Um Strong Owl deve saber enfrentar a volta de seu grande amor.

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Após o término da segunda aula Hoseok e eu decidimos nos encontrar no campus. A paisagem é exorbitante, as gramas sempre cheiram ao aroma natural recém-cortado e o céu azul-royal com tonalidades de azul-capri rasgando entre as nuvens que aparentavam ser tão macio quanto algodão, sentados no banquinho amadeirado abaixo da árvore Jacaranda-azul e Wisteria. O ambiente traz tranquilidade a toda melancolia que causava o internato, além de serem as árvores preferidas de Jung Hoseok.

Ao longe, James atravessava o campus, correndo em nossa direção. Estava com o blazer pendurado no antebraço e um livro de capa de couro na mão esquerda. Carter estava tão eufórico que prendi a respiração por alguns instantes.

— Adivinhem quem é o novato da Strong? — Balançou o livro sutilmente, mostrando ser o manual que todo Strong Owl era obrigado a possuir, mas que ninguém lia, com exceção dos membros do C.D, é claro.

— Sério? — Jung sorriu, os fios avermelhados voando devido a brisa leve em seus cabelos. — Por que quis fazer parte desse inferno?

É graciosa a forma como Hoseok consegue ser simpático com todos, até mesmo com as pessoas que nem fazia ideia que existiam. Jung apenas expunha o seu melhor sorriso e cativava todos com o jeitinho singelo e meigo de conversar. Ele não era o tipo de pessoa que se importava com atenção — embora pensassem isso dele. — Há uma grande diferença de ser quem é, agindo espontaneamente e forçar uma personalidade para tentar se enturmar. Jung definitivamente é o tipo de ser que transmite uma sensação de conforto e calmaria, felicidade e autenticidade, uma paixão contagiante.

— Era solitário no búnquer.

— Pelo menos você podia sair. — Hoseok murmurou, entre risadas diminutas, embora se entristecesse por não conseguir visitar a família quando mais precisava.

— Vocês também podem. — Carter desviou os olhos para mim, totalmente desorientado. — Mas não agora...

Havia compreendido que James referia-se à Jimin e ele sabia que, de certa forma, estive fugindo falar sobre o assunto. Não porque ele havia renascido agressivo — aliás, ele atingiu as pessoas certas. — mas, qual é, há boatos que ele se esqueceu de tudo e eu não posso lidar com a situação ainda. São cinco anos de amizade e há pouco tempo atrás era loucamente apaixonado por ele. Quer dizer, eu achei que era. Estou confuso sobre isso, mas não quero ter que magoar Hoseok, ele é incrível demais e não merece isso.

— Falou com ele? — James comentou cautelosamente e evitei olhá-lo.

— Ainda não.

— Por quê?

— Não vou conseguir.

Carter suspirou e Hoseok tentou disfarçar a forma que havia me encarado com a resposta.

— Você precisa ir. — Ele acariciou meu ombro, fazendo-me apreciar seus olhos que me davam frio na barriga e o insuportável nó na garganta, mas não sei dizer se pelos motivos corretos. — O vi na aula de literatura do Sr. Shaw quando passei no corredor pra aula de biologia. — A tonalidade baixou, como se falar em Jimin também o ferisse, o que acho mais provável pelo apego que tem por ele. — Ele parecia bem...

— Não falou com ele? — James questionou, a sobrancelha arqueada.

— É sério, estou tão despreparado quanto vocês.

— Só não conversei por falta de oportunidade. — Carter retrucou. — Sentia falta dele. — Olhou para os alojamentos composto por tijolos vermelhos, ansioso. — Além de que você não vai poder evitar por muito tempo, campeão. — Ele sorriu de maneira humorista. — São do mesmo quarto. Pelo menos não vai ter que aguentar Áurea tentando transar com Jungkook o tempo todo.

— Boa sorte. — Gargalhei. Carter era inteiramente hilário e não fazia ideia disso.

— Eles não tinham terminado? — Jung indagou, sem entender. Às vezes esqueço que não havia contado absolutamente nada sobre como conheci James ou o que aconteceu entre Jungkook, Jimin e o pai de Áurea. Sendo honesto não pretendo contar, só se em algum momento não houver como esconder. Sei que preciso ser aberto em relação a esses acontecimentos com Jung, mas ele me consideraria o monstro que aparentemente estive me tornando ultimamente. E, pode ser egoísta, porém ele tem uma visão tão perfeita de mim que não suportaria outro tipo de tratamento.

— Você sabe como a Áurea é. — James deu de ombros e notei que Hoseok estava achando esquisita a maneira como mencionava a garota Crowler sendo que entrara para a Strong agora.

— É, eu sei. — Franziu ambas as sobrancelhas, encarando-me enfaticamente. Ao perceber que involuntariamente dei de ombros, ele arfou. — Não acha que Jeon e Jimin tenham tido algo? Sei lá, ficaram durante uma semana inteira fora.

— Não, eles foram pra missão juntos, mas se afastaram logo depois. — Anunciei, antes que James pudesse dizer alguma coisa que comprovasse o fato de que ''estranhamente'' conhecesse todos nós. — Tinham propósitos diferentes.

É doloroso reconhecer que eles tinham tido algo muito mais intenso do que troca de olhares e alguns de milhares xingamentos. De início foi difícil acreditar que realmente poderia ser possível, porém o comportamento de Jeon Jungkook tinha mudado tanto nessas últimas semanas que tenho a certeza de que era um sentimento recíproco. Agora o otário infelizmente sofreria por um amor não correspondido e por mais que ele merecesse toda essa merda por ser culpa dele, sei bem como é amar tanto a ponto de se transformar em algo torturante.

— Mas viram Jungkook indo visitar Jimin hoje cedo.

— Jungkook? — Carter não evitou a surpresa em sua voz, até eu estive embasbacado. Não por ser um covarde e não ter ficado com meu melhor amigo, mas porque estávamos presente quando ele fizera o pacto com Áurea e prometera se afastar de Jimin caso ele retornasse. Talvez tenha ido se despedir, algo assim. É, sua vida estava começando a piorar.

— Sim, ele parecia meio... Como se diz? — Olhou para os céus como se esperasse que a resposta viesse deles. De certa forma foi o que havia feito Jimin retornar, porém aposto que não por bons motivos. — Aturdido.

— Não acho que tenha ido cobrar o soco que ele levou. — James gargalhou, o que me fez recordar de como Jimin queria mata-lo de verdade. — Ele mereceu.

— Não sei, mas é esquisito. — Jung deixou claro que o assunto estava o deixando curioso no tom de sua voz, mas deduzo que é algo temporário como seu péssimo humor quando comento sobre Jimin. Ele tem todo o direito de sentir ciúmes.

Hoseok se inclinou para frente, apreciando os alunos entrarem para irem às suas respectivas aulas e se levantou abruptamente.

— Tenho que ir para a aula de artes. — Deixou um selar demorado em meus lábios e logo depois assentiu para James. — Nos vemos depois, amor. — Os sapatos esmagaram a grama molhada e em seguida a silhueta saíra do meu campo de visão.

— É cara, tenho aula de história agora, depois você briga comigo. — Apontou para onde outrora estava Jung Hoseok, o que me fez rir devido ao desespero alheio.

Limpei minha bermuda das folhas amassadas ao me levantar e revirei os olhos por saber que Carter estava tentando escapar de algo que eu não faria. Tudo bem, ele quase estragou as coisas, mas foi um quase. E embora não fosse, não faria sentido agredir ele ou seja lá o que tenha pensado que eu provavelmente faria.

— Eu te mostro aonde é. — Dei dois tapinhas nas costas dele, rindo. — Depois vou para a minha sala. 

Strong Of Character - HolocaustoOnde histórias criam vida. Descubra agora