35| Bon vieux cher papa* - Parte 3

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NOS DIAS SEGUINTES ele aparentemente havia se recuperado do choque daquele dia, parecia mais disposto até mesmo em seguir no caso e constantemente propunha ideias para que pudessem resolver o problema rapidamente.

As movimentações estranhas haviam cessado e estranhamente as conexões que Lucien lhes dera se mostraram inconclusivas. Toda aquela inércia deixava todos na agência em alerta, a calmaria costumava ser mais perigosa que a tormenta.

No entanto, não poderiam basear suas vidas somente naquele trabalho e Melina sentia que precisava urgentemente de alguma distração. Resolveu aceitar o convite de um jantar de um médico que havia conhecido, e ansiosamente se preparava para encontrá-lo, ainda que estivesse receosa de ir. Por algum motivo, lhe parecia errado.

Se arrumava no espelho do quarto quando sua campainha tocou. Involuntariamente ela sorriu e correu para abrir a porta, esperando encontrar Henrique do outro lado, mas tudo o que encarou quando a abriu foi a silhueta alta de Dorian e seu sorriso debochado.

— Ah, é você. – Disse ela desmanchando o sorriso e não fazendo nenhuma questão de esconder o tom decepcionado – O que faz aqui?

— Vim visitar minha amiga. – Respondeu ele, entrando e olhando ao redor do apartamento.

— E eu por acaso sou sua amiga?

Dorian se voltou para ela e com o cenho franzido em uma expressão ofendida, colocou a mão no peito e perguntou:

— Não é? Achei que me prender e me beijar tinha alimentado o laço fraternal entre nós.

— Vai se ferrar, Delyon. – Respondeu ela, voltando pelo corredor para seu quarto.

— Odeio quando você usa meu sobrenome, ele sai estranhamente amargo de seus lábios bonitos e carnudos.

Melina resolveu ignorar mais aquela gracinha dele e continuou se arrumando no espelho. Aumentando o tom de voz, gritou do quarto:

— Ainda não disse o que veio fazer aqui.

— Talvez... eu disse talvez... eu tenha um contato nas docas que pode ter me passado algumas informações sobre mercadorias muito suspeitas que vieram num navio atracado hoje.

— E veio aqui só para isso? Poderia ter me ligado!

— Ah, eu preferia dar uma voltinha.

— Aliás você está há bem mais de cinco quilômetros da sua casa.

— Ah, mas com certeza estão me monitorando, essa coleira no meu pé diz sempre onde estou. – Ele continuava rondando pela sala, observando cada detalhe da decoração quando parou em frente a estante e encarou a ampulheta ali, franziu o cenho novamente e notando a presença de Melina atrás de si, se voltou para ela e disse – Por que você tem uma ampulheta? Pior ainda, por que ela está vazando areia?

Ela o encarou um pouco espantada. Era impossível Dorian não saber a função de uma ampulheta!

— É para isso que ela serve, não é? Marcar o tempo!

— Claro! Talvez no século oito!

Revirando os olhos ela rebateu:

— Desembucha logo o que esse seu contato disse, não quero que esteja aqui quando Henrique chegar.

— Quem é Henrique?

— Não enrola, Dorian!

— Está bem. – Ele se jogou no sofá e continuou – Meu... talvez contato, disse que hoje atracou um grande navio nas docas. Todas as mercadorias foram retiradas, menos uma enorme e velha caixa de madeira, o que eu suspeito serem obras de arte e quem sabe até títulos.

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