Os Strong Owls amam vodka - ou ao menos precisam dela

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— Onde ele está? — Áurea comentou, sem nenhum pingo de pacificidade. 

Vislumbrei Ethan se movimentar com destreza por entre o corpo de pessoas e por mais que não fosse bem o que chamamos de festa surpresa — até porque o aniversariante sabia do evento — a intenção de Ferro era uma das melhores. Quer dizer, nunca o vi tão dedicado e embora fosse algo que ele seja bom em fazer, há um toque sentimental em cada pequena pedaço daqui. E para um subterrâneo do internato, até que estava um ambiente perfeito e agradável.

— Em breve ele aparece. — Hoseok comenta instintivamente, completamente aéreo. Era o tipo de resposta automática que só me fazia perceber que seus pensamentos estavam em outro lugar. Que não seja Taehyung, por favor.

— Por que estão esperando por ele? — Maggie anunciou da maneira mais ridicularizada que havia em si. Estava de mau-humor por alguma razão. — Até parece que não conhece a peça, Áurea. — Revirou os olhos, deslizando entre nós e dirigindo-se até a outra extremidade para distrair-se com o ponche de bebidas.

— Gente? — Jason questionou, franzindo ambas as sobrancelhas e utilizando sua sonoridade mais afeminada.

— Alguém viu o Jimin? — Áurea indagou e senti o fervor em meu sangue estremecer por entre minhas veias.

— Nem começa, garota.

Ela mostrou o dedo médio, irritadiça.

— Na verdade — Taehyung comparecera com os fios cor-cinza molhados e o aroma pós-banho exalando. Umedeceu os lábios assim que Jung o encarou abruptamente, deslizando as respectivas mãos para dentro do bolso da frente de sua calça. — Ele está se arrumando. — Recostou-se à parede de tijolos frios, movimentando sutilmente os ombros de forma que fizessem Jung Hoseok babar. Por sorte este estava distraído demais com quais das opções de álcool encheria a cara.

— Quem? — O tique nervoso no olho direito de Áurea era perceptível. Menina maluca...

Observei a postura de Hoseok enrijecer, extremamente amedrontado com a resposta que viria logo em seguida. Os olhos queriam fugir da realidade que em breve ouviria.

— Jungkook, ué.

O vi exalar todo o ar de seus pulmões de forma tranquilizadora, embora tentasse manter em seu semblante o típico eu-não-ligo-para-o-que-você-diz. Em um movimento rápido entrelacei seu braço por entre meus dedos e o conduzi — mancando. Droga de joelho que não melhora! — para a mesa de bebidas.

— Nem era para eu estar aqui. — Colocou a palma da mão esquerda em sua própria testa, massageando-a frequentemente. — Como membro do comitê disciplinar, sendo meu primeiro dia inclusive — fez questão de frisar. — estarei passando um péssimo exemplo para todos.

— E quem liga pra isso? — Ergui a sobrancelha esquerda e ele soltou levemente a risada que tentara conter. — Todos estão perdidos, não tem jeito. — Deslizei o braço até o ponche de cor azulada com várias bebidas misturadas, despejando-a em um copo qualquer. — Você precisa disso aqui. — Sorri compreensivamente, sem expor os dentes e Hoseok retribuiu à altura. Ergui o corpo até ele, que não pestanejou em pegar e digerir três goles de uma única vez. — Ei, ei, ei. — Dei um tapinha em seu ombro sentindo que embora disfarçasse muito bem, ele ainda estava preocupado. — Vai com calma, gato. — Aconselhei porque era o começo da festa e ele perderia parte do divertimento se pegasse uma dessas milhares garrafas e levasse em um cantinho reservado apenas para ele. — Fico feliz por você, mas ainda não é o momento.

— Pelo visto nunca é. — Levantou as mãos como se estivesse festejando por algo, virando o copo de uma única vez. — Fala aí, Francine. — Apoiou o copo na mesa, dedilhando as outras garrafas de vidro altamente perigosas com as pontas dos dedos. — Qual é a sua com o Ethan?

Meu coração acelerou, mesmo que não tivesse nada a esconder dele. Quer dizer, foram só algumas ficadas, mas não significa muita coisa. Por que o fato de cogitar sobre a hipótese de ter que lhe contar algo me faz estremecer ruidosamente?

— É! — A silhueta magricela de Margareth Adams Mitchell inclinou-se sobre a mesa, em sua outra extremidade, o rubor em suas bochechas, mas não por constrangimento. A garota estava tão nervosa que os lábios comprimiam-se uns contra os outros com frequência. — Fala pra gente, Francine. — Ergueu a sobrancelha direita em sinal de ameaça, toda a raiva contradizendo o fato de que claramente queria chorar.

Repreendi Hoseok com o olhar, que como resposta movimentou os ombros e fez uma careta do tipo ‘’não me importo.’’ Ele esteve tão preocupado e triste com sua situação atual que não seria capaz de notar quanto sua indagação poderia machucar outra pessoa — por mais que fosse alguém como Margareth. Ele não agiria de tal maneira caso não se tratasse de Ethan Ferro, mas o que eu podia fazer? Era o cara mais nojento e repulsivamente gato que conheci. Me dá até ânsia.

Recompondo-me, ri nasalado, de uma forma que transmitisse deboche e cinismo.

— Por favor, né, Maggie. — Maneei a cabeça negativamente, como se não pudesse ao menos cogitar em estar ao lado de Ethan. Inclinei-me sobre a mesa e enchi meu copo com o ponche de bebidas abruptamente. — Não me faça rir.

— Vai me dizer que vocês não tem nada? — Gargalhou ironicamente, embora em seus olhos emanassem resquícios de esperança. Era o tipo de questionamento em que demonstrava não se importar, tampouco almejava resposta, porém que no fundo fosse consumida deprimentemente pela ansiedade.

Fiz uma pausa, olhando-a de cima a baixo e tive quase certeza de que suas mãos estavam tremulas. Sorri de maneira que mostrasse meus dentes, torturando-a um pouco mais. Foram segundos antes que eu pudesse contravir, mas tenho total certeza de que para ela pareceram horas.

— Não aconteceu nada do que você já não saiba. — Pisquei e as íris da garota faiscaram. — Pense o que quiser, Margareth. — Brindei no ar, vislumbrando pela visão periférica Hoseok cobrir o riso com a mão, embora seus olhos se refugiassem em procurar ninguém menos do que Taehyung. — Não enche o saco, beleza? — Deveria ter sido uma saída triunfal ao empurrá-la ‘’sem querer’’ com o ombro, porém desde o último jogo de Handebol meu joelho estava tão fodido que apenas conseguia mancar.

Maggie, estática, engoliu em seco e ajeitou a postura antes de piscar muitas vezes e encher o copo de Vodka.

Strong Of Character - HolocaustoOnde histórias criam vida. Descubra agora