6| Coração de um criminoso

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O TRAJETO LEVOU cerca de vinte minutos, Helena morava em um bairro consideravelmente tranquilo, com uma boa vizinhança, não era em uma área nobre, mas também não era marginalizada.

A casa em si parecia muito bem construída, possuía os pequenos tijolos aparentes e um muro branco baixo. A entrada se dava pelos lados, por meio de uma pequena rampa que levava a uma porta de madeira, enquanto a sua frente, revelava uma janela grande com a moldura em madeira tão escura quanto a porta.

Dorian ainda permaneceu alguns segundos relutante, olhando fixamente a casa e a movimentação de Helena através da janela. Seu coração começou a bater agitado e um certo tremor tomou conta do seu corpo. Por inúmeras vezes, quando estava preso, imaginou como seria encontrar suas irmãs novamente, nenhuma das possibilidades chegou perto do que realmente era aquele momento. Euforia se misturava com temor e lhe deixavam mais ansioso a cada minuto. Tinha que admitir que padecia de muitos sentimentos, mas aprendeu a guarda-los para si, a jamais demonstrar e, na verdade, até se sentia melhor em saber que as pessoas pensavam que ele não se importava, assim, não esperariam muito dele, tampouco seria obrigado a oferecer algo.

Mas sabia também o quanto aquilo o prejudicava, porque jamais entenderiam verdadeiramente o que ele sentia.

Foi arrancado de seus devaneios quando a porta do carro se abriu e Melina surgiu em seu campo de visão, o encarando com uma sobrancelha arqueada e apontando com a cabeça para a casa.

— Não queria vê-las?

Acenando positivamente com a cabeça, saiu do carro e começou a caminhar lentamente em direção a casa, quanto mais perto estava, mais seu coração batia acelerado e quando elevou a mão e tocou a campainha, sentiu que o corpo inteiro estava em torpor. Não demorou muito tempo para a porta ser aberta e os olhos verdes de Helena encontrarem os do irmão. Ela não havia mudado em nada, os cabelos escuros e ondulados estavam na altura dos ombros e o rosto angelical ainda transmitia a paz que Dorian sentia todas as vezes que a olhava.

Ela não disse uma palavra sequer, com os olhos marejados avançou na direção dele e o abraçou apertado. Permaneceram minutos ali, abraçados. Dorian geralmente se incomodaria com tanto contato, mas os braços de sua irmã sempre foram os seus preferidos, sempre foi onde encontrou refúgio, onde encontrou o amor que sua mãe nunca lhe ofereceu. Helena foi quem sempre cuidou dele.

— Como senti sua falta! – Balbuciou ela, finalmente se separando dele e o analisando – Ainda é o mesmo Dorian.

— Sim, ainda sou eu. Você também não mudou nada.

— Mal posso crer que realmente está aqui. Mas entre, preparei algumas coisas para você.

Antes de entrar, porém, Dorian se voltou para as agentes atrás de si e apontando para elas, comentou:

— Acho que se lembra das agentes Singh e Blanchard.

Helena piscou atordoadamente, por alguns segundos permaneceu as encarando, imaginando como Dorian convencera as duas agentes que o prenderam o levarem até sua casa. Ela nunca entendeu como ele conseguia ludibriar as pessoas e até deixou de tentar entender com o tempo, mas jamais pensou que ele pudesse persuadir até mesmo agentes federais. Dispersando os pensamentos, ela abriu um sorriso simpático e estendeu a mão as cumprimentando:

— Claro, claro! É um prazer revê-las... eu acho. Entrem, vamos entrando.

Ao adentrarem puderam reparar na organização de Helena, uma pequena rampa levava à sala principal, onde um sofá marrom descansava de frente para uma lareira, logo acima estava a televisão, ao lado direito da sala uma pequena mesa estava alocada perto de uma enorme janela, que dava a visão do amplo jardim dos fundos. Adiante, pelo corredor, notavam-se três portas, duas à esquerda e uma à direita, localizando os dois quartos e o banheiro respectivamente. Ao fim do mesmo corredor, se revelava a pequena cozinha trabalhada em cinza e branco, onde mais uma pequena mesa se localizava. Provavelmente usada para café da manhã.

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