De mamãe

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Estava arrumando minhas roupas no armário da Jane. Coube tudo perfeitamente, até porque eu não levei muita coisa. O plano era ir para Califórnia e recomeçar com meu pai. Fico imaginando como está a vida dele agora, se ele pensa em mim tanto quanto eu penso nele. Se ele sente a minha falta. Lucas vem aqui todos os dias desde que me mudei a quatro dias atrás. Desde então não escuto noticias de Billy ou Neil. E nem da minha mãe. Jane e eu contamos tudo para o Hopper e ele disse que se Neil ou Billy me ameaçarem, ou ao menos chegarem perto de mim vão ser presos. Hoje Joyce, a namorada do Hopper, vai vir jantar aqui. Hopper disse que ela quer me conhecer. É até estranho ir tomar café da manhã sem um clima pesado, uma sensação de que as coisas podem piorar catastroficamente a qualquer segundo. É um clima calmo e agradável. Hopper e Jane se dão bem, contam piadas e não é difícil se acostumar com isso.

Lucas - pronto - ele diz assim que termina de me ajudar com minha parte do armário - acho que já guardamos tudo

Max - valeu pela ajuda, Lucas

Lucas - pode agradecer com um beijo - sorrio para ele. Ainda não me acostumei com o fato de estarmos saindo de verdade. De Lucas Sinclair ser meu namorado. Mas me sinto tão bem e de certa forma segura ao seu lado, nunca trocaria essa sensação por nada. Eu juntos nossos lábios brevemente.

Max - já sabe quando vai sair do castigo?

Lucas - minha mãe disse que até ela parar de achar caco de vidro pelo chão. Eu já limpei umas dez vezes, eu não sei de onde aparece mais - ele brinca - mas logo ela esquece isso, e vamos poder sair

Max - sinto falta de te detonar no arcade - eu provoco.

Lucas - espera só até eu sair do castigo, você vai sentir o gostinho da derrota

Max - e a Érica?

Lucas - minha mãe vai trocar ela de escola. Parecem que estavam pegando no pé dela lá

Max - é estranho pensar em alguém perturbando a Érica sem levar nenhum tipo de esporro

Lucas - pois é, ela se faz de durona mas ela sentia bastante tudo o que falavam pra ela. O importante é que ela vai ficar bem e que ela também ficou de castigo, assim eu não fico sozinho. Olha, Steve me pediu para não falar nada, mas ele foi na sua casa - fico preocupada no mesmo instante.

Max - o que ele foi fazer lá?

Lucas - pegar sua bolsa e as outras coisas que vai precisar pra escola

Max - não, Lucas. Eu não vou ficar aqui por muito tempo, não precisa trazer o meu quarto

Lucas - eu sabia que não ia gostar. Mas não pode voltar pra lá, pelo menos não ainda

Max - Billy e Neil no mesmo lugar. Steve levou segurança?

Lucas - ele levou a Robin, acho que isso conta

Max - não sei se a Robin vai ser de grade ajuda

Lucas - aposto mais nela do que no Steve - ele brinca.

Max - eu tô falando sério, Lucas

Lucas - desculpa. Mas vai ficar tudo bem, eles dão conta - ele segura meu rosto com as duas mãos e beija a minha testa. Ele me olhava com um olhar intenso.

Max - o que?

Lucas - você é... muito linda - ele acariciava meu rosto sem tirar seus olhos do meu.

Max - você sempre diz isso - sinto minhas bochechas queimarem.

Lucas - e você nunca acredita

Max - nunca gostei de me vestir igual as outras meninas. Na Califórnia os meninos me zoavam porque eu gostava de andar de skate e não de usar maquiagem. Eu sei que eu sou esquisita

Lucas - é exatamente tudo isso que te faz ser linda e incrível. Sabe quantas garotas andam de skate e quebram recordes em jogos irados no fliperama?

Max - acho que nenhuma - eu do risada.

