Ligação de emergência

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- Tem certeza que não quer que eu fique? - Bruno perguntou, visivelmente preocupado, enquanto eu me aconchegava no sofá da sala, já usando um shorts e um top pretos de pijama.

Fiz que não com a cabeça, pela centésima vez.

- Estou melhor. Eu juro - abri um sorriso, enquanto mudava a TV de canal, procurando algo bom para assistir.

- Tem chá e remédios para o estômago no balcão da cozinha. Antes de dormir come alguma coisa, tá? A Maiara volta amanhã de manhã. E eu pertinho do meio dia, para nos arrumarmos e irmos para o show no Paraná. Combinado? Qualquer coisa você me liga...

- Bruno - eu interrompi, forçando um sorriso - eu estou bem. Já passou.

Ele torceu o nariz, visivelmente desconfiado, antes de beijar o topo da minha cabeça e se despedir.

- Se cuida. E come alguma coisa - ele repetiu, me lançando um olhar sério, antes de virar as costas e sair em direção à porta, fechando-a devagar ao passar.

Fiquei deitada no sofá por alguns segundos, tentando conter a ansiedade, consultando o meu celular a cada minuto. Faltavam dez minutos para que desse o horário combinado. E eu tinha certeza que ele chegaria em dez minutos. Uma das melhores qualidades dele era a pontualidade.

Eu sabia o que eu tinha que fazer. Eu não era nenhuma menina ingênua. Desde o começo dos enjoos alguns dias atrás e do meu eterno cansaço, eu sabia que podia estar grávida. E, por óbvio, a minha menstruação atrasada há quase uma semana acendera um alerta vermelho na minha cabeça.

Mas também era fato que eu estava no auge do stress e da ansiedade nos últimos dias. Eu tentava, de toda forma, afirmar para mim mesma que todos aqueles sintomas eram frutos dos problemas que tomaram conta de mim recentemente. Mas eu não podia mais conviver com aquela dúvida.

A campainha tocou, fazendo com que eu sorrisse, apesar do nervosismo. Consultei o relógio. De fato, ele nunca se atrasava.

Caminhei até a porta e, quando encarei o homem atrás dela, segurando uma sacola, abri um sorriso de alívio maior ainda. Era a única pessoa na face da terra que eu confiava, naquele momento, para fazer aquilo comigo.

- Você tá acabada - a voz rouca dele invadiu meus ouvidos, fazendo com que eu revirasse os olhos.

- Obrigada - devolvi, fazendo sinal para que ele entrasse.

Nos encaramos por alguns segundos, enquanto eu fechava a porta, antes dele me provocar de novo.

- Achei que você não precisasse mais de mim... Agora que você tem o Hugo para transar quando está a fim...

- Henrique - eu interrompi ele, segurando seu braço - deixa de ser idiota.

Ele riu, antes de me abraçar com força. Aquele abraço esquentou meu coração de mil formas inimagináveis, fazendo quase com que eu esquecesse o motivo dele estar ali.

Nos separamos, enquanto caminhávamos até a sala. Henrique sentou no sofá, largando a sacola em cima da mesa de centro, batendo com as duas mãos nas suas coxas, em claro sinal para que eu deitasse no colo dele. Apenas obedeci, me aconchegando, enquanto ele afagava meus cabelos.

- Você me manda mensagem depois de semanas sem falar comigo, pedindo para eu aparecer em meia hora. Depois pede para eu trazer um teste de gravidez. Acho que tá na hora de você me contar o que tá rolando.

Engoli em seco, antes de respirar fundo e passar os dez minutos seguintes contando para ele toda minha história com o Wendell no último mês, incluindo a Luísa e o pedido de casamento bizarro, além da minha suspeita de gravidez.

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora