O JULGAMENTO não demorou muito para acontecer, aparentemente estavam com muita pressa de condená-lo. Linus, seu melhor amigo, quase surtara quando foi contatado para ser seu advogado, ele sabia muito bem de tudo que Dorian fazia, mas para o próprio bem da carreira, fingia não ver. O homem já o livrara de muitas enrascadas, mas daquela vez tinha que admitir que havia poucas chances de se livrar.
Enquanto aguardavam ansiosamente a decisão do juiz, Linus se mantinha inquieto, mexendo as mãos sem parar e constantemente limpando o suor da testa, parecia até mesmo que ele era o réu.
— Não vai adiantar muito você ficar nervoso. Eu já estou condenado. – Disse Dorian.
— Será que pode ter um pouquinho de fé?
— Eu já estou tendo um pouco de fé.
— Quantas vezes eu disse para tomar cuidado com o que faz? – Ralhou Linus, se aproximando e sussurrando apenas para que seu amigo ouvisse.
— Eu tomei cuidado, meu erro foi não olhar para os lados para atravessar a rua.
— Não foi isso que te condenou, Dorian.
Quando o juiz finalmente voltou para o salão, todos ficaram apreensivos, se levantaram para ouvir a sentença e Dorian pôde ver claramente a felicidade nos rostos dos agentes que ali estavam e do promotor quando foi condenado a dezoito anos. Se contentava de ser menos tempo do que lhe disseram quando foi levado à sala de interrogação.
Depois da sentença dada, o juiz se voltou para alguns papéis na mesa, analisando os documentos e aos poucos, algumas pessoas que estavam no salão começaram a sair, Dorian, no entanto, permaneceu estático, ainda de pé, encarando o nada, enquanto Linus mais uma vez limpava o suor que escorria pela pele negra. Até mesmo a cabeça raspada parecia transpirar.
— Sinto muito não poder mais te acompanhar nas noitadas, Linus. Se bem que você sempre roubava a atenção de todos mesmo.
— Ainda não acabou, podemos recorrer.
— Duvido muito que mudarão a sentença.
— Por favor, seja um pouco mais otimista.
Se voltando para o amigo, Dorian abriu um sorriso terno, teria o abraçado se as algemas permitissem, mas tudo o que pôde fazer foi se aproximar um pouco mais e dizer:
— Obrigado, Linus. De toda forma sou muito grato pelo esforço. Me desculpe, te decepcionar.
Tocando o ombro de Dorian, Linus também abriu um sorriso fraterno e com determinação brilhando nos olhos castanhos, respondeu:
— Irei continuar tentando, não se preocupe.
Depois de um último acenar de cabeça, Dorian sentiu um dos policiais ali presentes segurar seu cotovelo, claramente o levariam dali para a penitenciária. Teria ido sem resistência alguma, acompanhando os passos do policial e se retirando do salão, mas uma vozinha muito familiar lhe chamou a atenção e fez seu coração bater descompassadamente dentro do peito. Era tudo por ela. Dorian faria tudo por ela, até mesmo se livrar das mãos do policial e voltar correndo na direção da garota sentada na cadeira de rodas, atrás de uma pequena cerca que separava os envolvidos no julgamento das demais pessoas que iam assistir.
No entanto, ele sequer chegou perto da garota, foi detido por outros dois policiais, que o arrastaram novamente para o fundo do salão, enquanto era repreendido pelo juiz. Dorian sequer se importou se ia adicionar outra acusação sobre si, lutava contra os homens que o seguravam, ainda tentando escapar e se aproximar da menina. O desespero nos olhos dela o fazia se sentir furioso consigo mesmo e com aquelas pessoas que tentavam os separar.
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Carte Blanche - Carte Ás 1
De TodoSérie: Carte Ás Até onde vai sua moral? Dorian Delyon foi um dos criminosos mais procurados do país. Por anos foi escorregadio o suficiente para despistar qualquer um que estivesse atrás de si. Até se deparar com Melina Singh. Após cinco anos de um...