19. Pesadelo de inverno

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Os últimos dias tinham sido extremamente pesados e o que eu mais queria, era esquecer o que aconteceu uma noite antes de pegar o trem de volta para casa.

O expresso corria como o vento e meus olhos de hora em hora ficavam mareados, eu sentia um nó na garganta terrível e visivelmente estava incomodada além de me sentir fraca.

Lupin estava sentado à minha frente, ele escondia seus ferimentos graves embaixo do seu terno preto, quem o via podia dizer que ele estava perfeitamente bem, mas eu passei a noite toda fazendo curativos e compressas nele, fora que ele tinha perdido muito sangue, aquilo me fazia ter medo daquele homem imenso desmaiar na cabine e eu acabar tendo que carrega-lo:

- Eu preciso dizer uma coisa, você é pequena, mas é durona! - Ele sorria dando alguns gemidos de dor, percebendo que eu o encarava.

- Você precisa de um médico Lupin. - Desconversei e apontei para o ferimento na costela dele.

- Nas minhas condições um médico agora seria uma péssima ideia. - Ele se encolhia com a dor.

- E eu chamo quem? Um coveiro? - Falei cruzando os braços por ele agir como uma criança e o homem acabou rindo e fazendo uma careta para mim.

- O seu humor é tão peculiar quanto o meu e eu adoro isso em você! Mas por favor, não me faça rir que dói. - Ele segurava os risos falando pausadamente.

Era até engraçado pensar que depois de quase uma semana juntos, criamos um elo muito grande a ponto de estarmos tão próximos que parecíamos amigos de infância, mesmo com uma puta diferença de idade:

- Pelo menos me deixa te dar algum remédio, sei lá. - Falei olhando minhas coisas e procurando meu kit de primeiro socorros.

- Boa ideia, pegue no bolso da frente da minha mochila o chocolate com rótulo vermelho. - Ele se escorava no banco apontando com dificuldade para a sua bagagem.

- Chocolate é bom, mas não é remédio. - Eu franzi a testa.

- Acredite, esse é tão revigorante do que qualquer poção de vigor que St. Mungus possa oferecer. - Remo respirava de forma acelerada e por isso dizia tudo com dificuldade.

Fui direto em suas coisas para pegar o chocolate enquanto ouvia ele se explicar. Assim que achei o doce, fui colocando alguns pedaços cuidadosamente na boca dele que ficava dando uma forte:

- Me dê aqui, eu consigo sozinho. - Ele ria enquanto eu enfiava os pedaços a força na boca dele. - Alya Black deixa de ser teimosa!

- Remo Lupin deixa de ser teimoso! - Eu fechei a cara sentindo meus olhos encherem de lágrimas involuntariamente

- Eu sou mais velho aqui. - Ele cerrou os olhos.

- E o mais machucado. - Retruquei e ele acabou relaxando os ombros percebendo que eu estava certa e finalmente me deixando ajuda-lo, eu limpei meus olhos com as mangas do paletó de Carlinhos e continuei a quebrar os pedaços de chocolate para ele comer.

- Sabe... - Lupin começou a falar com a voz calma. - Algumas coisas acontecem de um jeito que não temos controle, quando seu pai disse que você iria me acompanhar eu relutei em aceitar, não por você ser apenas uma adolescente, mas porque eu acredito que o mundo é muito cruel pra você começar a vê-lo dessa forma desde cedo.

- Eu aguento. - Funguei um pouco me sentando na frente do homem.

- Eu sei que aguenta. Mas eu perdi minha adolescência por descobrir o pior na humanidade e se não fosse pelo seu tio e alguns outros amigos eu com certeza seria como Fenhir Greyback.

- Onde você quer chegar? - Levantei a sobrancelha.

- Eu sei que seu pai tem um jeito peculiar de ensinar a sobreviver ao mundo, mas não esquece que você precisa viver a vida do seu jeito, nem tudo é caos como vimos ontem.

The Black's SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora