Quase um casal

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- Pela sua cara, você precisa de algo forte - o barman me olhou, sorrindo, enquanto eu permanecia encostada no balcão. Se minha memória não estava falhando, era o mesmo que havia me atendido meses antes, na noite em que eu havia reencontrado o Wendell.

"Quem dera eu pudesse tomar esse bar inteiro" - pensei, suspirando. Eu estava passando pelo maior dilema da minha vida e não podia colocar uma gota de álcool na boca. Se o inferno não parecesse com isso, eu não fazia ideia de como seria.

- Me vê um suco de laranja com gelo - respondi, sem emoção.

O barman fez cara de surpreso, mas acho que minha falta de ânimo fez com que ele ficasse em silêncio e apenas concordasse com a cabeça, antes de voltar para dentro da cozinha.

Minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer minuto. Tudo que eu mais queria naquele momento era apagar. Dormir e só acordar dali uma semana, com as ideias no lugar e as decisões que eu precisava tomar já feitas.

Se, por um lado, meu coração gritava de alívio, por outro, eu estava com raiva. Raiva em saber que, esse tempo todo, Wendell aceitara ser chantageado e levara essa história tão longe apenas para tentar consertar a cagada que ele havia feito lá no começo, ao não me contar que estava namorando a Luísa.

Por outro lado, eu tinha descarregado toda minha aflição naquele tapa bem dado. Eu nunca fora uma pessoa impulsiva e agressiva. Mas eu havia, conscientemente, decidido dar aquele tapa.

Por ela ter feito eu acreditar que não era amada, por ter feito eu cantar "bengala e crochê" enquanto assistia o homem que eu amava pedir outra em casamento, por apagar minhas mensagens para o Wendell, por contar ao Léo Dias sobre a minha gravidez, por me trazer de volta ao Rosewood.

No fim das contas, um tapa ainda tinha ficado barato.

Enquanto eu ainda encarava, desolada, todas aquelas garrafas de bebida em exposição, sem poder beber nenhuma, a cabeça perdida em pensamentos, senti uma mão encostar no meu ombro desnudo. Eu sorri, sem me virar. Não precisava. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ele me acharia ali.

- Você foi rápido - eu falei, enquanto ele sentava no banco alto do lado do meu.

- Algo me dizia que você estaria aqui, mesmo sem poder beber - Wendell sorriu, enquanto o barman colocava o copo de suco na minha frente.

- Nada mais justo terminarmos isso onde começamos - respondi, bebericando meu copo, tentando imaginar o gosto de uma dose forte de tequila, enquanto o sabor doce da laranja descia pela minha garganta.

- O senhor deseja algum drink? - o barman perguntou para o Wendell, que me encarou, pensativo, no instante seguinte.

- O mesmo que o da moça - ele apontou para mim e para o meu suco.

O barman, que com certeza não devia estar entendendo o que dois idiotas estavam fazendo em um bar bebendo suco de laranja, apenas assentiu, saindo novamente e nos deixando sozinhos no balcão, um silêncio pesado reinando entre nós.

Havia tanta coisa para ser dita, mas parecia que nenhum dos dois queria quebrar o silêncio.

- Começa do começo - eu disse, sem cerimônias.

Wendell suspirou, respirando fundo algumas vezes, antes de começar a falar.

- Eu cheguei a terminar com a Luísa quando ela voltou de viagem. Mas dias depois fui para Orlando e, chegando lá, ela estava no meu apartamento. Veio com o papo do casamento e de que estava grávida, dizendo que se eu não casasse com ela, ela contaria que você tinha sido minha amante e destruído nossa família, por ter feito eu abandoná-la grávida.

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora