Capítulo Vinte e Três

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Segunda-feira, 6 de Janeiro de 1986.

A tempestade não passa na manhã seguinte, nem minha ansiedade. Mamãe liga antes, esperando que a escola designe um dia sem aula, mas aparentemente é difícil chamar um dia de neve sem neve. Então acabamos indo para a escola no meio do mau tempo, rastejando pela estrada como tartarugas. Eu gosto do atraso. Cada segundo que me leva mais perto da escola é uma agonia. Sinto que vou vomitar.

Um ou dois anos atrás, eu nunca teria pensado que uma manhã de volta às aulas me faria sentir assim.

Assim que saio e enfrento o frio do carro até o corredor de entrada, vejo Mike e Dustin. Alívio toma conta de mim como uma onda, e o aperto no meu peito é liberado. Eu nunca estive tão animado para ver meus amigos. Acho que vou chorar.

Nós dizemos olá, remexendo nas gentilezas. Pouco parece ter mudado com eles.

— Férias de inverno malucas, né? — Eu digo.

Mike aperta os olhos.

— O que você quer dizer? O recesso foi bom.

— Sim. — Diz Dustin. — Passei conversando com Suzie. Quando ela não estava no culto.

— O mesmo. — Diz Mike. Percebo que ele parece muito mais animado do que antes. Muito alegre para este clima. — El e eu enviamos um monte de cartas. Cartas de amor, sabe? Foi incrível. — Ele olha para mim. — E você?

Estamos entrando na escola agora, e quando chegamos ao corredor, começo a me dar conta do que aconteceu.

O corredor é brilhante e colorido. Todos os armários têm uma nova camada de tinta, assim como algumas paredes. Nenhum número de armário está faltando. O piso é brilhante e polido, sem marcas de derrapagem. Estudantes de bochechas cor de cereja, corando tanto pelo frio lá fora quanto pela emoção de ver seus amigos pela primeira vez no Ano Novo, deslizam pelo chão.

Eles não sabem. Ninguém sabe.

Faz sentido agora. Jay estava certo sobre essa coisa de menino de ouro. Os pais de Garroway nunca iriam querer que isso viesse à tona, se pudessem evitar. Talvez até tenham pago para limpar a bagunça bem rápido. Essa é a única maneira de este corredor estar muito longe do que eu vi na foto que o chefe Powell nos mostrou. Um retoque grátis e reparos não pagos podem ter sido uma oferta muito grande para o Diretor Higgins recusar. E agora, é como se nada tivesse acontecido, como tudo que eu passei – que Jay passou – nunca aconteceu.

É como o Mundo Invertido de novo. Exceto que fui o único perdido nisso o tempo todo, e agora acabei de acordar para o mundo real.

Meus amigos ainda estão falando sobre suas férias, mas eu parei de andar.

— Lucas? — Diz Dustin. — Lucas?

— Você está bem, cara? — Mike está perguntando.

Percebo que cheguei ao meu armário, estou de pé na frente dele, incapaz de tocá-lo ou abri-lo.

— Escuta. — Dustin está dizendo. — Eddie montou nossa primeira partida Hellfire do semestre hoje. Sorte sua, precisamos de um submarino. Você pode entrar literalmente hoje!

Olho ao meu redor, verificando se vejo Jay por perto ou algo assim. Seu armário, no final do corredor, parece intacto. Ele está longe de ser encontrado, no entanto.

— Lucas, você está ouvindo? — Diz Dustin.

— Sim, sim. — Eu digo. — Eu vou para o seu jogo estúpido. — Então eu me arrasto para a aula do Sr. Lansdale sem guardar meus livros ou a jaqueta.

Stranger Things: Lucas on the LineOnde histórias criam vida. Descubra agora