Capítulo 11 - Qu'est-ce que tu as fait?

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Angel odiava aquele cubículo sem janelas, odiava a corrente que prendia seu pé, odiava suar tanto e odiava que sua garganta não doía mais - não adiantava gritar. Aonde quer que fosse aquele lugar, ninguém além de Mattia a ouvia.

A garota nem tinha mais certeza de quantos dias estava ali. Quatro? Cinco? Seis? Angel não sabia, mas estava perto de perder sua cabeça.

- Está com fome? - a voz de Mattia ecoou do lado de fora do pequeno quarto mal iluminado em que ela estava.

Apesar das circunstâncias, o cativeiro em que Mattia mantinha Angel não era terrível como nos dos filmes em que a garota vira. Era um quarto pequeno, com um colchão no chão que tomava quase todo o espaço, um balde no canto onde a garota fazia suas necessidades e uma luz amarelada fraca no teto. Nada mais.

A porta não era de cofre e nem tinha arranhões do lado de dentro de vítimas anteriores, era apenas uma porta marrom no meio da minúscula parede bege que era totalmente lisa e sem vida, apenas interrompida por alguns canos de cobre que passavam por uma das paredes - onde sua corrente estava firme.

- Não! - Angel respondeu, ríspida.

Mattia era agradável com Angel de uma forma assustadora que a garota odiava. As vezes ele entrava no quarto e murmurava coisas em italiano enquanto a encarava. Nunca fazia careta quando levava o balde com tampa para fora do quarto e lançava um sorriso a garota sempre que saía dali.

- Estou com vontade de sair daqui! - Angel estava sentada no colchão do chão.

A garota ouviu o garoto rir brevemente do outro lado da porta e a abriu. Atrás dele, tinha uma escura madeira que a garota não conseguia ver para onde dava. De onde estava presa, sempre via apenas um lado e não o outro.

- Eu sei que não quer estar nesse quarto e logo você não estará mais... - Mattia fez uma pausa e se abaixou com a bandeja que levava nas mãos - Basta você colaborar, sabe disso.

Angel negou com a cabeça.

- Eu nunca serei sua, Mattia.

- Você diz isso agora... - o garoto colocou a bandeja próximo a cama.

Angel se moveu bruscamente no colchão, o que fez o garoto se afastar rápido. Ela não conseguia ir muito longe, nunca conseguia alcançá-lo - mas sabia que ele tinha medo de ser alcançado por ela.

A garota estreitou os olhos enquanto encarava Mattia.

- Eu sou tão idiota por ter aceitado sair com você...

- Não, você não é idiota - Mattia deu de ombros enquanto se encostava no batente da porta - Um pouco burra quem sabe, desesperada, desatenta.

O pó branco estava bem por cima do gelo do whisky, Angel apenas virou o resto do líquido para dentro depois de Mattia apontar para o bar lotado em que estavam. "Olha só a sua volta" ele disse, "o bar está lotado, estamos aqui curtindo".

Depois do clique dos copos de vidro se batendo, Angel virou o resto de whisky que tinha e sentiu o álcool invadindo sua mente - mesmo rápido demais, a garota nem desconfiou, seu corpo já estava sob o efeito da substância misturada ali por Mattia.

- Vamos dançar? - ele perguntou assim que colocou seu copo vazio de negroni em cima do balcão.

Angel abriu um largo sorriso, como se aquele fosse o melhor momento de sua vida - só era por que aquele homem deixou de ser um cara que ela não dava a mínima e se tornou Charles Leclerc aos olhos da garota. Foi tudo fácil, tudo se tornou legal, dançar e sorrir, até que tudo começou a ficar borrado.

- Preciso sentar um pouco - Angel parou de dançar. Seus olhos estavam perdidos tentando procurar equilíbrio em tudo o que girava a sua volta.

- Você está bem? - a voz de Mattia pareceu distante no meio das batidas da música.

Angel cambaleou e sentiu a mão forte de Mattia segurar em sua cintura e guiá-la para algum lugar. A garota esperou sentar-se nas banquetas do bar, mas Mattia continuou a levando para a escuridão até que cruzaram a porta do bar.

- Minha bolsa... - a voz mal saiu da boca de Angel.

- Está comigo.

Mattia a colocou no banco do passageiro e Angel se sentiu aliviada por finalmente sentar, estava tudo tão confuso.

- Para onde vai me levar?

- Para casa...

Foi a última coisa que Angel ouviu, junto de sentir a mão de Mattia em sua coxa e apagar por completo. De certa forma, ouvir que estava sendo levada para casa a deixou tranquila.

Mattia só não especificou que não era a casa dela e sim a dele.

***

Charles estava na Bélgica, mas sua cabeça estava na França. Em algum lugar da França onde Angel poderia estar.

O piloto não sabia como faria uma boa corrida com um retorno das férias como aquele: o amor de sua vida estava desaparecido. O pior era que estavam brigados, terminados.

Charles sentiu uma onda de culpa a parte do momento em que não acreditou em Esme que disse a ele que Angel corria perigo em Alençon.

- Angel está em perigo! - Esme exclamou no telefone, interrompendo Charles que tentava se livrar das constantes ligações da garota.

O piloto ficou em silêncio por alguns segundos e franziu o cenho. Tudo o que sabia era que Angel estava em Alençon depois da garota postar um único story em dias em seu Instagram.

Era impossível Angel estar em perigo em sua terra natal, em sua casa, pensou Charles.

O garoto riu e negou com a cabeça, incrédulo.

- Incrível como essa sua obsessão com Angel chegou a níveis realmente assustadores. Ela só estará em perigo se estiver com você por perto, Esme...

- Sim! Aí é que está! Eu levei o perigo até ela, até vocês...

Charles bufou e interrompeu Esme.

- Sabemos disso - o piloto desligou e guardou o celular no bolso de sua bermuda de tecido fino de academia.

Em perigo, o pensamento surgiu em sua cabeça e ficou martelando durante todo aquele dia que ele passou com Charlotte em Monaco. A garota conversava com ele, mas Charles não ouvia uma palavra sequer.

Angel não podia estar em perigo, podia?

A sua pergunta foi respondida dois dias depois daquele, quando Charles acabara de chegar na Bélgica.

Depois de não ligar mais por dois dias, Esme voltou a ligar incessantemente para o piloto.

Charles recusou a chamada na primeira vez quando ele estava no carro a caminho do hotel. Quando chegou ao seu quarto e jogou seu corpo na cama, o celular voltou a vibrar, era Esme novamente.

O piloto estranhou a longa distância entre uma ligação e outra, sentiu obrigação em atender.

- O que você quer?

- Você pode tentar ligar para Angel?

Charles franziu o cenho.

- Natalie já pediu ajuda da polícia, mas não basta tentar.

- Ajuda da polícia?

Esme deu um longo suspiro do outro lado da linha.

- Eu disse a você que ela estava em perigo não disse...

Charles sentou-se bruscamente na cama e negou com a cabeça.

- Não, ela não pode estar. Ela está em Alençon, como pode estar em perigo em Alençon?

Esme suspirou mais uma vez, Charles percebeu que na verdade a garota estava chorando.

- Ela estava em perigo em todos os lugares, Charles...

- O que você fez a ela?

Esme soluçou do outro lado da linha, Charles sentiu seu estômago revirar.

- Você precisa me escutar e entender que eu apenas estava tentando evitar que o pior acontecesse, das piores formas, mas eu não queria isso para ela...

- Esme! - Charles se levantou da cama e exclamou ao telefone - O que você fez? Onde está Angel?

Gold | 2 | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora