Jimin atirou o moletom branco acima da cama de Carter, analisando a respectiva cintura ao espelho inteiramente trincado da escrivaninha. A camisa social e o blazer azul-escuro com o emblema de coruja que Park havia trazido em seus ombros estavam jogados por cima delas. James dissera que iria reformar o quarto, o era uma perca de tempo. Até tinha me acostumado em abaixar um pouco o corpo sempre que ia olhar meu reflexo.
Como se tivéssemos total intimidade — o que funcionava corretamente na mente de Jimin já que ele me ajudou durante uma madrugada inteira. — questionou:
— Por que isso aqui tá assim?
O cinto da calça jeans preta apertou ainda mais sua tez aos movimentos de quadris por vislumbrar a si mesmo com tamanha compaixão. As marcas que outrora estavam ali já não marcava sua pele e Jimin parecia tão vitalizado quanto antes. Na verdade, os únicos riscos que havia em si eram em suas omoplatas, onde as asas haviam sido arrancadas.
— Estou falando com você. — Me encarou pelo reflexo trincado, ajustando o cinto em sua devida posição.
— O que tá fazendo aqui?
Ele revirou os olhos, caminhando pelo quarto com tanta autoridade como se se recordasse dele.
— Não é óbvio? — Virou para mim, mexendo em seus fios negros de cabelo. — Evitando o Taehyung.
Sentei sobre a cama, sentindo minhas costelas tão rigorosas quanto antes. Eu não havia ido para as aulas ainda porque tive preguiça e nada em questão de estudos realmente me importavam. Espreguicei-me, retirando o curativo patético em meu abdômen.
— Que bela forma de fazer isso. — O apreciei de cima abaixo e embora estivesse gostando da visão que tinha, tive que me esforçar para o olhar com indiferença. — Logo no meu quarto? — Cocei a cabeça, levantando-me lentamente e notei como sua postura de confiança em relação a mim havia mudado. Não era como se estivesse hesitante ou receoso, porém sabia que havia o atingido de um certo modo.
— Seria esquisito ver Hoseok...
— Isso não importa. Já falei que não quero nenhum contato com você.
— Não exagera. — Mostrou a língua e se inclinou sutilmente para suas roupas, pegando a camisa social a fim de vesti-la. Respirei profundamente, fechando os olhos por um instante. Ele com certeza agiu intencionalmente. — Eu sei que você quer. — A entonação das duas últimas palavras ecoou maliciosamente em minha consciência e não soube disfarçar a forma ladina a qual havia o olhado. Sem dúvidas eu queria. Muito. — Isso é só mais um favor pelo armário e todo o resto. — Sabia que eu tenho que ficar carregando um monte de livros por ai só porque você ficou putinho?
Ele suspirou, vestindo o blazer azul-escuro.
— Sabia. — Respondi em um tom divertido, o que o deixara nervoso. E o que, automaticamente, me recordava da razão de tê-lo feito. Foi merecido.
— Foi o quê?
Não contive minha expressão incrédula. Talvez eu estivesse pensando alto em demasiado, porque jamais alguém conseguia ler a mente de um demônio e pensar que Jimin poderia fazê-lo é frustrante. Claro que não podia, seria loucura.
— Eu não tenho nada a ver com as suas discussões.
Na verdade ele teve muito a ver.
— É. Um pouco.
— Você quem fez besteira.
Revirei os olhos, repelindo e extraindo o anseio que havia em mim em dizer que a culpa era de Taehyung e de como Jimin tinha o beijado e provavelmente gostado daquilo. Ou então como pensar nos dois como um casal, caminhando repulsivamente pela Strong de mãos dadas, me dá nos nervos.
— Isso porque não tinha nada a ver comigo né, senhor Jeon?
Ouvi-lo proferir meu nome fez-me estremecer, porque poderia significar que talvez ele recordasse de algo — o que explicaria o fato de insistir tanto em um cretino como eu. Mas, mesmo se não fosse — e aparentemente não era — a voz pronunciando meu nome lentamente, com seus lábios rosados enquanto a língua movia-se sutilmente me fez estremecer.
— Vai ficar se lembrando dessa merda até quando?
— Até você admitir que também sente algo por mim.
Bufei em sinal de exaustão, revirando os olhos gradativamente.
— Ter amnésia te fez ter mais ego?
Jimin não aparentou se incomodar com o fato de que estivesse comentando sobre o seu problema. Para ser sincero ele parecia muito mais interessado. Quer dizer, deve ser que já estivesse acostumado com a ideia de ter perdido a metade das lembranças.
— Eu sou quem estive sendo. — Ele gesticulou, retornando a olhar-se ao espelho. — Mas tudo bem... Sei a verdade.
Revirei o meu armário em busca de roupas que não estivessem sujas. Havia um tempo desde que não as lavava, mas não por preguiça e tampouco desleixo. Só não obtinha tempo. E, bem, se para ficar sozinho significasse que teria que juntar todas essas vestimentas e lavá-las, iria fazê-lo.
— Se vista bem para a pintura. — Apareceu atrás de mim, a cabeça tombando levemente para o meu lado esquerdo a fim de especular meu guarda-roupa totalmente caótico.
— Sabe o que é? — Forjei a voz de tristeza que evidentemente nunca existira em mim. Bom, em partes. — Vou estar bastante ocupado hoje. — Direcionei a movimentação da cabeça para o armário.
Ele arfou profundamente, relutando a ideia de que não queria ser seu modelo, tampouco estar consigo.
— Eu te espero. — Sorriu amigavelmente.
— Você tem aulas e...
— É só eu dizer que passei mal ou alguma coisa assim. — Sentou-se à minha cama, cruzando as pernas sutilmente.
— Você não desiste, garoto?
— Não. — Fechou os olhos ao expor os dentes praticamente alinhados. Eram perfeitamente brancos, reluzindo a sensualidade por trás do negro em seus cabelos. — Gosto da sua honestidade.
— Como é?
— Isso mesmo. — Tateou minha cama, como se a desse carinho. Os dedos gordinhos aprofundaram-se aos lençóis. — Você é o único sincero nessa merda de internato.
— Nem fodendo.
— Conta outra. — Ele gargalhou cinicamente. — Talvez me trate de forma hostil, mas gosto de como expõe o que sente sem medo. As outras pessoas me tratam bem por pena.
— E por isso vai me obrigar a ficar com você?
— Basicamente. — Os dedos da mão esquerda mexeram-se por entre os fios rubros, jogando-os cautelosamente para a outra extremidade de sua cabeça. — Eu sou como Áurea pra você, só que menos falso.
Não contive a risada, porque era verdade. Não compreendo se Áurea esteve tentando conversar com Jimin ultimamente, porém não me importa. Talvez a distraía de mim e pare, por algum tempo, de me encher o saco. Ainda não sabia até que parte da memória de Jimin foi afetada, porém alguns neurônios devem ter sido destroçados por fazê-lo desejar ficar comigo. Ou não. Melhor que Taehyung, eu garanto.
— Garoto, eu... — Minha voz rude estava se tonalizando antes de Jimin me interromper, apontando o dedo indicador em seus próprios lábios para anunciar que eu deveria ficar calado.
— Nada vai me fazer mudar de ideia.
Essa poderia ser uma nova versão de Áurea em Jimin. Ela corria atrás de mim e normalmente eu a desprezava com palavras desumanas e então ela chorava por horas e tentava recomeçar no dia seguinte. Não queria dizer, mas são coisas que inflam meu egocentrismo ainda mais, até porque Park tem pensado feito um maluco se acha que eu vou ter qualquer tipo de envolvimento com ele. E, embora dilacerar seu coração lesione mais a mim do que a ele mesmo, é necessário praticá-lo.
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Strong Of Character - Holocausto
FanfictionApós renascer de uma morte planejada, Park Jimin perde metade de suas lembranças e dependera dos exames para compreender se a amnésia pode ser momentânea ou se irá intensificar conforme o tempo. Porém o tempo é exatamente a duração relativa que o fa...