Imagina

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- Não é justo - Maiara resmungou, pela milésima vez, batendo o pé, encostada no carro estacionado na frente do que eu iria entrar - eu queria saber o sexo do meu sobrinho!

- Mas M1, você também tem que fazer o seu ultrassom... Vai ser melhor eu te acompanhar e ficar com o seu resultado e o Bruno com o da Maraisa... - Paulinha repetiu, tentando acalmar a Maiara.

- Não me interessa - ela disse, de novo, enquanto Gustavo a ajudava a entrar no carro praticamente à força - Bruno, você vai me contar assim que pegar esse resultado! - a voz dela ficou abafada no instante em que a Paulinha fechou a porta, revirando os olhos.

- Você tá proibido de contar para a Maiara - ela apontou o dedo para o Bruno - se a Maiara souber o sexo, o mundo todo vai saber antes do chá revelação.

Eu e o Bruno rimos, enquanto Paulinha entrava no carro e acelerava em direção à clínica. Havíamos decidido ir em clínicas separadas, para não causar muito tumulto. Maiara, Gustavo e a Paulinha em uma e eu, Bruno e o Wendell em outra.

Quer dizer, naquele momento, só eu e o Bruno. Wendell, que na noite anterior havia jurado que chegaria no horário para ir até a clínica conosco fazer o exame, ainda não havia dado sinal de vida.

Já fazia duas semanas desde nossa decisão de reatar o relacionamento. Desde então, as coisas haviam corrido maravilhosamente bem. Wendell me acompanhara em todos os shows das semanas anteriores, apenas para ficar mais perto de mim e do bebê. Sua única preocupação da vida parecia me alimentar, me obrigar a beber água e perguntar a cada cinco minutos se eu estava bem, como se eu fosse um bibelô que quebraria a qualquer instante.

Mas, naquela manhã, ele simplesmente desaparecera. Wendell havia ido para São Paulo no dia anterior, mas jurara de pé junto que estaria de volta para o ultrassom cedo.

Eu, que já estava nervosa com o exame, tentava disfarçar meu incômodo e ansiedade a todo custo, mas, por óbvio, Bruno já tinha percebido minha angústia.

- Você já tentou ligar para ele? - meu maquiador perguntou, enquanto eu permanecia encostada no capô do carro, de braços cruzados, encarando a entrada da rua, na esperança de que o carro do Wendell aparecesse a qualquer minuto.

Concordei com a cabeça, antes de virar e fazer sinal para ele entrar no carro.

- Vamos. Se ele quiser, encontra a gente lá - falei, sem conseguir esconder o tom de irritação na voz.

Bruno ameaçou falar alguma coisa em resposta, mas desistiu, apenas me obedecendo e entrando no lado do motorista.

Ele dirigiu em silêncio e devagar pelas ruas movimentas de Goiânia até a clínica, enquanto eu encarava a tela do celular, irritada.

- Será que ele decidiu ficar em São Paulo e não me avisou? Ou perdeu o voo? Ou... - fiquei em silêncio por alguns segundos, encarando a rua - achou alguma coisa melhor para fazer do que vir para o exame comigo...

Bruno gargalhou, me olhando de canto de olho.

- Maraisa... Você está com ciúmes?

- Não! - rebati, de imediato - só... Não sei.

- Deixa de ser tola - meu maquiador rolou os olhos, baixando o vidro e tirando o ticket da máquina para entrar no estacionamento da clínica - você e esse bebê são a realização pessoal do Wendell. Você tinha que ver a cara de apaixonado que ele fez todas as vezes que te viu subir no palco semana passada...

Suspirei, concordando com a cabeça. Talvez Bruno estivesse certo. Mas os últimos meses haviam me deixado tão noiada e com um sentimento tão grande de insuficiência que qualquer mísero sinal de abandono já me consumia por dentro.

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora