmas. — O que você me diz?

— Meu pai não vai gostar disso. — Diz Mike.

— Seu pai não gosta de nada. — Eu digo.

— Verdade. — Mike concorda. — Mas também não tenho certeza se minha mãe vai ficar feliz. Ela não vai deixar a Max ficar. Disse que meninas não são permitidas.

— Acho que podemos argumentar que somos quatro, então se eles estão preocupados em dar uns amassos, isso não vai acontecer, certo?

Em vez disso, eles olham para mim.

— Essa será sua decisão, chefe. — Diz Dustin.

— Ei, Dustin, eca, que nojo. — Eu digo. — Eu nunca daria uns amassos no meio da noite do cinema. Isso seria nojento. — Eu me viro para Mike. — Mas isso significa que vai ter filme então?

— Talvez. — Ele diz finalmente. — Vou perguntar pra Nancy, ver se ela pode ajudar a suavizar meus pais. Mas teremos que suborná-la.

— Tudo bem, eu pago. — Eu digo. — Se é isso que é preciso para ter uma noite divertida.

— Pessoal. — Diz Dustin. — Não querendo mudar de assunto, mas acho que deveríamos levar a sério essa inscrição no Hellfire-

— O clube pode esperar, Dustin. — Interrompi. — Além disso, não é a pior coisa do mundo se não entrarmos. Simplesmente encontraremos outra coisa.

Mike e Dustin olham um para o outro, depois caem na gargalhada.

— Você está brincando? — Diz Dustin. — Você só pode estar brincando.

— O que você quer dizer? — Eu digo, as palavras de Jay voltando para mim agora. — Podemos tentar coisas novas. Não é sobre isso que concordamos? Que o ensino médio é tudo? Tipo, e se eu quisesse fazer um teste para o time de basquete?

Agora eles riem ainda mais. A pasta de Dustin cai no chão e Mike enxuga os olhos. O riso deles é direcionado a mim, mas é a primeira vez que os ouço rir assim em muito tempo. Especialmente depois do que aconteceu há cinco minutos, parece que eles merecem, então eu os deixei fazer de mim o alvo da piada.

Stranger Things: Lucas on the LineOnde histórias criam vida. Descubra agora