Havia acabado de vestir o uniforme que um atleta de futebol americano vestiria. Embora não sou ligado especificadamente em futebol americano, até que me dou bem nos demais esportes. Aprendo muito rápido, por sinal. Então garanto que o técnico Kelel Denner não irá hesitar ao me colocar em uma das posições mais importantes do time, o que fará Andrew permanecer mais deprimente do que já está.
Ajeitei a alça de minha bolsa com as vestimentas pós-treino e desci as escadas do alojamento, caminhando pelo vasto corredor com demasiados quartos antes de deslizar para mais degraus abaixo. Apertei minha garrafinha Squeeze preta ao encostar meu osso da cintura no metal frio do corrimão, que me trouxe arrepios indescritíveis. Era esquisito sentir tal emoção, mas nada estava ordenado desde os recentes acontecimentos, portanto apenas parei de questionar e evitei pensar tanto no que poderia ter me tornado em um ser tão sentimentalista e medroso — em certas áreas, é claro. Mas simplesmente é inevitável desvencilhar-me da reação automática que meu corpo tem ao encontrar Park Jimin. Ele reagia abruptamente antes que eu — com meus raciocínios acelerados — pudesse dar conta e disfarçar a clareza que minha expressão corporal denunciava.
— Aonde você vai? — Ele questionou aparentemente aturdido embora entregasse seu máximo para conter suas emoções. Suas íris incolores percorreram todo meu corpo antes que retornasse a respirar. Jimin tinha mesmo se esquecido de fazê-lo. — Não terminei a pintura.
— São estações diferentes, temos tempo suficiente.
— Mas... — Seus pensamentos certamente estavam concentrados em outros assuntos, cogitando sobre qualquer outra coisa que visivelmente o tornava aéreo. As sobrancelhas semicerraram e as íris contemplaram meu rosto outra vez. — Não foi à reunião do pátio, não é?
— Não.
— Sabia. — Ele sorriu, coçando a nuca com a unha do dedo indicador. — É sobre não ter aulas hoje.
— É uma atividade extra. — Apontei para o meu corpo porque sabia que seria apenas mais uma de suas desculpas para apreciar-me.
James havia me avisado o quanto antes de como os membros do C.D estavam peculiares e nervosos e ressaltou variadas vezes que cabia a nós, sendo eu, ele, Áurea e possivelmente Taehyung — porém mais do que certo para o não — averiguar a situação, até porque coincidia com a caixa que Crowler havia me mandado. Que, aliás, encaixava-se perfeitamente o sumiço repentino de Áurea Petterson. A garota sequer havia invadido meu quarto com sua presença impertinente e apesar de eu estar gostando do fato de poder não ter que aturá-la, é esquisito não ser obrigado a fazer isso.
— Então eu te espero. — Cruzou os braços, fazendo-me reconhecer a voz sonolenta de quem tinha dormido pouco — ou tinha dormido muito. — mas para o caso de Park Jimin, que passou a madrugada inteira comigo, é certo de que a primeira hipótese faz mais sentido.
— Você precisa dormir.
Analisei as mangas da camisa larga sujas de tintas e os pinceis contornando os dedos inchados e pequenos gradativamente. Eram mãos fofas e macias que poderiam me levar a outro universo caso eu não tivesse sido tão burro e egocêntrico.
— Eu não quero. — Sua voz embargou como quem sinalizava que iria chorar, mas nada de lágrimas transparentes em seus olhos.
Soltei uma risada nasalada porque a única coisa que tinha certeza que compreendia sobre Jimin era como ele não gostava de se sentir péssimo e com mal-estar antes de fazer qualquer atividade produtiva — ou não — em seu dia. Além de que seu corpo não estava mais acostumado à rotina de madrugar por horas e parecer ter um aspecto aparentemente bom.
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Strong Of Character - Holocausto
Fiksi PenggemarApós renascer de uma morte planejada, Park Jimin perde metade de suas lembranças e dependera dos exames para compreender se a amnésia pode ser momentânea ou se irá intensificar conforme o tempo. Porém o tempo é exatamente a duração relativa que o fa...