"Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas, agora. [...] Somos tão jovens, tão jovens, tão jovens"
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Eu amo história. Mesmo que ela me deixe deprimido.
Acho que esse é o fardo de qualquer um que ame se debruçar sobre os livros e descobrir cada detalhe de seu passado: a realidade se torna dura e profundamente dolorosa.
Por que, quer dizer, já que se passaram sessenta anos, eu não deveria viver exatamente como meu avô viveu sua adolescência, não? A humanidade deveria ter evoluído, aprendido com seus erros, não ter se dado ao luxo de esquecer todas as suas feridas mais profundas.
Deveriam valorizar mais a habilidade de ser capaz de citar todos os erros cometidos há cem, cinquenta ou dez anos atrás, que não deveriam mais ser repetidos, deveriam valorizar a chance de, como diria Marx, não permitir que tragédias do passado se repitam em uma evidente farsa.
Por que é isso que essa sociedade é, não? Uma farsa. Uma mentira tão mal ensaiada e sem originalidade que repete falas, estratégias e golpes do passado.
Em uma sociedade como essa, o ato de estudar história é uma arma contra o sistema, uma faca tão bem afiada contra o pescoço daqueles que pregam mentiras, que o Estado não mediu esforços para rebaixá-la, colocando os professores de humanas na parte mais baixa da hierarquia autoritária que penetra até mesmo a escola. Além de a descentralizar, a repartindo em diversas sub matérias, que juntas não fornecem nem 1% do real objetivo de a estudar.
Estudar o passado, estudar de verdade, coloca nós, alunos, em um ambiente em que temos que relacionar fatos, juntando causas, consequências e, ao fim, dar o nosso julgamento se foi algo positivo ou não para a nossa sociedade. A história é a maior ferramenta no ambiente escolar para desenvolver senso crítico, o passado auxilia que tenhamos um julgamento do nosso presente. Então, obviamente, o atual governo da Inglaterra praticamente exterminou com a essência da matéria, a última coisa que eles querem são cidadãos que possam discordar do regime.
Agora, a disciplina que tinha tudo para ser meu momento preferido na escola, não se passa de uma extensa lista de informações inúteis que devemos decorar: datas, distorção do percursos de supostas revoluções, nomes dos heróis da pátria, com o exagerado ufanismo que me faz desejar revirar os olhos.
O pior que sequer posso culpar a sala com o ensino atrasado e básico na qual sou obrigado a estudar, o ensino dessa matéria é péssimo assim até mesmo na sala dos não excepcionais.
Eu desvio meus olhos da professora - que enaltece diante da sala Oliver Cromwell, um ditador do século XVII responsável por instaurar a primeira ditadura na Inglaterra -, para o soldado parado na porta da sala. Ele analisa com atenção o que a professora ensina, conferindo se está dentro dos padrões exigidos pelo governo. Em dias normais, o clima já é tenso dentro de uma escola tão autoritária como essa, mas, especialmente nesses com a presença de militares, tudo se torna pior.
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The Red Sound I l.s.
FanfictionViver em uma Inglaterra ditatorial não é algo exatamente fácil, injustiça, autoritarismo e violência são partes da rotina de Louis Tomlinson, um adolescente surdo em seu último ano de escola. Ele odeia militares, mas infelizmente vive no mesmo loca...