"Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina. Eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens"
◇
Geralmente os pais de Zayn o buscam na escola, ele mora bem longe dela, tendo que pegar alguns ônibus para voltar para casa. Entretanto, por causa de seus trabalhos nas fábricas e os turnos prolongados de última hora, algumas vezes eles não podem vir. Nessas ocasiões eu me ofereço para levar ele, não me sentindo confortável em deixá-lo sozinho andando pelas ruas perigosas e sem acessibilidade da periferia.
A viagem dura uma hora de ida, depois mais uma hora dentro no ônibus para voltar para casa. O sol já não está mais no centro do céu quando piso no bairro chique, meu estômago ronca enquanto percorro o caminho do ponto de ônibus até minha casa.
Bruscamente sou tirado dos meus pensamentos quando uma mão forte me puxa para trás, no segundo seguinte sou jogado na calçada quente, minhas mãos se tornando arranhadas graças ao esforço de amortecer minha queda.
O militar grita sem parar, o cassetete em sua mão enquanto ele ameaça me bater.
- Me desculpe, eu não fiz nada. E-eu... - eu tento me explicar, mas ele me interrompe.
"Identidade, agora!"
Com as mãos trêmulas tiro o documento do meu bolso, esticando-o para o homem com movimentos calmos, tentando não fazer nada que provoque mais sua ira.
Ele analisa o documento, seus olhos descem para a foto, logo depois ele analisa os dados. Sua boca se move rápido demais, eu não consigo ler o que ele diz, o nervosismo e medo contribuem para que eu não consiga entender uma palavra sequer.
Suas expressões de raiva denunciam que ele está gritando, seu braço se ergue, eu só tenho tempo de erguer meus braços e proteger meu rosto.
- Eu sou surdo, e-eu não con... por favor... eu... - Outra cacetada atinge meu braço, arde como o inferno, eu sequer consigo tentar fugir, apenas me encolho e torço para a surra acabar.
A dor ainda trêmula tão vivamente em minha pele que eu demoro alguns segundos para perceber que as pancadas cessaram. Eu ergo meu rosto, notando o guarda encolhido enquanto Harry está entre nós, seu corpo provocando uma sombra sobre o meu.
Ele grita diante do militar, esticando sua identidade. Ao ler seu sobrenome e provavelmente descobrir de quem ele é filho, o guarda abaixa o cassetete.
"Eu chamei e chamei ele, mas ele não respondeu. Continuou andando, descumprindo minhas ordens de que parasse para ser identificado... Eu não tinha como saber que ele é surdo...", eu consigo ler em seus lábios.
Harry se abaixa, ele me ajuda a levantar, enquanto continua a gritar sem parar com o militar.
"Ele está com a merda do uniforme da escola do bairro, era óbvio que ele mora aqui. Não há justificativas para ter o agredido."
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The Red Sound I l.s.
FanfictionViver em uma Inglaterra ditatorial não é algo exatamente fácil, injustiça, autoritarismo e violência são partes da rotina de Louis Tomlinson, um adolescente surdo em seu último ano de escola. Ele odeia militares, mas infelizmente vive no mesmo loca...