Capítulo 17

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Luna

     É essa a sensação de calmaria que dizem que experimentamos antes do caos? Porque se for, não estou preparada o suficiente.

     – No que você está pensando?

     Adrian me abraçou por trás, cheirando meus cabelos enquanto eu observava da janela do quarto o balançar que o vento fazia na copa das arvores, a luz forte da lua cheia e pouco movimento dos guardas no pátio.

     Ele estava sem blusa, seu corpo quente cobriu o meu me aconchegando de uma maneira que planejei morar ali, em seus braços, protegida até de mim mesma.

     – Em minha casa.

     – Está sentindo falta? – Assenti.

     – Estou longe a muito tempo.

     – Hm – Murmurou.

     – Se estivéssemos agora na sacada de meu quarto, estaríamos olhando para o jardim, onde as flores que a mamãe amava, estaria exalando o perfume a esta época do ano. A lua clareando o espelho d'água da fonte de entrada, que meus pais mandaram construir quando eu tinha 10 anos. Parecia maior quando era pequena e eu costumava correr a sua volta, de braços abertos fingindo ser uma borboleta e nos dias quentes eu me banhava nela. Era minha parte preferida do jardim, papai a batizou como a minha "fonte da felicidade". Ela tem uns 3 metros de altura e no topo o desenho de meia lua, e nos pés da fonte uma frase, "Mientras haya vida, hay esperanza".

     – "Enquanto houver vida, há esperança".

Ele tinha melhorado bastante com o espanhol, sempre tirávamos um tempinho no final da noite para que pudéssemos ensinar um pouco a língua um do outro. Dessa forma, ninguém se sentiria excluído quando falávamos entre nós. Marcela também estava o ensinando uma coisa ou outra, assim como Andreas tbm me ajudava.

     – Sim – Respondi – Uma bela ironia, agora que todos morreram.

     – Você está viva, princesa.

     – Por quanto tempo?

     – Por muitos anos. O único a morrer aqui, será Bryan, te prometo.

     Me virei de frente a ele.

     Sinto falta de ser feliz, de apreciar a paz e calma dos lugares. Não quero mais a angustia do silêncio, quero voltar a gostar do barulho da natureza, apreciar minha própria companhia, sem sentir que meu peito vai se rachar.

     – Nunca chamei outro lugar de lar, morei lá minha vida toda e agora tenho medo de pra onde terei que ir, se isso tudo acabar. Não consigo voltar para lá, mas também não sei pra onde ir.

     – Quando acabar – Me corrigiu e eu suspirei – E você não precisa ir a lugar algum, pode só... ficar aqui.

     Eu sabia que não poderia. Não sei o que estava acontecendo entre nós dois, mas isso não me dava o direito de mudar para cá definitivamente. O que aconteceria quando ele decidisse que isso deveria parar? Caso ele conheça uma outra pessoa e queira construir algo com ela?

     Meu estômago se revirou com as possibilidades, ofeguei e me afastei levemente.

     – Eu sou apenas um problema temporário, você não vai me querer aqui pra sempre.

     – E se eu q... – Adrian parou, tomando fôlego – De qualquer forma, você não precisa pensar nisso agora.

     Exceto, que eu precisava sim.

O anjo vendidoOnde histórias criam vida. Descubra agora