19| Como nos velhos tempos - Parte 3

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NO DIA SEGUINTE, a primeira coisa que Melina fez foi dirigir diretamente para o galpão de Dorian. Na noite anterior, quando o deixara lá, ele rapidamente iniciou seu trabalho. Não sem deixar uma garrafa de café ao seu lado antes, ela até se prontificou a ficar ali e ajudá-lo, mas ele a dispensou, alegando que trabalharia melhor sozinho.

Eram oito da manhã quando ela adentrou o galpão, esperando encontrar Dorian tomando café ou talvez se levantando, mas estava tudo vazio. Soube que ele ainda estava ali apenas por causa do som que vinha de baixo. Não imaginava que ele começaria tão cedo.

Adentrou o elevador e desceu para a garagem, esperando encontrar qualquer coisa, menos aquela cena.

Toda a garagem estava tomada pelo pó branco que saía do grande bloco de gesso, Dorian estava de pé na escada, também coberto inteiramente pela poeira. Um rádio tocava um rock alto demais, mas parecia fazer Dorian trabalhar melhor. Mas não era aquilo que de fato chamara sua atenção. Na verdade, a imagem do próprio Dorian a surpreendeu, nunca imaginara que o veria daquela maneira, tão sério e concentrado no que fazia.

As marteladas no cinzel eram precisas e esculpiam perfeitamente o gesso, o respirador cobria metade do rosto e junto dos óculos de proteção não deixavam muito de sua feição à mostra. O que só colaborava para chamar a atenção para seu físico. A calça de moletom cinza moldava perfeitamente as pernas e pela primeira vez Melina reparou como Dorian tinha glúteos muito bem torneados. A regata branca estava grudada ao tronco por conta do suor que escorria e a molhava, e Melina não deixou de surpreender com um detalhe que antes ela nunca tinha visto em Dorian. Uma tatuagem. Se iniciava em seu ombro direito e descia até o braço, parando um pouco acima do cotovelo. Ela não saberia dizer exatamente seu formato, sequer tinha um, parecia mais um tribal, com desenhos que formavam aspirais em alguns pontos e retas em outros, parando para observar melhor, parecia até uma tatuagem maori.

Notou que estava observando demais quando viu até mesmo uma gota de suor escorrer e pingar de seu rosto. Tentou voltar a si, mas ficou sem fala novamente quando os olhos dele se voltaram para ela e pareceram muito mais penetrantes do que antes. O sorriso que ele abriu foi a única coisa capaz de fazê-la voltar a seus pensamentos.

— Há quanto tempo está aí? – Perguntou ele, descendo da escada.

— Hã? Ah... acabei de chegar, na verdade. Não imaginei que estaria de pé já tão cedo.

Dorian limpou a mão em uma toalha que havia ali perto e caminhando em direção à garrafa de café, deixou um rápido riso escapar.

— Eu sequer me deitei, para falar a verdade.

— Passou a noite toda esculpindo?

— Como Charles reduziu o tempo tive que me apressar, não posso dar chances para que ele desconfie que é falso.

— E acha que vai conseguir isso passando essas noites em claro? As chances de cometer algum deslize são bem maiores se estiver cansado.

Dorian encheu sua xícara de café e pegando outra a estendeu para Melina depois de enchê-la. Caminhou em direção ao rádio e o desligou, antes de se sentar em um banco ali perto e inspirar profundamente.

— Já fiz isso milhares de vezes, agente. No último trabalho grande que tive, dormi cerca de cinco horas em uma semana. Então três dias acordado não serão nada. – Erguendo a xícara, completou – A cafeína vai me ajudar.

— Tudo isso porque está com o orgulho ferido por Charles tê-lo subestimado.

— E fazer aquele filho da puta calar a boca e não tentar me manipular novamente. Quem ele pensa que é?

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