DOIS DIAS DEPOIS, quando Melina pôs os pés na agência soube que algo parecia diferente. Assim que saiu do elevador, conseguiu ver através da parede de vidro à frente uma certa agitação e até burburinhos entre os agentes que se encontravam em suas mesas. Até pensou em ignorar e seguir à direita do corredor, em direção à cozinha e ao banheiro, mas a curiosidade falou mais alto, atravessou a porta de vidro logo à frente e andou pelo meio do corredor, contornando as outras mesas e pousando a bolsa sobre sua própria mesa. Quando ergueu os olhos para a plataforma em que as escadas ao fundo levavam, soube o motivo de tanto burburinho, na sala de seu chefe se encontravam ele, sentado atrás de sua escrivaninha e logo à sua frente um homem estava sentado. Não pôde, no entanto, ver muito de sua aparência, salvo pelos cabelos curtos e escuros, já que ele estava de costas para ela.
Ficou tanto tempo concentrada, tentando imaginar o que estava acontecendo ali dentro, que mal reparou quando Maxine se aproximou e parou ao seu lado.
— Está atrasada de novo.
— Bom dia, Max. Estou muito bem e você? – ironizou.
— Estou ótima, porque cheguei no horário e nosso chefe não vai chamar minha atenção. – respondeu a loira, se sentando em sua mesa.
— Ele notou que eu me atrasei?
— Para sua sorte não, está naquela sala desde que chegou.
— Por falar nisso, quem é aquele com ele?
Se voltando com um sorriso cínico para Melina, Max virou um gole de café na boca antes de responder:
— Vá até lá e irá descobrir.
— E interromper a reunião? Acha que sou louca?
— Na verdade, eles estão lhe esperando. O chefe me pediu para avisá-la.
Melina estranhou aquilo, poucas vezes fora chamada em uma reunião. Pelo menos quando envolvia pessoas de fora do departamento. Sequer conseguia pensar em um motivo de ser chamada ali, e talvez estivesse desligada demais para lembrar, ultimamente a única coisa que ocupava seu pensamento era seu carro, que incrivelmente tinha ido para o segundo concerto dentro de um mês. Talvez estivesse um pouco paranoica, mas aquilo já estava ficando estranho demais até para ela.
Sem muitas opções, subiu lentamente a escada e bateu levemente na porta, esperando a voz de Alex autorizando sua entrada.
Assim que atravessou a porta se sentiu patética por ter esquecido que justamente naquele dia a agência contaria com mais uma pessoa.
— Ah, que bom que chegou, agente Singh, estávamos mesmo à sua espera. Creio que não precise de apresentações, não é mesmo? – Disse seu chefe, ainda sentado em sua poltrona, mas apontando para o homem à sua frente.
Lentamente ela pôde ver finalmente o rosto dele se virar em sua direção e aquele maldito sorriso cínico enfeitar sua face. Os olhos diferentes pareciam carregar certa empolgação e quando ele se levantou e estendeu a mão para ela, Melina notou que ele estava incrivelmente diferente de dois dias atrás, não sabia onde ele conseguira cortar o cabelo ou se barbear, mas aquilo colaborou para ele parecer mais confiante.
Ela não fez questão alguma de esboçar um sorriso, enquanto apertava a mão de Dorian em cumprimento, mas tratou de parecer o mais aberta possível quando se voltou para Alex e o cumprimentou:
— Bom dia, senhor. A agente Blanchard me disse que queria falar comigo.
— Sente-se, Singh – Assim que ela se acomodou ao lado de Dorian, Alex continuou – O senhor Delyon saiu da penitenciária hoje pela manhã e veio diretamente para cá. Estava conversando com ele acerca do caso e de suas obrigações, e ele já está ciente de que se der um passo para fora do que foi estabelecido ele voltará para a cadeia e o acordo será desfeito. No entanto, é preciso que alguém fique responsável por ele. Que tome conta da custódia dele.
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Carte Blanche - Carte Ás 1
AcakSérie: Carte Ás Até onde vai sua moral? Dorian Delyon foi um dos criminosos mais procurados do país. Por anos foi escorregadio o suficiente para despistar qualquer um que estivesse atrás de si. Até se deparar com Melina Singh. Após cinco anos de um...