No dia do seu casamento

643 126 86
                                    

- Maraisa... - Maiara cantarolou meu nome pela vigésima vez naquela manhã - você precisa ir...

- Que comida estragada você comeu, Maiara? - eu devolvi, me servindo de café - você realmente acha que existe um mundo no qual eu boto o pé naquele casamento?

Desde a hora que eu acordara, Maiara estava fazendo da minha vida um inferno, me perseguindo pela casa, insistindo na ideia de que eu deveria ir no casamento do Wendell, o que, por óbvio, era um absurdo.

- Você acha que eu vou entrar na igreja correndo, derrubando a decoração, fazendo barraco e rasgando o vestido de noiva da Luísa? - eu continuei, sentando na mesa. Ela, rapidamente, sentou no lugar do meu lado - você sabe que eu não sou esse tipo de pessoa, irmã... Se o Wendell não quer...

- Ele quer - Maiara me interrompeu - mas é que...

- Tá vendo? - eu interrompi ela, me servindo de iogurte - sempre tem um "mas". Eu estou cansada disso. Ou você me conta o motivo de você fazer tanta questão que eu vá assistir ao casamento do meu ex-noivo ou eu não saio de casa hoje.

Maiara franziu o cenho, jogando a cabeça para trás, visivelmente agitada.

- Já falei que eu não posso falar... Minha única missão na terra hoje é te levar linda, bela e formosa para esse casamento. E não me pressiona a falar mais, você sabe que eu sou boca de sacola e já já vou entregar tudo.

- Tô cansada de joguinho - dei de ombros, picando uma banana e colocando dentro do pote de iogurte - se o Wendell quiser que eu vá, vai ter que vir aqui me buscar.

Eu não tinha nem mais como esconder o quão confusa eu estava. Não que antes eu não estivesse, mas a entrevista com o Léo Dias havia desenterrado ainda mais dúvidas e medos.

Eu e o Wendell havíamos nos portado como casal por meia hora. E, claramente, tínhamos gostado. Pior: havia sido algo natural demais.

O que era para ser um teatro forçado, apenas para despistar o Léo Dias por mais algum tempo, tinha virado uma troca de juras de amor e declarações bonitas, que, da minha parte, eram completamente verdadeiras.

E o beijo... Sentir a boca dele depois de semanas longe tinha despertado em mim todo o desejo que eu me esforçava em reprimir. Era inegável: Wendell era minha criptonita. Não importasse o que acontecesse, com quem ele casasse.

E, para piorar, eu ainda carregava um pedaço dele na barriga.

Mas, de todas as minhas dúvidas, havia uma coisa que me incomodava mais do que todo o resto. Era visível que, depois do almoço na nossa casa, quando ele aparecera de surpresa e assumira a paternidade do nosso filho, Wendell tinha mudado completamente de comportamento. Do homem acuado e manipulado, ele parecia ter assumido, de repente, as rédeas da vida dele e tomado todas as decisões que deixara de tomar nos últimos meses.

Ou melhor, quase todas.

- Se ele vier te buscar, você vai? - Maiara me encarou, animada.

Eu revirei os olhos, levando a colher à boca e mastigando, despreocupada, meu café da manhã.

- Sério, Maiara. Você é insuportável.

- Se ele vier te buscar, você vai? - ela repetiu.

- Que merda vocês dois estão tramando?

- Sim ou não, Maraisa? - Maiara insistiu, fazendo com que eu suspirasse, derrotada, sabendo que eu não iria vencê-la nessa briga.

- Meu deus, tá bom! Eu vou!

Parecia insanidade, eu sei. Era no mínimo humilhante eu me submeter ao fato de ir como convidada no casamento do meu ex-noivo com a mulher que eu mais odiava no mundo. Mas a insistência da Maiara para que eu fosse e os acontecimentos das últimas semanas deixavam óbvio que algo de estranho ia acontecer.

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora