No dia do seu casamento II

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Assim que o avião encostou no solo novamente, senti um calafrio enorme percorrer meu corpo todo. Estávamos em São Paulo.

A cada segundo que se passava, eu sentia cada vez mais que aquilo tinha sido um erro. Mesmo que, lá no fundo, eu tivesse a sensação de que algo - na verdade, tudo - não estava certo naquele casamento, ter visto o Wendell de terno, pronto para casar, me pegando em casa e me trazendo até ali, tinha embaralhado o resto do emocional que eu ainda achava que tinha.

"A noiva não é você, Maraisa" - repeti, mentalmente, uma dezena de vezes, antes que eu me iludisse mais uma vez.

Mas eu não iria desistir, não agora. O que quer que fosse acontecer, ou mesmo que não acontecesse nada, no final das contas, eu não daria o prazer para a Luísa de me ver desestabilizada com aquilo. Afinal, era exatamente o que ela queria.

Mas, pisar no Rosewood depois de tanto tempo, fez com que memórias fossem novamente despertadas. Assim que entramos no luxuoso hall, meu coração se apertou de várias formas possíveis.

Dali eu enxergava a porta que levava ao bar. O elevador onde eu e Wendell havíamos nos beijado pela primeira vez depois de três anos. O balcão da recepção onde eu entregara a garrafa de vinho para que ele pegasse no checkout.

Mas, dali, eu também enxergava a porta que levava até o salão onde seria o casamento. O quadro de giz escrito "Luísa e Wendell" e uma foto enorme breguíssima dos dois na praia, em um ensaio pré wedding, me entregava que o Rosewood não era mais o nosso lugar.

Senti meu estômago revirar, agora certa de que aquilo tinha sido uma idiotice. Eu não deveria estar ali.

Entramos no salão, maravilhosamente decorado, com centenas de vasos de flores e fios de luzes pendurados pelo teto. Várias cadeiras cobertas com tecido branco e flores rosas estavam distribuídas em fileiras. Entre elas, uma passarela de espelho que levava até o altar, onde o celebrante já estava a postos. Do lado do altar, um telão enorme se encontrava desligado.

Mais de uma centena de convidados já estavam ali, alguns sentados, outros de pé, conversando, todos animados. Eu estava distraída, fingindo interesse na conversa da Maiara com a esposa do Mateus, enquanto ele, Wendell e Jorge sussurravam algo entre eles, baixinho.

Parecia que, a cada segundo que passava, as minhas esperanças de que aquele casamento não fosse acontecer diminuíam. Como se, a cada instante, morresse um pedaço da fanfic que eu mesma criara na minha cabeça: de que o casamento já havia sido cancelado há meses e Wendell tinha me trazido para São Paulo, para o Rosewood, para dizer que me amava e ficaria comigo.

Mas enxergar o altar todo montado, a decoração, a foto na entrada, os convidados, tinha me deixado bem claro que não era aquilo. O casamento iria acontecer. No final das contas, provavelmente Wendell só tinha me trazido até ali pois era mais uma das exigências da Luísa para foder com a minha cabeça ainda mais.

E eu, idiota, havia concordado estar ali, de livre e espontânea vontade, achando que o Wendell apaixonado tinha preparado uma surpresa para mim.

Na tentativa de desviar o foco, assim que senti um nó se formar na minha garganta, observei, distraída, os convidados, encontrando vários rostos conhecidos no meio de vários outros estranhos. Mas teve um, específico, que fez com que eu travasse completamente.

O rosto familiar, que eu havia recebido poucos dias antes na minha casa, estava sentado próximo ao telão, conversando animadamente com uma mulher.

- Maiara - eu interrompi a conversa dela, cutucando-a - o que diabos o Léo Dias faz aqui?

Encontro com o passado - MADELLOnde histórias criam vida. Descubra agora