Lucas - exatamente! Você dá de dez a zero nessas garotas. É muito mais interessante que qualquer uma delas - eu olho para meus pés. Era quase impossível manter contato visual com ele quando ele começa a falar essas coisas.

Steve - ruiva - ele arremessa a minha bolsa e eu agarro.

Lucas - foi tudo bem lá?

Steve - foi um pouco complicado, mas deu tudo certo e ninguém se machucou. Sua mãe me pediu pra te entregar isso - ele me da um envelope e sai do quarto.

Lucas - eu te espero na sala - ele beija a minha bochecha e me deixa sozinha no quarto com uma carta.

Max,
Sinto muito que tudo isso esteja acontecendo com você. Tudo que eu sempre quis foi que tivesse uma vida feliz e tranquila. Achei que se nos mudássemos e nos afastássemos do seu pai as coisas começariam a se encaminhar. Nunca imaginei que Billy, e muito menos Neil, fossem te machucar algum dia. Peço que entenda que eu o amo, e não posso deixa-lo. Quero que saiba que eu te amo também e não quero ficar longe de você. Mas no momento, a melhor decisão é se manter afastada. Billy vai para um reformatório, e eu vou convencer Neil a te perdoar. Quando estiver tudo bem você vai poder voltar para casa, e vamos finalmente poder recomeçar do jeito que queríamos desde o início. Por favor, mantenha contato. Quero saber se está bem. Te amo muito.

Mamãe.

Quando percebo, tem várias lágrimas escorrendo no meu rosto. Ela escolheu ele. Mesmo depois de tudo que aconteceu, ela escolheu ficar ao lado dele e ainda espera que eu volte. Como eu vou voltar e fingir que somos uma família? Não somos uma família. Nunca fomos. Ela sempre viveu essa ilusão de que um dia vamos ser felizes juntos, mas a verdade é que eles sufocam a todos. A mim, ao Billy, ao meu pai, e agora aos meus amigos. A todos que literalmente sangraram para me proteger. Eu cansei. Cansei de esperar as coisas ficarem bem.

Jane - Max, você prefere frango ou hambúrguer pra janta? - ela entra no quarto e eu limpo as lágrimas que escorriam.

Max - eu não estou com fome, pedem o que quiserem - tento disfarçar mas não funciona muito bem.

Jane - não chora - ela me abraça e eu desmorono em seus braços - eu tô aqui com você

Jane me acalma e assim que estou melhor vou até a sala onde estão todos reunidos e o que eu vejo faz tudo ficar melhor. Lucas e Steve jogavam videogame enquanto Robin caçoava o quanto os dois eram ruins. Hopper estava limpando a bagunça que o Mike fez, tentando preparar Waffles para Jane. O clima era de harmonia e amor, um clima que eu nunca havia sentido antes e finalmente posso sentir. Me sinto leve e em paz. E me dou conta de que a última coisa que eu quero nesse momento é voltar para casa com Neil. Mesmo se ele me pedir desculpas. Mesmo se estiver mesmo arrependido. Ele não me tirou só o direito de conviver com meu pai, ele me assustava, era exaustivo ter que ficar em alerta 24 horas por dia, sem saber quando ele estava de mal humor ou não.

Lucas - Max! Me dá uma força aqui - ele grita do sofá.

Steve - desiste amigão, nem todo milagre do mundo é capaz de superar o papai aqui - ele aponta para si mesmo orgulhoso.

Robin - ele se acha bom mesmo, né?

Mike - o Steve se chamou de papai?

Me sento ao lado do Lucas e revessávamos o controle. Steve era péssimo e Lucas pior ainda. Robin e eu acabamos com os dois em literalmente todas as vezes que jogamos. E estar junto dessas pessoas que eu sei que se importam comigo faz aquela carta fazer cada vez menos sentido.

I See You - LumaxOnde histórias criam vida. Descubra agora