É horrível sentir ansiedade, principalmente quando não se tem nenhum conforto, nada que possa realmente me acalmar, e eu sei disso. Minha perna balançava freneticamente enquanto eu sentava do lado de fora do escritório do meu treinador.
-Não tenho certeza se há necessidade dessa medida, ela só estava tentando pegar a bola- consigo escutar a voz baixa do meu pai vindo da pequena sala- Acontece muito no futebol, não é?
Meu pai sempre me apoiou, apesar de não estar muito presente por seu excesso de trabalho. Ele batalhou bastante para sustentar a vida que temos hoje em LA.
-Se bem que precisamos analisar que as notas dela tem caído nesse último bimestre- escuto minha madrasta dizer- E ela tem aquela doença que.. como é mesmo? Deixa ela um pouco frenética...
Sério? O que ela tá fazendo ali? Ela nunca me apoiou em relação a literalmente nada, imagina o futebol. "Jogo para meninos" eu tinha que escutar toda vez que mencionava o esporte quando ela estava por perto.
Depois que minha mãe morreu, ela foi a única pessoa que meu pai conseguiu se apaixonar novamente. Eu sinceramente não entendia, mas tentei ao máximo me aproximar e gostar dela, ou pelo menos suportar sua presença.
Eu disse tentar, é bem diferente de conseguir. Até porque ela não facilitou nada para mim.
-Algumas garotas dizem que ela pode ter feito de propósito- o treinador diz, não tentando fazer com que eu não escute, pelo contrário...- Dizem que brasileiros são violentos, ela é brasileira não é?
Vamos lá, eu estava jogando tranquilamente quando fui roubar a bola de uma garota com uma rasteira e acabei acidentalmente acertando suas canelas e a jogando no chão. A babaca que já não gostava de mim, deu uns três giros no gramado e choramingou o mais falsamente possível.
Mas o grande problema era que essa babaca era a filha do treinador, que por algum motivo implicou comigo desde sempre. E essa foi a oportunidade perfeita para ela ir chorar pro papai dela e aprontar comigo mais uma vez.
Nunca me importei com o fato de me zoarem por se brasileira, não tenho vergonha das minhas origens e sinto mais é orgulho de dizer que meus dons de futebol vinham de lá. Mas usar isso como desculpa para me expulsar do time? Ah não!
-Olha aqui, meu querido- adentrei a sala, abrindo a porta de uma vez- Eu não tenho culpa se a sua filha tem medo de que eu roube os holofotes dela
-Como é?- o treinador olhava pra mim com uma cara nojenta
Meu pai se levanta da cadeira em que estava e toca em meu braço.
-Yelena..- ele diz tentando me acalmar, mas agora já era tarde
Empurrei sua mão para longe de mim.
-É isso mesmo, ela sabe que só está no time por ser sua filha e tem medo de que alguém que realmente tem talento chame mais atenção que ela- respondi sem hesitar
Minha madrasta se remexeu na cadeira desconfortavelmente me olhando com a mesma cara do treinador, murmurou algo que não pude ouvir mas elogio certamente não era.
-VOCÊ ESTÁ FORA DESSE TIME!- ele gritou para mim- BRASILEIRINHA ARROGANTE, EU SABIA QUE VOCÊ NÃO PRESTAVA.
-Eu tô sentindo até um alívio, acredita? Ver sua cara feia todo dia me dava uma ânsia menino...- falei com um sorrisinho de canto
-Já chega! Vamos embora.- meu pai me puxa pelo braço para fora daquele pesadelo.
Eu deveria me sentir triste por se expulsa do time, mas a raiva era demais para pensar sobre aquela burrada no momento.
-Você se comportou como uma selvagem!- minha madrasta tagarelava atrás de mim- Uma sem educação.
Olhei para o meu pai que ainda me arrastava em direção ao carro, ele não discordava dela, o que era normal, ele quase nunca discordava dela. Mas então por que ainda doía em mim?
___Chegando em casa fui para o meu quarto o mais rápido possível, coloquei meus fones no caminho de casa para não escutar nenhum sermão. Mas assim que ia fechando a porta, meu pai a empurrou de volta, a abrindo e mostrando um semblante preocupado.
-Posso?- ele aponta para a cama
-Eu tenho opção?- digo abrindo a porta e fazendo sinal para que ele possa entrar
O homem se senta na ponta da cama, de frente para mim, ele parecia procurar as palavras certas.
-Eu sei o quanto o futebol significa pra você, eu tenho um amigo que treina um time de garotas, elas só são um ano mais novas que você- ele diz calmamente- Ouvi dizer que elas precisam de mais uma no time
-E será que eles aceitam uma sem educação?- repeti aquelas palavras para enfatizar o quanto havia me machucado
-A Grace estava preocupada e assustada, ela não quis dizer...-
-Tenho certeza que não!- falei ironicamente- Ela nunca quer dizer nada do que diz.
Ele virou os olhos e abaixou a cabeça, tentando ter paciência comigo.
-Se você quiser, amanhã peço para Grace te levar para um teste nesse novo time, você poderia facilmente entrar lá- ele explica, mas tudo que envolve essa mulher me parece um plano ruim- Se não, apenas não vá, mas também fique sem jogar por conta de seu orgulho
Eu o encarei pensativa, isso valia a pena? Será se vou passar por tudo isso de novo?
-Não desperdice seu potencial, filha- ele complementa sério.
Eu só saberia se tentasse, afinal.
-Só... vê se diz pra "Grace", que olhar pro celular enquanto dirige não é legal!- respondi, levantando e indo em direção ao banheiro- E NEM PRO ESPELHO TAMBÉM- gritei de dentro do banheiro
Novo time, lá vou eu.
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NA:•O que acharam do primeiro capítulo? O segundo já vai envolver uns nomes conhecidos...
•Se tiver gostado, por favor deixa uma estrelinha e seu comentário que motiva bastante a autora<3
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Brazilian Player- Mikey
Teen FictionYelena sempre foi apaixonada por futebol, seu pai é brasileiro, então desde pequena já sabia tudo sobre o esporte. A garotinha jogava desde seus 6 anos no mesmo time com suas colegas de escola, mas após ser expulsa por uma pequena confusão, mudará p...