Capítulo 1

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O ANJO VEDIDO
Adrian Bertolini / Luna Garcia

Luna

Ela está morta.

     Não está dormindo, nem desmaiada, ela está morta bem na minha frente.

     Sangue escorrendo de suas têmporas, a boca pálida semiaberta, os olhos arregalados em horror sem brilhos e secos. Seu corpo em uma posição desconfortável e dolorosa, mas ela não sente mais dor, não é?

     Adeline está morta.

     Flashs dela de joelhos, implorando por sua vida, enquanto engasgava com o choro e sangue, soluçando até quase não poder respirar. A bala explodindo na lateral de sua cabeça... Meu Deus. Nunca mais vou me esquecer disso.

     Eu olho pra poça vermelha a poucos metros de mim, enquanto o mundo ao meu redor fica borrado. Eu nem sou capaz de dizer quanto tempo tudo isso durou. Meu coração bate tão forte que quase consigo o escutar, minha garganta seca se fechando e dificultando minha respiração.

     Eu serei a próxima, sei que sim.

     – Ela até que durou muito – Alguém disse e não olhei pra ver quem foi.

     – Cadê a filha dos Garcia? –  o mais velho perguntou.

     Parei de respirar.

     Não, não, não... Por favor. Não.

     – A loirinha ali – o capanga sentado na escada de dois degraus apontou para mim com a arma.

     – Puta merda. A desgraçada é bonita – Senti o mais velho se aproximar – Puxou a gostosa da mãe dela.

     Varias risadas ecoaram no grande salão, eu estava paralisada, provavelmente, em choque. Meus olhos não paravam de cair sobre o corpo frio de Adeline.

     E ele percebeu.

     Olhou para onde eu estava olhando, para o corpo da garota e redirecionou seu olhar a mim. Seus lábios se curvando em um sorriso asqueroso.

     – Não se preocupe, querida. Vamos fazer muito pior com você.

     Me desesperei, o som travado em minha garganta saiu, soluços desesperados romperam por ela.

     Ele se aproximou mais e agachou a minha frente. Levou sua mão ao meu rosto, apetando os dois lados da minha bochecha com força. Seus olhos saltando para meus lábios.

     – Shhh. Quietinha. Não gosto de bichinhos barulhentos. Eles me irritam – ele sorriu – E sabe o que eu faço com coisas que me irritam?

     As ameaças só serviram pra me deixar ainda mais apavorada, eu estava em pânico. Ele iria me matar, eu sabia que iria.

      Então um tapa forte atingiu meu rosto, ou talvez, fosse um soco. Meu corpo sendo direcionado ao chão com força o suficiente pra me fazer sessar os soluços, porque agora eu estava zonza. Em algum lugar, eu ouvia sua voz distante, apesar de saber que ele estava bem acima de mim.

     – Vamos, querida. Não me irrite. Não viu o que aconteceu com sua amiguinha?

     Tentei focar minha visão, mas era difícil. Senti algo húmido pingar de meu queixo, levei devagar a mão ou meu rosto.

     Sangue.

     Escorria de meu nariz, e agora se espalhava por meu pescoço.

     Com a visão turva e enxergando o que acredito ser uma arma pendurada pelo seu punho. Agora sei que o que me atingiu foi uma coronhada.

O anjo vendidoOnde histórias criam vida. Descubra agora