12. "se..."

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"Eu levo a sério, mas você disfarça, você me diz à beça e eu nessa de horror, e me remete ao frio que vem lá do sul. Insiste em zero a zero, e eu quero um a um. Sei lá o que te dá, não quer meu calor, São Jorge por favor me empresta o dragão, mais fácil aprender japonês em braile do que você decidir se dá ou não"

 Sei lá o que te dá, não quer meu calor, São Jorge por favor me empresta o dragão, mais fácil aprender japonês em braile do que você decidir se dá ou não"

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Ser adolescente é difícil, ser adolescente em meio a um regime autoritário é milhares de vezes mais. A polarização extrema na qual nasci inserido é cansativa, de um lado há o extremo nacionalismo, a fé cristã, a fé cega nos militares. Do outro? A esquerda revolucionária, movimentos de contracultura, a busca pela liberdade de pensamento. E, no meio disso tudo, há eu. Alguém que dentre tantos problemas, se vê perdido em meio a essa polarização, alguém que definitivamente não concorda com o regime atual, mas que definitivamente não sabe como apoiar aos grupos que buscam derrubar o regime ditatorial.

Sempre há medo pairando nas ruas, na escola, até mesmo na minha casa. A sensação de sempre estar sendo observado, não importa onde esteja, me perseguindo pelas ruas. Sequer posso conversar com meu melhor amigo sobre assuntos delicados no transporte público, porque há sempre militares disfarçados e infiltrados entre civis em busca de repreender qualquer um que espalhe ideais de esquerda.

É uma pressão tão extrema que me torna desconfiado o tempo inteiro, ainda mais depois do que aconteceu com meu pai, não me sinto capaz de acreditar em ninguém. Não importa, não importa se esse alguém tem adoráveis olhos verdes e sorriso cativante, não importa. Sempre haverá uma vozinha em minha cabeça me alertando que talvez ele esteja em um plano com seu pai, que descobriu sobre o passado sindicalista do meu e agora tenta descobrir se herdei seus ideais políticos.

Sempre que um impulso de confiar mais em Harry, em devolver a suposta confiança que dedica a mim, a desconfiança de que talvez ele seja um abutre disfarçado surge em minha mente. Ninguém pode me culpar por ser assim, em um regime como esse, definitivamente não seria algo absurdo um adolescente patriota prestes a ingressar no exército cooperar com um plano de dedurar outros adolescentes que defendem pautas que firam ao atual regime.

E lutar contra a inclinação de acreditar completamente em sua bondade e sinceridade, batalhar contra a imensa vontade de desabafar sobre como me sinto sozinho nesse mundo é extremamente desgastante quando tudo que quero é mergulhar em seus olhos verdes expressivos. Eu amo minha mãe, juro que amo. Mas depois que meu pai se foi, eu sinto como se ninguém mais me entendesse no mundo. Queria que ele estivesse aqui, queria que incentivasse a lutar pelo que acredito, gostaria que ele me mostrasse o caminho para sair de todos esses pensamentos conflituosos cujo parecem me afogar.

Às vezes imagino como seria conversar com ele novamente, sobre o que ele diria nesse momento complicado de descobertas pelo qual estou passando. Meu pai sempre foi extremamente observador, notaria que provavelmente me sinto atraído por garotos, talvez tenha notado quando ainda estava vivo. Se estivesse aqui agora, simplesmente sentaria casualmente ao meu lado no sofá e diria algo como então meu garoto brilhante gosta de outros garotos brilhantes?, em um tom tão acolhedor e leve, que qualquer dúvida sobre aceitação que restasse em minha mente desapareceria. Ele me ajudaria com meus problemas de desconfiança, me incentivaria a seguir meu coração e intuição, me daria conselhos de como não falhar com o meu primeiro amor.

The Red Sound I l.s.Onde histórias criam vida. Descubra agora