"Aprendi, mas cadê você pra me aplaudir? Se todo mundo viu, por que você não tá vendo, todo esse esforço que eu tô fazendo? Pra fazer você se sentir orgulhoso, pra fazer você se apaixonar de novo"
O tule verde claro cintila sob os raios de sol forte da manhã de sexta, fazendo com que a saia de Mary brilhe, combinando com a grama do parque. Ela se distrai fuçando em meu celular, mesmo que eu já tenha garantido que não tem jogos.
- Você poderia comprar uma Barbie para mim, né? - ela diz, casualmente.
- Eu não tenho dinheiro Mary, e já te dei uma Barbie semana passada.
- Não seja mentiroso, Hazz, você tem um daqueles cartões pretos, o youtuber que gosto diz que dá para comprar todos os brinquedos do mundo nesses cartões. - Eu pisco, perplexo com o que ela anda assistindo.
Mesmo que insista, meus pais não controlam o tempo que Mary passa na internet, ou o que ela vê, permitindo que ela passe o dia inteiro com a cara enfiada nesses vídeos.
- Mas precisa pagar depois, e eu não terei dinheiro para pagar a fatura do cartão.
Ela olha para mim, virando sua cabeça para o lado, os fios castanho-claros que escaparam de seu rabo de cavalo voam diante de seu rosto conforme ela pisca seus olhos verdes.
- Até parece... apenas diga que não quer me dar, eu sei que você tem dinheiro para caramba. Olha isso, nem sei ler esse número. - Eu desço meus olhos, dando de cara com o aplicativo do meu banco aberto na tela do meu celular.
- Marybelle! - repreendo, tomando o aparelho de sua mão. - Isso é feio e invasivo, como conseguiu pôr a senha?
- Eu olhei um dia você digitando e decorei - ela conta dando de ombros, como se não fosse nada. - Vou ganhar uma Barbie? - ela pergunta novamente, me lançando seu sorriso com os dois dentes permanentes maiores que os demais, o sorriso uma mistura de dentes de leite e novos que estão crescendo nos espaços vazios.
- Não, estou te deixando mimada.
Ela faz um biquinho, apoiando a caixa de pipoca pela metade no banco de madeira. Eu já perdi as contas de quantos brinquedos já dei para ela, sei que é errado, sei que não devo mimá-la dessa forma, mas não posso evitar, é um instinto fazer tudo que posso, tudo que está ao meu alcance para fazê-la feliz e assim preencher o vazio que a ausência e forma rude que meus pais a tratam causa.
- Olha bebê, mês que vem eu te dou, sim? Mas você tem que ir muito bem na escola, se todas notas tiverem a partir de oito, eu compro a Barbie que quiser - proponho, pegando alguns fios soltos e prendendo com uma das presilhas tic-tac espalhadas em seu cabelo.
- Até em matemática? Eu sou muito ruim em matemática, talvez eu fique com sete.
- Quando estiver perto da prova, me avisa. Aí nós marcamos de estudar juntos, eu sou muito bom em matemática, sabia? Posso te ensinar - proponho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Red Sound I l.s.
FanfictionViver em uma Inglaterra ditatorial não é algo exatamente fácil, injustiça, autoritarismo e violência são partes da rotina de Louis Tomlinson, um adolescente surdo em seu último ano de escola. Ele odeia militares, mas infelizmente vive no mesmo loca...