Capítulo 3

1.2K 95 41
                                    



Luna

Dizem que mesmo de olhos fechados, nosso corpo sente que estamos sendo observados. Eu nunca tinha pesquisado sobre a veracidade desse fato antes, mas acordei com essa exata sensação.

A luz do luar na janela me dizia que ainda era madrugada, não era nem mesmo amanhecer. As estrelas ainda brilhavam intensamente atrás das poucas nuvens. Então um vento soprou, e me fez sentir um cheiro familiar.

O perfume do Deus do Olimpo.

Como?

Me sentei passando os olhos por todo quarto, os pêlos de meu corpo se eriçaram. Por que eu estava sentindo o cheiro dele? A porta nem mesmo estava aberta.

Tentei me deitar novamente, mas um brilho dourado reluziu quando abaixei minha cabeça. Era pequeno e estava na poltrona ao lado de minha cama. Me levantei, e puxei o objeto. Um colar com um pingente de crucifixo durado deslizou em minha mão.

Tinha o cheiro dele.

Observei o assento afundado onde encontrei o colar, somei dois mais dois.

Ares esteve aqui.

Involuntariamente minha respiração se intensificou, senti um frio percorrer minha espinha. Medo e dúvida me invadiram. Sei que ele não me tocou, eu não estava medicada, eu sentiria algo.

Mas eu senti algo, não é? Me senti observada, disso eu sabia.

Coloquei o colar em meu pescoço, escondi em baixo da blusa e pulei em minha cama no mesmo momento em que me senti tonta. Era pra eu ter dificuldades a voltar a dormir, era o normal de acontecer. Não sabia a intenção daquele homem em meu quarto, não sabia a intenção dele em minha vida, neste lugar. Não sabia de nada.

Que Dios me ayude.

Mas a sensação fria do objeto em meu corpo, a sessão de algo circulando o meu pescoço me acalmou. Eu sentia falta de meu próprio colar, o que eu nunca mais teria de volta, e ter algo parecido em meu corpo, me deu a sensação de casa.

(...)

Acordei de um pesadelo no mesmo instante que alguém bateu a minha porta. Me sentei ainda meio desorientada, organizando meus cabelos bagunçados. Murmurei um "entre" insegura, temia que fosse meu visitante da noite anterior.

Observei a porta se abrir devagar e a metade do corpo de um homem alto e bonito me contemplou. Não era ele, mas tinham muitas características parecidas.

– Oh, me desculpe! Te acordei? – neguei mesmo quase sendo obvio demais. – Posso entrar? – lhe dei outro aceno de cabeça, o vendo se aproximar. – Como se sente?

Atingida por um manto de coisas ruins.

– Estou bem!

– Será que posso me sentar pra gente conversar? – apontou pra bendita poltrona.

E se ontem foi ele quem esteve aqui e não o outro indivíduo? Qualquer pessoa que estiver nessa casa poderia ter acesso ao meu quarto. Pode ter sido qualquer um, não é? Mas o cheiro...

– Já que não respondeu, vou me sentar assim mesmo.

– Me desculpe, acho que ainda estou sonolenta – menti.

– Posso voltar mais tarde se preferir, quando estiver mais descansada.

Por que ele estava sendo gentil? Ele estava aqui pra me interrogar, certo? Como o outro fez. Era aquela tática de policial bom e mau dos filmes?

O anjo vendidoOnde histórias criam vida. Descubra agora