17| Como lembranças - Parte 1

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A SEMANA se iniciou com Dorian se atrasando e consequentemente fazendo Melina se atrasar, ela não conseguia entender como ele poderia demorar tanto para se arrumar, demorava mais do que ela mesma. Isso porque os cabelos dele eram curtos e as roupas mais práticas. Embora o jeito que ele passava o terno exageradamente explicasse toda aquela situação.

Quando ela enfim estacionou em frente a agência, Dorian ainda parou por alguns segundos, observando um pipoqueiro trabalhar na calçada do outro lado da rua. Melina podia jurar que ele estava em um estado contemplativo e que algum tipo de memória passava por sua mente naquele instante. No entanto, não poderia permanecer ali por mais tempo, Alex, seu chefe, sem dúvida já havia notado a ausência dos dois, e ela não queria dar motivos para levar advertência.

— Delyon, nós não temos o dia todo. – Quando ele ainda permaneceu de costas para ela, sem a responder, tornou a chama-lo – Dorian, estou falando sério, vamos entrar logo.

— Vai na frente. – Respondeu ele, simplesmente atravessando a rua

— Espera aí, aonde está indo?

— Vou comprar pipoca. Logo eu subo, não se preocupe.

Melina queria esperar por Dorian e até mesmo admitia que o cheiro da pipoca a deixava salivando, mas tinha certeza de que se atrasasse mais um pouco Max ligaria perguntando onde estava, histericamente. Desse modo acabou respirando fundo e adentrando o grande prédio da agência, correndo em direção ao elevador, que já começava a se fechar.

Enquanto isso, Dorian aguardava ansiosamente sua vez chegar. A fila que havia se formado tinha pelo menos três pessoas à sua frente, dentre elas duas crianças que pediam tudo o que viam para seus pais. O pipoqueiro sem dúvida teria um bom lucro ali, ainda mais porque aquele senhor de cabelos brancos e baixinho parecia atender muito bem os pequenos. Talvez Dorian se sentisse um pouco infantil por estar tão ansioso, mas aquelas pipocas doces e coloridas expostas na vitrine o fizeram voltar pelo menos uns vinte e cinco anos no tempo, onde seu pai sempre saía com ele aos domingos e comprava um saco daquelas pipocas só para ele. Naquela época os dois não tinham problemas entre si, na verdade, Caíque era seu porto seguro. Era para o pai que Dorian sempre corria. Não saberia dizer quando foi que aquilo se perdeu e eles se distanciaram, mas de alguma forma, aquela simples comida o fazia se sentir mais próximo do homem que o criou.

O momento bom de lembranças foi interrompido por uma voz conhecida, mas que Dorian simplesmente odiava ouvir, admitia para si mesmo que torcia para que alguém já tivesse jogado aquele homenzinho nojento em algum rio.

— Dorian Delyon, quanto tempo! – Exclamou o baixinho ruivo, se aproximando por trás.

— Charles. – Desdenhou Dorian, sem esconder a expressão enojada quando se virou.

— Como anda? Da última vez que ouvi sobre você soube que tinha sido preso.

— E fui.

— É verdade o que corre por aí? Está trabalhando para 'os caras'.

As aspas que Charles fez com os dedos já era autoexplicativa por si só, mas ele ainda fez questão de apontar o dedo para o alto e sinalizar o prédio grande do outro lado da rua. Dorian acompanhou os gestos do homem sentindo que Charles o tomava como estúpido, não via necessidade nenhuma de desenhar quem eram 'os caras'. Com a voz banhada de tédio e desdém, ele respondeu:

— É.

Charles ainda soltou uma gargalhada, chamando a atenção de quem estava por perto, até mesmo limpou os olhos, fingindo secar uma lágrima que havia escorrido.

— Nossa, quanta humilhação! E você deixou que te escravizassem assim?

— Eu não fui escravizado.

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