Capítulo Oito

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Terça-feira, 3 de Setembro de 1985.

   Não tenho certeza de quantos minutos faltam para o sinal tocar para o final do período de almoço. Pego minha comida e planejo fugir da mesa de Jay para poder conversar com Mike e Dustin e explicar tudo. Antes que eu possa me livrar das discussões sobre quem pode enfiar mais Skittles na boca (resposta: Mark, 104 Skittles), eles saíram com o cara de heavy metal de cabelos compridos.

    Murmuro algo para Jay sobre precisar ir ao banheiro e fujo, mal percebido por qualquer outra pessoa na mesa. Enquanto ando pelo corredor em busca de meus amigos, me perguntando se tomei a decisão certa, percebo que algumas novas flechas foram plantadas no chão e nas paredes. Todas apontam para o ginásio.

    Inscrições extracurriculares, eles dizem.

    Certo. Esqueci completamente disso.

    O ginásio está cheio de calouros quando chego, espalhados pelo chão e arquibancadas, mas principalmente reunidos em torno de várias mesas com faixas do clube sobre elas. Cada clube enlouqueceu tentando atrair e recrutar sangue novo. O clube de teatro tem uma foto enorme de um cara arcaico que pode ser qualquer um, de Dickens a Shakespeare. A banda Marching pendurou instrumentos no teto e tem um de seus uniformes em um manequim para que os alunos possam tirar uma foto ao lado dele. A equipe de luta fez uma coisa semelhante com um dos seus manequins de boxe. A mesa do clube de ciências tem um mini-laboratório com béqueres e pipetas e outros enfeites, o clube de xadrez tem um jogo na deles, e o jornal da escola tem, bem, jornais.

    Existem dois tipos de mesas que não recebem atenção. O time de basquete é o primeiro. Estou supondo porque ninguém é estúpido o suficiente para arriscar ser ridicularizado e tentar se inscrever para testes se ainda não tiver sido convidado. A menos que eles sejam realmente bons, caso em que eles já estariam envolvidos com a equipe de qualquer maneira, como os dois calouros que vejo se aproximando da mesa.

    Não tenho certeza se poderia chamar o que eles montaram de mesa no sentido tradicional, já que ninguém está sentado lá. É apenas uma folha de inscrição e uma caneta. Nem mesmo um banner ou sinal. Mas todo mundo reconhece isso ao olhar para os veteranos parados em suas jaquetas. E, claro, a bola de basquete que eles jogam entre si. Conto cerca de nove garotos de jaqueta, três deles são pretos. Além de Jay, que é o quarto. Além de mim, que aí já são cinco. Nunca vi tantas pessoas negras juntas num só lugar aqui. Talvez até na cidade. É um pouco chocante testemunhar.

— Clube Hellfire. — Um calouro que passa por mim diz, lendo uma faixa para outro calouro. — Mais conhecido como associação de aberrações. — Eles riem.

Eu me viro para a direção em que eles estão focados.

O Hellfire Club é o outro tipo de mesa que não recebe filas. Tem um banner que é difícil de perceber. Ao contrário dos outros banners, é feito à mão em vez de impresso. Mas é especialmente notável porque parece uma capa de álbum de death metal: agressivamente ousada e estampada com chifres de fogo e um diabo, com o nome do clube rabiscado nela.

Mike e Dustin são as únicas duas pessoas ali. O cara de cabelos compridos de antes está sentado atrás da mesa, conversando com eles. Este deve ser Eddie Munson, o maconheiro de quem Dustin falou outro dia, líder do clube oficial de D&D da Hawkins High. Ou, como claramente será conhecido por todos em breve: a Associação de Aberrações.

— Lucas. — Diz Dustin, que me viu, e cuja voz sempre é anormalmente alta, não importa onde ele esteja. — Filho da puta-

Stranger Things: Lucas on the LineOnde histórias criam vida. Descubra agora