Tchau falou

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De todas as pessoas no mundo que eu esperava encontrar naquele bar, a última era a Maraisa.

Foram quase três anos. Três anos sem se ver, apenas ouvindo falar dela por amigos em comum e pelas redes sociais. Mas era óbvio que, por mais que eu evitasse, eu sempre acabava sabendo das coisas a respeito dela. Esse é um dos malefícios em ser ex de alguém famoso.

De qualquer forma, famosa ou não, mesmo me esforçando, era impossível esquecer aquela mulher. Eu ainda duvidava que qualquer pessoa na face da terra que já tenha tido o prazer de conviver com a Maraisa tenha esquecido dela.

Maraisa é um furacão. Mas, ao mesmo tempo, calmaria. Mulher de sorriso fácil, mas sabe ser carrancuda quando quer. Decidida, forte, mas sempre com um toque de sensibilidade que só ela tem. Ela é aquela que tira o ar pesado de qualquer lugar, arranca o riso de qualquer um. A melhor companhia para tomar uma cerveja ouvindo música alta ou apenas para assistir um filme em silêncio. Para ir em um jantar chique ou simplesmente comer um cachorro quente na esquina. Dedicada, estudiosa, com um dom sem precedentes em mexer com as palavras, cheia de talento, conquistando todo mundo com a voz grave e ao mesmo tempo delicada e cheia de sentimento. Extrovertida, mas com um "quê" de mistério e teimosia, dona de uma concha só dela, que é seu refúgio de solidão.

Simples, direta, sem cerimônias, sem pudor.

Eu sempre afirmara sem dúvida alguma que, se qualquer pessoa me pedisse para descrever minha mulher ideal, era ela: Maraisa. Com suas qualidades e defeitos. Tanto que a ruína do nosso relacionamento, curiosamente, também era uma das maiores qualidades dela: o amor pelo trabalho.

Mas, depois da noite passada, eu tive a confirmação de que jamais tinha esquecido ela. Muito pelo contrário. Todo progresso que eu tivera nos últimos quase três anos tinha ido por água abaixo depois de um drink e uma garrafa de vinho.

"Deixa de ser infantil, Wendell. Não foi o álcool. Você sabia muito bem o que estava fazendo" - meu subconsciente me alertou.

Eu tinha plena ciência da caixa de pandora que tínhamos aberto e que eu ainda ia colher muitas consequências pelo que ocorrera na noite passada.

Mas eu estava longe de estar arrependido.

Afastei meus devaneios, bocejei e finalmente abri os olhos. Não levou um segundo para um misto de decepção invadir meu rosto.

O lugar ao meu lado na cama, apesar de estar com os lençóis revirados, estava vazio. Maraisa não estava mais lá.

Sentei na cama, irrequieto, quase acreditando que eu havia sonhado com tudo aquilo. "Óbvio que não" - pensei, sorrindo, olhando para o quarto luxuoso em volta de mim - "eu jamais pagaria uma suíte dessas".

Pulei da cama, juntando minha roupa íntima do chão. O quarto estava uma bagunça. Os travesseiros e lençóis no chão, a jacuzzi com resto de espuma e com água até a metade, várias toalhas jogadas próximas à porta da sacada.

Um sorriso de prazer invadiu meus lábios quando avistei a garrafa de vinho vazia, no chão, próxima à banheira.

Juntei a garrafa e me encostei no vidro fechado, encarando o movimento da rua. Havia congestionamento para todos os lados. Consultei o relógio. Já eram oito da manhã.

Caminhei até o banheiro, na intenção de tomar uma ducha antes de ir para o aeroporto e voltar para Goiânia, mas meus pensamentos ainda estavam longe. Eu era obrigado a admitir que estava um pouco decepcionado em não ver ela deitada do meu lado ao acordar...

Decepcionado sim, mas não surpreso. Era inocência minha pensar que Maraisa estaria deitada, esperando eu acordar, com um sorriso apaixonado. Não era o perfil dela. E, talvez por isso, ela mexesse tanto comigo ainda.

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora