23| Uma vez criminoso... - Parte 2

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DORIAN SABIA que aquele seria seu último dia em casa, mas não imaginava que seria daquela forma, tampouco pensava que se arrependeria tanto de desejar que algo acontecesse.

Quando acordou teve a certeza de que havia se metido em uma encrenca muito grande, não conseguia ver onde estava exatamente, um saco preto em sua cabeça bloqueava qualquer tipo de visão. As mãos amarradas para trás e o incômodo que sentia nas pernas revelavam que o lugar onde estava sentado não era nada confortável, e ao que parecia o ambiente em que estava também não. O cheiro de podridão era a única coisa que transpassava por aquele saco preto e infelizmente chegava até suas narinas. Mas o que o assustava de fato era o silêncio que havia ao redor, exceto por uma goteira que caía insistentemente sobre uma poça. Concluiu que havia duas opções, ou estava em algum lugar subterrâneo que continha água, ou havia sido levado para um lugar onde havia chovido, nenhuma das duas opções era boa.

Estar em um lugar subterrâneo, provavelmente o esgoto, era nojento, e ser levado para um lugar onde havia chovido era pior ainda. Pois sabia que na cidade que morava não chovia a pelo menos uma semana. O que indicava que estava muito longe de casa.

Tentou arquitetar qualquer plano para sair dali, e teria que começar se soltando das amarras, porém o som de solados de calçados ecoando o fez paralisar e permanecer quieto, à espera do que viria.

— Oh, pelo amor dos meus ancestrais, isso não é forma de tratar nosso hóspede. Soltem ele, por favor. – Soou uma voz masculina rouca.

Em questão de segundos o saco foi tirado de sua cabeça, mas ao contrário do que esperava, não conseguiu ver com clareza quem estava ali, a luz foz do holofote dirigido diretamente na direção de Dorian o cegou momentaneamente e não pôde sequer ver quem era a pessoa que estava à sua frente. Só soube que estava enfim liberto das amarras quando sentiu suas mãos livres e uma mão cheia de calos o segurar pelos braços e pô-lo de pé.

Piscou demoradamente, tentando ajustar a visão ao ambiente e até mesmo colocou a mão na frente dos olhos para protegê-los, esperando a pessoa à sua frente se aproximar mais.

— Perdoe-me a forma brusca dos meus amigos, senhor Delyon, é que eles não sabem fazer um trabalho com delicadeza. – Soou aquela voz novamente – Como foi de viagem?

— Eu não faço ideia, estava apagado até poucos minutos. – Respondeu, e quando finalmente viu o homem franzino que o encarava, o analisou por inteiro.

Aquele homenzinho não deveria passar de 1,60 de altura, mas o que lhe faltava de tamanho, lhe sobrava de perversidade estampada em seus olhos. Para os menos experientes naquele ramo, poderia parecer um simpático homem em seus quarenta anos, os óculos lhe conferiam uma aparência culta, enquanto as vestes atípicas revelavam uma personalidade decidida.

A calça cor caqui certamente era produzida com o mais fino linho, a camisa também deveria ser do mesmo tecido, mas possuía um corte reto e alguns desenhos na gola, as mangas vinham até os pulsos, e o lenço ao redor do pescoço e estendido ao longo do tronco complementava as outras duas peças. Ele parecia inofensivo e até inocente, mas Dorian soube reconhecer o perigo por trás daqueles olhos castanhos.

— Parece assustado, senhor Delyon.

— E não deveria estar? Esperava que qualquer um tivesse me sequestrado e até tenho uma lista mental de quem poderia fazer isso, mas o senhor.... Nem mesmo o conheço. Quem é você?

— Ah, gosto de pessoas práticas, senhor Delyon. Ou posso chamá-lo de Dorian?

Diante da última frase, Dorian recuou um pouco, mas sentiu um dos seguranças daquele homem logo atrás de si, o impedindo de se mover. Nunca se sentiu ameaçado por desconhecidos, mas aquele homem... ele possuía algo estranho. Pouquíssimas pessoas sabiam o seu nome verdadeiro, sempre se apresentava com nomes falsos para seus serviços, isso quando aceitava um. E quando cometia crimes, tomava a precaução de sempre utilizar suas identidades falsas.

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