Encontro com o passado - MADELL

Repertório de outro

POV Wendell
Desde que eu saíra da casa do Jorge eu estava completamente decidido. Tinha ido para a minha casa, tomado um banho demorado, me arrumado e parado em uma floricultura para comprar um buquê de girassóis.

Eu sabia que Maraisa ia ser pega de surpresa e ia rir da minha cara quando eu chegasse na porta dela com um buquê de flores. Ela não era tão romântica assim, muito menos eu.

Mas esse era o meu objetivo com tudo aquilo: pegar ela de surpresa e fazer ela rir, baixando a sua guarda. Eu conhecia a Maraisa suficientemente bem para saber que, mesmo se ela quisesse, ia resistir muito em me perdoar. Não que eu não merecesse.

Estacionei o carro na frente da casa dela, o coração acelerado, segurando as flores, como um adolescente que está prestes a ir se declarar para sua crush do colégio. Suspirei, quase rindo da situação que eu estava. Se eu contasse, quem me conhecia bem com certeza ia duvidar que aquela cena realmente aconteceu.

Mas ter a Maraisa na minha vida era exatamente sobre isso. Fazer eu tomar atitudes impensadas que eu jamais tomaria em relação a ninguém mais no mundo.

Toquei a campainha e, involuntariamente, tranquei a respiração, repassando na cabeça todo o discurso que eu passara as últimas horas ensaiando.

- Wendell? - uma voz conhecida, mas não a que eu esperava, abriu a porta da casa.

Bruno Marques, maquiador da Maraisa, estava parado, me encarando, visivelmente surpreso.

- Oi - falei, sem jeito, o buquê apoiado nos meus braços - eu queria falar com a... - minha voz tremeu, fazendo com que eu perdesse a linha de raciocínio.

Bruno sorriu, claramente se divertindo com a minha situação.

- A patroa não está. Saiu já tem horas. Estamos de folga nos próximos dois dias, voltei aqui só para pegar umas coisas que tinha esquecido e ela já tinha saído...

Mordi o lábio, desapontado. Eu não havia sequer cogitado a hipótese da Maraisa não estar em casa.

- Sabe onde ela foi? - perguntei, ansioso.

Bruno torceu o nariz, claramente pensando se deveria ou não me contar onde ela estava.

- Bruno - eu falei, quase implorando - eu sei que você é fiel a ela... Mas eu fiz merda. Você até já deve saber o que. Eu preciso tentar consertar isso - apontei com a cabeça o buquê de flores.

- A patroa vai achar breguíssimo - ele disse, sorrindo.

- Eu sei. Esse é o objetivo - completei, também abrindo um sorriso.

Bruno riu, dando de ombros.

- Se você falar que fui eu, eu nego até a morte. Mas ela e a Maiara estão no sítio do Guilherme. Está tendo um churrasco. É tudo que eu sei. Não falaram nada se voltariam para casa hoje ou ficariam por lá.

Dei um sorriso vitorioso, acertando um tapa de leve no ombro do Bruno com a minha mão livre.

- Você acaba de ganhar uma vaga como padrinho do nosso casamento! - soltei, virando de costas e correndo em direção ao carro.

- Vou cobrar! - escutei Bruno gritar, antes de fechar a porta da casa e eu largar o buquê no banco do passageiro, acelerando o carro rumo à saída do condomínio, a paisagem anoitecendo.

Dirigi pela estrada escura muito mais rápido do que deveria. O trajeto até a região, que deveria levar quase duas horas, foi feito em menos de uma hora e meia. Eu tamborilava os dedos na direção, ansioso, enquanto apertava o acelerador o máximo possível, dentro do razoável para não capotar o carro naquela estrada de chão.