Bengala e crochê

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Nas duas semanas seguintes, meus sentimentos em relação ao Wendell iam de zero a cem em um período de tempo relativamente curto. Havia manhãs que eu acordara e a primeira coisa que tinha feito era abrir o celular, na esperança de encontrar uma mensagem dele. Outras, eu simplesmente queria explodir aquele homem e esquecer tudo que havíamos vivido até ali.

Confesso que o primeiro sentimento predominava. Era impressionante como eu ficava, com frequência, perdida em pensamentos, tentando entender onde foi que nós havíamos errado. De novo.

Aquele encontro fortuito naquela sexta-feira no Rosewood havia sido como uma segunda chance. O destino me dizendo "vai lá, Maraisa. Faz dar certo dessa vez". E, novamente, parecia que havíamos nos perdido um do outro. Mas, dessa vez, muito mais rápido que há três anos atrás.

Wendell havia simplesmente desaparecido do mapa.  Desde que eu tentara telefonar aquele dia, depois de descobrir que ele havia aparecido com o buquê na fazenda do Guilherme, eu não tinha ligado de novo. Por puro orgulho. E ele também sequer havia me procurado.

Quanto mais dias se passavam, cada vez mais a vontade que ele me procurasse se transformava em raiva. Raiva por ele ter me enganado, me usado e, depois, ainda ter ficado ofendido porque transei com outro. Era, no mínimo, babaquice da parte dele.

- Acorda, cantora! - a voz do Bruno cortou meus devaneios - em que mundo você tá?

Balancei a cabeça, voltando à realidade. Estávamos no carro, em Goiânia, indo para um show nosso. Me remexi no banco, desconfortável, puxando a saia preta de couro justa para baixo.

- Não tinha uma coisinha mais confortável pra me vestir não, com menos fendas e amarrações? - resmunguei, mudando de assunto, virando o rosto em direção à janela e fingindo interesse no movimento da rua.

Bruno riu, revirando os olhos.

- Escolhi esse especialmente para hoje... Hoje você tem que causar...

Torci o nariz, voltando minha atenção para o meu maquiador.

- O que tem hoje? - perguntei, curiosa - algum patrocinador importante?

- Pera, você não sabe? - Bruno parecia chocado - ninguém te falou?

Fiz que não com a cabeça, intrigada. Ele abriu um sorriso travesso.

- Jorge e Mateus, Maraisa. Eles vão cantar logo depois de vocês. E você sabe que o empresário deles com certeza vai estar junto...

Encarei-o, surpresa, sem saber definir o que eu estava sentindo. Por um momento, queria pular do carro em movimento e sumir dali. Mas, logo em seguida, pensei que talvez fosse uma boa oportunidade para eu e Wendell finalmente nos confrontarmos e resolvermos aquilo de alguma forma.

- É a chance de vocês de se resolverem depois do rolo do buquê... Até agora não me perdoei pelo que eu fiz... Mas, em minha defesa, nem em sonho eu achei que você ia estar lá pendurada no Hugo...

- Amigo - eu interrompi, colocando a mão no seu ombro - não foi culpa sua. Já te falei.

Bruno suspirou, concordando com a cabeça, mas eu sabia que ele ainda se sentia culpado. Desde que eu contara com detalhes o flagra que Wendell havia dado em mim e no Hugo, Bruno se sentia responsável por ter contado para ele onde eu estava e causado, mesmo sem saber, toda a confusão.

Chegamos no local do show e eu desci do carro, em silêncio, apenas caminhando em direção ao camarim, com o Bruno apressando o passo do meu lado para conseguir me acompanhar. Eu havia decidido que ia fazer de tudo para não cruzar com o Wendell antes do show. Se fosse para vê-lo, que fosse no final, quando eu já tivesse cumprido meu compromisso de trabalho ali.

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora