Mad Max

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O sinal toca uma ultima vez avisando que já era hora de irmos embora. Pego minhas coisas no armário e sigo o fluxo de crianças desesperadas para ir para casa, mas eu com certeza não estou empolgada por passar alguns minutos trancada em um carro com Billy. De longe avisto Lucas subindo em sua bicicleta, ele acena para mim e eu aceno de volta, me sentindo a maior idiota por fazer isso. Mas me sentia tão aliviada por não ter que passar o próximo intervalo nas escadas do ginásio imundo da escola.

Billy - quem é aquele? - ele me pergunta rígido e autoritário, como se estivesse me passando um sermão.

Max - ninguém - respondo seca entrando no carro. Ele entra também e acende um cigarro antes de ligar o motor.

Billy - ninguém?

Max - ele está na minha turma - não o encaro, afinal, nunca soube mentir bem. Ele apenas pigarreia e faz seu trajeto até em casa.

Quando chegamos, Neil e minha mãe estavam em clima de festa.

Billy - o que está acontecendo?

Neil - boas noticias. Consegui um emprego! - ele coloca sua mão no ombro do filho.

Susan - e vamos comemorar! - ela diz empolgada.

Neil - sim, essa noite vamos comer fora. Vocês dois conhecem a cidade melhor, vocês escolhem - ele diz para mim e para Billy. Billy e eu nos encaramos sem entender nada, acho que nunca vi Neil sorrir, ou melhor, sorrir para nós dois.

Billy - tem um bar legal na... - ele começa a falar mas logo é interrompido por Neil.

Neil - só pensa em bar, Billy. Não vou levar Susan e Max a um bar - ele o repreende mas ainda estava de bom humor, o que não fez Billy ficar de mau humor - Max, conhece algum lugar?

Max - tem uma lanchonete em frente ao fliperama. É o único lugar que eu conheço

Neil - então está noite iremos a lanchonete perto do fliperama - ele sorri para mim e logo se entretém com o que passa na tv.

Subo para meu quarto e começo a fazer a lição de matemática. Devo confessar que não é tão bom assim rever o conteúdo todo de novo. Quando faço alguma prova tiro o mínimo que preciso para passar de ano e jogo todo o conteúdo no lixo depois. É como se eu estivesse vendo de novo pela primeira vez, e me sentia uma idiota por não me lembrar de nada. Passo algumas horas arrumando meu quarto já que não tinha nada para fazer o resto da tarde, e meu quarto desarrumado já estava começando a me incomodar. Começo abrindo a minha caixa de roupas e penduro uma por uma no cabide, dobro as roupas mais velhas e organizo tudo em seu devido lugar. Na caixa ao lado tinha minhas tralhas, como meu pai insistia em chamar. Tinha meus pôsteres do Léo DiCaprio, algumas fitas cassetes de filmes de terror e minhas revistas em quadrinhos. A única coisa dessa caixa que não fazia minha mãe ficar maluca eram os pôsteres. Minha mãe nunca gostou quando eu voltava da casa do meu pai com uma fita nova, ela sempre dizia que filmes de terror não era coisa de menina assistir. Mas esses filmes sempre me cativam. Eles tem algo que é irreal ao mesmo tempo que não é. Óbvio que não vai aparecer um monstro e arrancar nossa cabeça fora, e nenhum zumbi vai vir atrás dos nossos cérebros. Mas monstros existem, eles são reais. Aprendi isso da pior maneira possível, quando Neil e Billy se mudaram para nossa casa. Eu moro com dois monstros.

Susan - Max! - ela abre a porta - olha a hora. Não acredito que não está pronta - olho para meu relógio despertador que já marcavam 17:57.

Max - já estou indo - começo a pegar minhas coisas para o banho.

Susan - finalmente decidiu arrumar o quarto

Max - as caixas não vão voltar para a Califórnia então... - digo na intenção de fazê-la se sentir culpada por ter me tirado da minha vida, mas ela ignora meu comentário e sai do quarto.

Eu tomo meu banho e coloco qualquer roupa para sairmos. Não estou nem um pouco animada em sair com Billy e Neil. Mas a lanchonete é em frente ao fliperama então tudo o que eu tenho que fazer é suportar poucos minutos da companhia deles. Diferente de Billy, Neil elogia a cidade, diz que é mais segura que a Califórnia, o que é verdade. A cidade tem uma brisa gelada que Neil parece amar, já eu sinto falta do calor do sol e da brisa do mar. Fazemos nossos pedidos. Não peço muita coisa, quanto menos eu comer, menos tempo terei que passar com eles. Assim que termino, pego as moedas que Neil gentilmente me deu e vou rumo ao fliperama. Estava lá o melhor de Hawkins. Dig Dug. Meu nome ainda ocupava a primeira colocação, o que me deixou orgulhosa. Nenhuma criança de Hawkins é palho para Mad Max. Ou talvez nenhuma criança de Hawkins jogue Dig Dug. De qualquer forma, meu nome no topo era um motivo de orgulho. 

Lucas - por favor, me diz que você não é a Mad Max - ele se aproxima por trás me assustando. 

Max - Lucas! Que susto

Lucas - sabe quanto tempo eu passei tentando conquistar o primeiro lugar? Quatro meses!

Max - você é Sinclair002? - olho para o score dele - está quinhentos e oitenta e dois pontos atrás de mim - digo orgulhosa. 

Lucas - o que? - ele se aproxima da tela - isso é impossível. Quanto tempo passa aqui?

Max - a tarde toda, é literalmente só o que tenho para fazer 

Lucas - vamos fazer uma aposta. Uma partida mano a mano. Se eu ganhar vai ter que me pagar um hambúrguer - olho para a lanchonete a frente e torço para ele odiar o lanche de lá.

Max - e se eu ganhar?

Lucas - você escolhe. O que você quer?

Max - se eu ganhar vai ter que andar de skate comigo 

Lucas - mas eu não sei andar de skate 

Max - então se eu fosse você não me deixaria ganhar - digo com um ar desafiador. 

Lucas - fechado - nós apertamos a mão um do outro - eu começo.

Lucas coloca uma moeda na máquina e começa a jogar. Seu score chega a mil setecentos e quarenta e um. Tenho que admitir que ele é bom, mas consigo bater esse score de olhos fechados. Na minha vez de jogar conquisto mil novecentos e oitenta e cinco. 

Lucas - como fez isso? Você é muito boa - ele diz impressionado. 

Max - é, eu sei. Amanhã depois da escola 

Lucas - vai mesmo me fazer andar de skate? - ele parece estar com medo. 

Max - não se preocupa stalker, vai se sair bem 

Lucas - vou confiar em você 

Aproveito a sensação de me sentir bem aqui, já que é incrivelmente rara. É familiar para mim estar em um fliperama jogando Dig Dug, deve ser por isso que estou me sentindo como se estivesse em casa. 

Billy - Max! - ele grita do outro lado da sala, ainda me procurando. 

Max - tenho que ir. Te vejo amanhã stalker

Lucas - até amanhã Mad Max 

I See You - LumaxOnde histórias criam vida. Descubra agora