"Eu ando pela rua e nada mais me surpreende, eu era melhor no passado do que eu sou no presente. Tenho medo de ser só isso minha vida daqui pra frente, porra, eu não quero ser triste pra sempre"
"Eu estou tentando respeitar seu tempo e tal, mas já faz dez dias que venho aqui tentar te ajudar com o aparelho e você inventa desculpas. Sua mãe está começando a ficar desconfiada, todos os dias ela pergunta como foi".
Para variar, ele está respirando no meu cangote enquanto estudo. Não importa o quanto invente desculpas, não importa o quanto ignore sua presença, no outro dia ele sempre volta, perguntando casualmente entre uma hora ou outra se quero ir buscar a parte externa do meu implante para testarmos.
"Você não sente falta de ouvir?"
— Não — minto.
"Mesmo? Passou por uma cirurgia que abriu a pele da sua cabeça à toa?"
— Harry, eu só aceitei isso para agradar minha mãe. Honestamente, eu nunca quis sua ajuda. Apenas invente uma desculpa, diga para minha mãe que não tem mais tempo para isso. É perda de tempo, eu não vou voltar a usar o aparelho.
Seus ombros descem e sobem por um instante, ele desvia seus olhos para baixo enquanto pensa, sua unha cutuca com cuidado o canto de outra, arrancando um vestígio de tinta que tem ali.
"Você obviamente sente falta de ouvir, é teimoso para caramba, não toparia passar por uma cirurgia apenas para agradar os outros. Então, com certeza deve ter sido o após que te deu esse aparente trauma do aparelho, já que você foge dele como o diabo foge da cruz".
Eu franzo minha testa para ele, não podendo evitar me afetar diante de sua leitura sobre mim. Esses dias com ele na minha cola, fizeram eu perceber que Harry não é burro. Ele pode ser alienado graças ao cenário que está inserido, é uma espécie de marionete de seu pai e do sistema, privado de qualquer informação que possa ativar sua inegável inteligência e o fazer se rebelar. Mas, definitivamente não é burro. Isso seria bom, se ele não usasse para importunar meu sossego.
— Eu não tenho trauma quanto ao implante, só gosto mais do silêncio do que de escutar.
Ele toca minha mão, a segurando. Eu olho para o lado, franzindo minha testa em sua direção enquanto afasto minha palma da sua.
"O que preciso fazer para confiar em mim? Eu já não demonstrei o bastante que quero ser seu amigo?"
— E eu já não demonstrei vezes o bastante que não quero a amizade de alguém como você?
"Vai se foder, então". Suas sobrancelhas se franzem, os olhos cerrados o tornam intimidador.
— Vai você, filhinho de papai.
"Sou mesmo, mas ao menos não sou um mimadinho que apenas pensa em si e acha que é justificável ser rude com as pessoas que apenas querem o ajudar".
— Eu? Mimadinho? Você não sabe de porra nenhuma.
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The Red Sound I l.s.
FanfictionViver em uma Inglaterra ditatorial não é algo exatamente fácil, injustiça, autoritarismo e violência são partes da rotina de Louis Tomlinson, um adolescente surdo em seu último ano de escola. Ele odeia militares, mas infelizmente vive no mesmo loca...