Capítulo Trinta e Três

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Domingo, 6 de Abril de 1986.

    Na manhã seguinte, acordo com o som de um barulho. O ruído que chega aos meus ouvidos vem de fora. Os sons de reunião, vozes concordando. Sons de planejamento e preparação, uma equipe se preparando para partir. Eu me levanto do sofá, piscando alerta. Ainda no Benny's Burgers. Exceto que meus companheiros de equipe não estão mais reunidos aqui na sala de jantar principal, onde os deixei pela última vez antes de dormir no sofá. Eles são a fonte do barulho lá fora.

    Eu sigo o som.

    Ontem, de alguma forma, trouxe a calma de volta para casa. Eu falei - muito mais do que nunca. Lembrei a eles que as crianças do Hellfire são apenas adolescentes como todos nós, que provavelmente estão tão assustados com o assassinato e tristes com Chrissy quanto nós. Aquele Eddie Munson, seja ele um satanista ou o que quer que seja, definitivamente não está por aí  sendo o Ted Bundy da Hawkins High. Ele nem fala com garotas! Ele é um cara louco, sim, e talvez até um pouco esquisito, mas ser um esquisito não faz de alguém um assassino.

    Consegui fazê-los se refrescar pelo resto do dia. Eles passaram assistindo a mais relatórios e depois voltando para os ThunderCats. Jason tirou uma soneca e acordou se sentindo melhor, como se toda a sua raiva tivesse passado com aquela foto do Hellfire. Pedimos pizza e eles tomaram mais algumas cervejas - recusei.

    Assim que as coisas se acalmaram, pensei por conta própria, imaginando a origem do mal-estar que vinha sentindo o tempo todo. Eu gostei de jogar basquete com esses caras? Sim. Gostei da festa, da atenção, das luzes da popularidade? Sim. Mas as outras coisas - como toda essa agressão e essa necessidade de forçar os outros a aceitar a maneira como interpretam o mundo - às quais não prestei atenção suficiente. Eu estava tão envolvido em ser um atleta que nunca considerei quem eu me tornaria, que tipo de companhia eu mantinha. A julgar pelo que aconteceu naquela tarde, eu me perguntei: sempre terei que apagar o fogo deles?

    À noite, os meninos jogavam cartas e eu fui para a cama, me perguntando mais uma vez se precisava fazer o check-in em casa agora que a notícia do assassinato de um estudante estava se espalhando. Mas, sentindo que tinha feito um bom trabalho em evitar que as coisas explodissem, dormi cedo. Talvez amanhã, pensei, eu vá para casa e depois encontre Max.

    Mas quando eu saio pela porta agora, eu os vejo.

    Jason, Patrick e Andy são tudo o que resta, jogando algumas ferramentas no porta-malas do jipe de Jason. Meu cérebro diz ferramentas, mas quando olho para os itens reais que estão empacotando - chaves de roda, fita adesiva, pés-de-cabra - minha mente os avalia pelo que realmente são: armas.

    — Bem, bem. — Diz Andy, me avistando. — Olha quem decidiu vir.

    — O que vocês estão fazendo? — Eu pergunto.

   — Nos equipando. — Diz Patrick.

    — Nos preparando para a caçada. — Acrescenta Andy.

   Todo o medo de ontem cai de volta em mim. Devo ter estremecido com a mudança repentina dos acontecimentos porque Jason, que está movendo coisas com uma expressão dolorosamente focada, percebe minha apreensão. Ele faz um esforço para parar, passa o braço em volta do meu ombro e me avisa que está tudo bem - eles não vão matar Eddie, apenas fazer que ele confesse seu crime. Um bate-papo amigável da vizinhança, como disse Andy. Eles riem, mas não é engraçado. Neste momento, não quero nada além de que a polícia encontre Eddie Munson primeiro. Pelo menos ele estará a salvo desses caras.

Stranger Things: Lucas on the LineOnde histórias criam vida. Descubra agora