- Tá virando hábito você aparecer na minha casa em horários estranhos, né? - Jorge disse, risonho, assim que atendeu a porta. Mas a expressão dele mudou, fechando no momento que enxergou minha situação, fazendo sinal para que eu entrasse, sem falar mais nada.
Já era quase meia noite. Eu havia dirigido do interior até ali, no automático, a raiva fazendo meu coração palpitar.
- Pelo jeito, deu merda - Jorge soltou, sentando no sofá da área externa da varanda, me alcançando uma dose de uísque - bebe.
Não pensei duas vezes antes de pegar a dose na mão e virar tudo em um gole só. Respirei fundo, me acalmando aos poucos, enquanto Jorge me encarava, em silêncio, apesar de a expressão dele não esconder a curiosidade que estava sentindo.
- Maraisa estava beijando o Hugo - soltei, após alguns minutos de silêncio, largando o copo na mesa - na hora que eu cheguei no sítio com uma porra de um buquê de flores. Assisti ela puxando ele pela mão e entrando em casa.
Jorge me olhou, sério, apesar de não parecer surpreso, sem emitir qualquer som.
- Nesse exato minuto devem estar se pegando - eu trinquei os dentes, a cena poluindo minha mente - aquele filho da puta...
- Wendell - Jorge me interrompeu - o que você esperava?
Encarei-o, confuso, sem saber o que responder.
- Mano, você enganou a Maraisa. Logo ela. Era óbvio que ela ia procurar a cama de outro e descontar a raiva que estava sentindo de você...
Mordi o lábio, tentando conter minha irritação.
- E por quê você não impediu que eu fosse até lá que nem um babaca, segurando um buquê de flores?
Jorge deu uma gargalhada, levantando e servindo mais uma dose de uísque para nós.
- Às vezes é bom quebrar a cara. Você tinha que tomar essa paulada para ver que ela não vai te esperar para sempre. Assim quem sabe você se liga e toma alguma atitude de verdade.
Bufei, irritado, aceitando a segunda dose que ele me ofereceu, antes de sentar de novo na minha frente.
- Vocês são dois cabeça dura, duas crianças birrentas - ele continuou, bebendo do seu copo - tudo que você fez hoje, desde o buquê até a crise de ciúmes, é a prova viva de que você é apaixonado por ela.
Fiz menção de retrucar, falar que eu não estava com ciúmes, mas eu não tinha nenhum argumento para contestar aquilo. Era evidente que, desde o começo, eu estava rendido. Ter assistido a Maraisa beijar outro homem havia me tirado do sério como nada antes havia tirado.
- E agora? - perguntei, bebericando o uísque, deixando a bebida descer queimando pela minha garganta.
Jorge deu uma gargalhada.
- Agora você vai se embriagar aqui comigo, enquanto assistimos algum jogo de basquete da NBA, pensando em como amanhã, de cabeça fria, você vai sentar e conversar com a Maraisa, como dois bons adultos fazem.
- Amanhã embarco cedo para Orlando - falei, lembrando da semana cheia de compromissos que eu teria lá.
- Tá bom, assim que você voltar de Orlando. Sem falta. Vai ser bom vocês passarem um tempo longe, esfriando a cabeça e colocando as ideias no lugar - ele levantou o copo na minha direção, como se fizesse um brinde - agora termina logo de virar essa dose.
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No segundo seguinte ao abrir meus olhos, senti uma fisgada na cabeça, a claridade me incomodando e impedindo que eu ficasse muito tempo de olho aberto. A ressaca já queria começar a mandar seus sinais, antes mesmo de eu processar tudo o que havia feito na noite anterior.
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Encontro com o passado - MADELL
FanficEncarei meu reflexo no espelho de corpo todo em uma das portas do armário, usando só a lingerie. Apesar dos meus seios, pernas e bunda chamarem atenção, tinha algo ali que saltava nos meus olhos. Uma marca que entregava a idiotice que eu havia feito...