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Perdi a conta dos meus choros, mas os olhos inchados eram a prova suficiente do peso das lágrimas derramadas. Uma mistura avassaladora de sentimentos me invadia, como se tudo acontecesse ao mesmo tempo. A desilusão era parte integrante desse turbilhão, sem compreender o motivo de tamanhas expectativas. Ele me comprou para continuar trabalhando em sua casa, sem que nada tivesse mudado. Em momentos como este, a ausência de um ombro amigo amplificava a solidão que nos atormenta.

Pode-se dizer que aquele era o pior momento da minha vida, mas não posso negar a presença de amigos que se tornaram minha família. Calço minhas chinelas e desço a escada, percebendo o silêncio que envolvia o ambiente.

— Aonde pensas que vais? — encaro Bruno ainda com a mão na maçaneta.

—  Er... preciso de um pouco de ar puro.

— Tens muitas janelas por aqui.

— Não posso sair? — pergunto largando-a. — Se meu trabalho é satisfazer-te sexualmente, por que razão estou presa nessa casa?

— Não fales assim comigo! — sussura apontando para mim. — Controla esse tom Anita.

— Estou cansada de controlar tons. Eu estou farta de ser tratada como uma prisioneira. Se a tua intenção era ter -me exclusivamente para ti, era só me visitar  e me dar aqueles objetos que demonstram propriedade.

— Eu não te devo explicações, e já mandei você controlar esse tom.

— Vai se ferrar! — cochichei, com a certeza de ter sido em um tom fraco, no entanto, minha intuição mantinha-se errada , quando rigorosamente, ele perguntou:

— O que você disse? — seu olhos queimavam de raiva, ergueu seus ombros demonstrando sua postura autoritária.

— Eu disse "Vai se ferrar"! — faço questão de colocar ênfase na última palavra, escondendo o facto de minhas mãos estarem trêmulas.

Como um flashback, as memórias mais devastadoras regressaram em minha mente. Sem dizer nem uma palavra, direciono-me até às escadas, a caminho de meu quarto. Nada havia mudado, apenas o lugar e as personagens. O inferno era aqui.

O dia se arrastou lentamente

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O dia se arrastou lentamente. Fiquei trancada por horas, sem comida, sem companhia, e as batidas incessantes de Carla e Bruno na porta ecoavam pela sala. Por um momento, considerei que talvez morrer naquele quarto não faria diferença alguma, uma forma de aliviar o fardo que me tornei para todos. No entanto, a fome era implacável, e nada poderia mudar essa realidade. Vesti meu moletom, uma camisa longa preta, e retornei à cama, resignada ao destino que me aguardava.

Meu olhar se volta para a porta ao ouvir um barulho, e lá encontro um papel caído no chão com uma mensagem intrigante:

"Prepara-te, sairemos para um jantar muito importante".

Espalho o monte de papel, observando-o se espalhar pelo chão. Bruno transformou-se repentinamente, suas ações destoavam do homem que eu conheci apenas dois dias atrás.
O som das chaves ressoou atrás da porta, e antes que eu pudesse reagir, ela se abriu, revelando Bruno, acompanhado por Carla, em uma entrada que carregava consigo um ar de mistério e tensão.

— Eu espero na cozinha. — notificou ela.

— Não viu a minha carta? — Bruno questionou, de maneira indiferente.

— Li.

Resmungou algo que eu não pude ouvir, e coçou sua nuca. Era tão difícil assim perdir perdão? Sei que não mudaria a situação, pois meu rosto ainda permaneceria marcado, mas um pedido de desculpa nunca foi ruim.

— Podes parar de fazer esse teatro? — deixo um breve sorriso escapar. Isto era um teatro, então?

— Você não tem vergonha, pois não? — permaneceu calado. — Pois, era o que eu imaginava. Levanto-me silenciosamente da cama, pegando minha toalha. O som da porta fechando ecoa, uma confirmação silenciosa de que Bruno já se foi. Encaro meu reflexo no enorme espelho, e o que vejo refletido são olhos cansados, carregados de decepção e dor. Cada linha de expressão conta a história dos desafios enfrentados, das promessas quebradas e das lágrimas contidas. Neste momento de solidão e desilusão, a única certeza que encontro é a necessidade desesperada de encontrar forças para seguir em frente.

 Neste momento de solidão e desilusão, a única certeza que encontro é a necessidade desesperada de encontrar forças para seguir em frente

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Empunho um vestido azul com alça fina, exibindo uma abertura ousada na parte frontal. Meus cabelos soltos caem suavemente, enquanto passo rapidamente a prancha, cobrindo-os. Opto por uma maquiagem discreta; calço meus saltos azuis de bico grosso e pego minha bolsa.

— Estás linda, Anita. — Carla confessou.

— Muito obrigada. — agradeço simpática.

Enquanto me preparo, Bruno observa atentamente do sofá. Ignoro sua presença e adentro o carro. Até então, o orgulho imperava entre nós. Bruno parecia absorto, sem deixar de lançar olhares em minha direção.

— Anita... — deu uma breve pausa. — ... me perdoa, é difícil assimilar a ideia de que já não queres ficar perto de mim. Foi difícil achar uma mulher como você, não quero te perder. Eu não posso prometer, mas vou me esforçar para não tocar em você... eu preciso de ti.

— Eu te perdoo. — olho para ele, sorriu fraco, foi a primeira vez que o vi com um sorriso nos lábios. — Estou acostumada.

— Comigo será diferente. —  notei a ereção em sua calça, sem hesitar, toquei seus lábios.














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