Rescue Us

Capítulo 16

Flash Back On

A sensação de estar em casa era de alívio e felicidade. Grace já andava pela casa e formulava frases simples, chegando em seus dois anos de idade. Apesar de falar com ela em todas as vezes que me foi permitido falar por vídeo chamada com ela nesse tempo em que estive longe, ali, de perto, eu me sentia um estranho. Ela se esforçava para pronunciar a palavra "papai", enquanto "mamãe" já soava natural. O jeito como ela procurava a mãe para pedir comida, ou permissão para fazer alguma coisa, ou até ajuda para conseguir algo, me doía o coração ao ver que eu não era seu parâmetro para responsável. E eu não podia julgar ninguém, afinal, aquele pequeno ser só me vira poucas vezes através da tela de um aparelho, mesmo que ela fosse a coisa mais importante da minha vida, ela mal me conhecia.

Enquanto isso, Brianna parecia estar perdendo o brilho de felicidade que vi em seus olhos quando cheguei há uma semana atrás. Eu tentava me aproximar, mas a cada dia que se passava ela parecia mais distante, então eu estava decidido a deixar que o tempo resolvesse esse problema, afinal ela tinha passado quase dois anos sozinha com sua rotina, não era difícil de entender que ela estranhasse a minha presença de volta em sua vida.

Eu pensava sobre isso enquanto ao mesmo tempo sentia meu coração quentinho por ter Grace deitada no berço diante de mim, fechando os olhinhos lentamente até pegar no sono, enquanto eu a ninava levemente. Sorri para sua figura tranquila e perfeita e fechei o mosqueteiro, saindo do quarto depois de ligar a babá eletrônica, deixando a porta encostada.

No primeiro andar, Brianna ajeitava algumas coisas na cozinha, vestindo um pijama qualquer com os cabelos presos em um coque desgrenhado. Ela tinha mais olheiras e linhas de expressão do que eu me lembrava, mas ainda permanecia perfeita, linda.

-Pode deixar isso aí, eu arrumo aqui, vai descansar um pouco. - comentei, me aproximando dela, que suspirou, sentando no banco da cozinha.

Eu cheguei por trás dela e toquei seus ombros, fazendo uma massagem que eu sabia que ela amava, relaxando suas costas.

-Eu não sei o que está acontecendo... - ela falou baixo, como se falasse mais consigo mesmo do que comigo.

-Do que está falando? - perguntei.

-De você. - ela levantou rápido, se afastando, me olhando com os olhos marejados, me fazendo franzir o cenho. -Eu passei quase dois anos contando os dias para você voltar... pra eu não estar mais sozinha... pra Grace ter um pai presente e uma família normal... mas... - ela espremeu os lábios, deixando algumas lágrimas caírem enquanto eu ainda a olhava confuso, sem entender. - Você voltou e eu pensei, juro que eu pensei, que tudo ficaria igual era antes, que ia ser tudo perfeito... - ela fungou, balançando a cabeça e encolhendo os ombros. - Mas eu olho pra você e só consigo pensar no quanto foi difícil encarar tudo isso sozinha. Eu queria tanto, mais tanto, fingir que nada aconteceu... - ela secou o rosto, respirando fundo. - Mas eu não consigo.

-Meu amor, eu sei... - tentei me aproximar, na tentativa de acalmá-la.

-Não! - ela elevou um pouco mais a voz, empurrando minhas mãos pra longe dela, me fazendo dar dois passos para trás. -Você não sabe! - ela voltou a chorar, parecia estar desabafando tudo o que tinha mantido preso dentro de si durante esses últimos dois anos. - Eu tive depressão pós parto... passei dois meses com medo de tentar matar minha própria filha!! - ela voltou a chorar, jogando uma informação que eu não sabia, o que me fez arregalar os olhos.

-Porque não me contou isso? - perguntei, confuso e atordoado.

-Porque você estava em uma guerra! Vendo pessoas morrerem, matando e sendo alvo... eu... - ela suspirou, contraindo o rosto ao tentar evitar as lágrimas que insistiam em cair. - Eu não queria que você achasse que eu estava colocando nossa filha em risco... -ela fungou, olhando para baixo. -Eu sei que você não teve escolha... -ela voltou a se acalmar. -Você não escolheu ir, mas eu também não escolhi tudo isso. E eu não consigo fingir que não passei tudo isso sozinha... -ela secou o rosto e saiu, subindo as escadas rápido, me deixando com meus próprios pensamentos.