"Quando vem à tona todo amor que está por dentro, chamo por teu nome em transmissão de pensamento. [...] Sensível demais, eu sou um alguém que chora por qualquer lembrança de nós dois. Sensível demais você me deixou e agora, como dominar as emoções?"
Meu belo amante,
Nos últimos dias estive pensando muito sobre a sina em que vivemos, sobre como as fases de nossa história sempre foram marcadas por sermos reféns do calendário. Quando éramos mais novos, você foi arrancado de meus braços para ir ao exército, um ano atrás, fomos arrancados um do outro novamente por conta da crueldade ao qual estamos submetidos sob o regime autoritário da Inglaterra.
É estranho e doloroso os padrões pelos quais nossa trajetória sempre foi marcada, meu amor, como há certas cenas repetidas em nossa história, vividas em momentos diferentes, mas com o mesmo peso emocional. Penso muito sobre nossa última despedida, quando nos abraçamos no chuveiro e choramos juntos. É estranho que não tenha sido a única vez que desabamos nos braços um do outro tendo o som da água caindo abafando nossos soluços. É estranho que a frase 'não me deixe cair' já tenha ecoado de nossas bocas mais vezes que deveria, é doloroso lembrar o quanto fomos feridos pela vida e tivemos apenas um ao outro para nos segurar... para nos impedir de cair, para compartilharmos as dores mais viscerais que alguém pode experimentar.
É esquisito, também, lembrar que somos tão jovens ainda, porque compartilhamos do mesmo sentimento de cansaço, de exaustão por termos vivido desde que nascemos em um cenário político tão turbulento e cruel. Acho que nunca conseguirei traduzir com clareza como me sinto em relação a esse sistema, às vezes sinto que apenas você consegue entender como me sinto, amor, só você com seu olhar atento sempre foi capaz de agarrar minha mão e me fazer saber que não estou sozinho nesse sentimento complexo de revolta e tristeza.
Quando era mais jovem, desejei ser alguém medíocre, um cidadão pacato que engole esse sistema, que realmente não se revolta com a ditadura que vivemos. Ainda hoje, sinto... Entenda isso como um sussurro, uma de nossas confissões sob lençóis: sinto que a mediocridade às vezes é o maior triunfo que alguém pode ter. Sei que soa estranho, porque crescemos tendo infiltrado em nossas mentes que devemos ser especiais e incríveis. Mas sabe, corja, pessoas medíocres não apanham na rua desde seus dezessete anos, não viram noites buscando formas de mudarem a vida a qual foram condicionadas a viverem, pessoas medíocres não sentem o medo constante de serem mortas... pessoas medíocres não são torturadas. Elas não vivem com essa constante e pesada frustração no peito de sentirem que não deveriam viver como vivem, elas jamais se envergonhariam de, dentre tantos, terem vivido em um período histórico digno de envergonhar qualquer livro de história de ter gravado sobre em suas páginas.
Eu não sou especial, não sou espetacular, não carrego a resiliência no peito de um clássico revolucionário, na maioria das vezes me deixo ser tomado pela frustração e medo. Mas também não sou medíocre, infelizmente não sou. O que sou então, querido? Qual meu papel nesse terremoto? Nos livros de história, às quais páginas pertencerei?
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The Red Sound I l.s.
FanfictionViver em uma Inglaterra ditatorial não é algo exatamente fácil, injustiça, autoritarismo e violência são partes da rotina de Louis Tomlinson, um adolescente surdo em seu último ano de escola. Ele odeia militares, mas infelizmente vive no mesmo loca...