A pergunta

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Acordei com o barulho de três batidas suaves na porta. Não soube dizer por quanto tempo eu dormi, mas com certeza foi por mais de uma hora.

Levantei da cama, esfregando os olhos, ainda tentando raciocinar o que eu estava fazendo ali. Só quando vi as pétalas de rosas do meu lado na cama e no chão foi que eu lembrei de tudo que acontecera naquela manhã e a verdade me atingiu como um caminhão desgovernado.

As batidas se repetiram, fazendo com que eu fosse até a porta e a abrisse. Como já era de se esperar, a figura do Bruno estava parada na minha frente, segurando sua maleta de maquiagem, franzindo o cenho ao enxergar a minha cara.

- Você tá inchada de tanto chorar - ele soltou, me seguindo para dentro do quarto logo depois de fechar a porta - eu sabia que você tava meio zoada aquela hora no eleva...

Ele parou de caminhar e ficou parado, de pé, encarando o quarto, enquanto eu sentava na cama, em silêncio, fingindo que as pétalas de rosas não estavam ali.

- Posso saber o motivo do seu quarto parecer uma suíte de motel com essas flores e bebidas? - ele disse, franzindo o cenho, largando a maleta de maquiagens em cima da bancada.

Não consegui segurar o riso, rolando os olhos.

- Sinceramente, só você para fazer eu rir enquanto minha maior preocupação é saber se eu sou corna ou não...

Bruno me encarou, a expressão de choque, levando as duas mãos à boca.

- Você, corna? Que diabos tá acontecendo?

Suspirei, torcendo o nariz. Esse era o último assunto que eu queria conversar naquele momento. Meu desejo era fingir que nada acontecera, gravar a cena da novela e voltar para casa chorar tudo que eu ainda tinha para botar para fora, sozinha, trancada no meu quarto.

- Wendell não veio para São Paulo... - comecei, a voz querendo embargar, mas fui interrompida pelo Bruno, ainda parado na minha frente.

- Pelo amor de deus, Maraisa, para de nóia! De onde tá saindo essa carência toda? - ele soltou, colocando as duas mãos na cintura, enquanto eu pegava meu celular de cima da cama e abria meu WhatsApp - o homem passou a semana com você, te mima que nem uma boneca de porcelana, só porquê ele provavelmente teve uma reunião em cima da hora você acha que é corna...

Estendi o celular na direção dele, em silêncio, fazendo com que parasse de falar no mesmo instante. Bruno pegou o aparelho e ficou encarando-o, a expressão séria, como se estivesse tentando absorver o que a imagem que enchia a tela significava.

- Essa daqui não é a...? - ele começou, sem conseguir esconder a expressão de choque.

Fiz que sim com a cabeça, me jogando para trás na cama, encarando o teto branco.

- Como... - Bruno continuou, sentando do meu lado, o comportamento antes debochado completamente substituído pela confusão e ar de incredibilidade.

- Recebi do Léo Dias assim que pousamos - respondi, sem tirar os olhos do teto.

Meu maquiador ficou alguns segundos em silêncio, parecendo que estava tentando processar tudo aquilo.

- Não é possível... Ele não iria...

- Por quê não? - perguntei, mordendo o lábio, me concentrando em segurar o choro - ele já fez isso antes... Só que antes a vítima não fui eu. Os papéis só se inverteram.

- Não viaja - Bruno devolveu - o Wendell é maluco por você. Perdidamente apaixonado. O fato de ele ter encontrado com ela não quer dizer o que você tá pensando... E existem várias mulheres loiras, altas e magras no mundo...

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora